Desde que surgiu com Toy Story, espera-se muito de um filme da Pixar. Os estúdios conseguiram quebrar a barreira de preconceito que o ocidente tinha de animações apenas para o público infantil com tramas envolventes e roteiros em camadas que atraiam diversas faixas etárias. Aos poucos, a expectativa e a quantidade de obras foi deixando uma sensação de obras mais mornas, sem tanta unanimidade nem mesmo grande bilheterias.
Elementos
Desde que surgiu com Toy Story, espera-se muito de um filme da Pixar. Os estúdios conseguiram quebrar a barreira de preconceito que o ocidente tinha de animações apenas para o público infantil com tramas envolventes e roteiros em camadas que atraiam diversas faixas etárias. Aos poucos, a expectativa e a quantidade de obras foi deixando uma sensação de obras mais mornas, sem tanta unanimidade nem mesmo grande bilheterias.
Elementos chega aos cinemas com alguma pressão. Pior bilheteria desde O Bom Dinossauro, que por coincidência é dirigido pelo mesmo Peter Sohn, e uma concorrência grande. Mas, ironicamente, traz um frescor que há muito não se via nas obras do estúdio. A começar pelo gênero. É a primeira comédia romântica da Pixar, com todos os clichês do gênero, mas criativamente transformados.
Não é a primeira vez que a Pixar fala de amor, é verdade, inclusive um dos casais mais icônicos dos estúdios tem um curta-metragem que antecede o longa, sendo uma bela narrativa sobre o medo da superação do luto. Mas a trama principal ser um garoto e uma garota que se conhece e não podem ficar juntos porque são de mundos diferentes e, contra todas as probabilidades, se apaixonam, é inédito.
O mundo dos elementos se torna uma bela metáfora de nosso mundo dividido entre raças e oportunidades. Na cidade na qual a água é o elemento principal. O vento e a terra são coadjuvantes bem-vindos, mas o fogo é persona non grata. Afinal, água apaga fogo e fogo evapora água. Então, Gota, um garoto da água e Faísca uma garota do fogo, não poderiam conviver bem. Mas, claro, vão se apaixonar e quebrar barreiras entre os mundos.
É interessante a maneira como os elementos do fogo se organizam em um bairro periférico à cidade simbolizando muitos imigrantes que são colocados em escanteio em grandes cidades nas quais vão para tentar uma vida melhor. No caso do roteiro, o filme é inspirado na vida do próprio diretor descendente de coreanos que migraram para os Estados Unidos. Mas pode ser comparado com quaisquer outros como nordestinos em São Paulo, por exemplo, para fazermos o link com o Brasil. Mesmo com talento e esforço, o preconceito os deixa de fora como personas non gratas ali.
É de alguma maneira também uma atualização do conto de Cinderela, já que Gota é o principe encantado que trará a oportunidade de Faísca sair daquela situação desconfortável, mesmo que não seja exatamente um salvador clássico. Isso é que torna o roteiro de Elementos o mais interessante. Ele utiliza os clichês, subvertendo-os e quebrando os estereótipos junto com os preconceitos. A garota não precisa exatamente de um garoto para salvá-la, mas seu suporte é importante já que está em uma situação privilegiada. E, no final, a relação pai e filha tem um peso tão forte quanto o do casal.
A direção é criativa e dosa bem momentos de emoção com alegria equilibrando a comédia romântica como manda o manual. É divertido ver o funcionamento daquela cidade de elementos e a interação entre eles, inclusive o que um causa no outro. As cenas de Faísca na cidade ganham adrenalina, sendo tensas e engraçadas ao mesmo tempo. Destaque para a cena debaixo d´água.
A estética da animação traz traços do cartoon, mas tem também elementos realistas que sempre impressionam aos olhos. Em especial nas paisagens. Água é um elemento que a computação gráfica já conseguiu reproduzir com perfeição e o filme abusa desse atributo para nos encantar visualmente. Seja com o oceano, o trem passando pelo rio que gera uma cachoeira ou debaixo dela. São detalhes que vão nos envolvendo e agradando.
Elementos tem potencial para se tornar um dos grandes filmes da Pixar. Marca seu lugar na filmografia dos estúdios com algo novo dentro do conjunto de obras. É bem feito e consegue nos emocionar em momentos chaves. É um filme que nos conecta a eles em diversas camadas, nos fazendo refletir sobre nossa própria realidade. Fala de excluídos, fala de amor, fala de vida. Que os estúdios possam retornar aos tempos áureos que os tornaram referência de cinema.
Elementos (Estados Unidos, 2023)
Direção: Peter Sohn
Roteiro: Brenda Hsueh, John Hoberg
Duração: 101 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Elementos
2023-06-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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