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Grandes Cenas: Tubarão

Tubarão - filme

A cena que vamos detalhar, do filme Tubarão (1975), é um dos momentos mais emblemáticos do filme dirigido por Steven Spielberg. Nessa sequência, Spielberg domina a arte de criar tensão e suspense, à medida que o tubarão se aproxima lentamente do barco, enquanto a trilha sonora marcante intensifica a adrenalina dos espectadores. Vale destacar o uso de efeitos especiais práticos, como a criação de um tubarão mecânico. Isso permitiu que Spielberg criasse momentos de tensão visualmente impactantes, mas também exigiu cuidado com a montagem. Afinal, qualquer mínimo detalhe mecânico visível do animal, iria descortinar a magia e expor a farsa. Agora, vamos mergulhar mais fundo e explorar cada aspecto e detalhe dessa cena.

Tubarão - filme
A cena começa apresentando o barco dos protagonistas em meio a um mar aparentemente tranquilo. Cada vez mais o barco se distancia e essa visão vai criando um senso de isolamento e vulnerabilidade, enfatizando a pequenez da embarcação em relação à vastidão e imprevisibilidade do ambiente marinho. No próximo plano, o personagem Quint está no alto do mastro, observando a vastidão do mar. O olhar do espectador para ele, em contra-plongée, o coloca em silhueta e situa sua posição no barco. A instabilidade do mar, o personagem na sombra, o céu instavelmente nublado. A tensão está cada vez mais palpável aqui. Na próxima tomada, agora em plongée, Quint está em primeiro plano, e Hooper, em segundo plano, joga paciência no convés. Esse plano mostra o quanto, diante dos outros navegantes, Quint tem relevância aqui. Ele é o mais experiente. O plano ressalta ainda mais a pequenez dos navegantes diante do que se aproxima, mas principalmente a pequenez do xerife Brody (Roy Scheider) e Hooper.

Tubarão - filme
É quando Quint pede que Brody atire mais restos de peixes no mar para atrair o tubarão. Vemos um plano fechado do balde cheio de restos de peixe. Enojado e distraído, o xerife joga os peixes sobre a borda do barco, enquanto Quint desce do mastro e pede que o oceanógrafo Hooper (Richard Dreyfuss) pare de jogar cartas e se coloque a postos, no timão. Brody ainda resmunga, em plano fechado, enquanto joga os peixes. Em primeiríssimo plano, o xerife fala entre dentes, com um cigarro no canto da boca, enquanto olha para Hooper. Ele não vê o tubarão chegar e quase lhe arrancar a mão em uma tomada muito rápida que revela o animal em detalhes pela primeira vez para os três personagens.

Spielberg, então, traz a trilha sonora, composta por John Williams, como um elemento crucial para elevar a tensão da cena. Brody, em primeiro plano, olha assustado, não só pelo perigo que correu, mas também pelo tamanho ameaçador do animal, que desaparece na água novamente, rápido como surgiu. Brody se distancia da borda do barco, de costas, sem perder de vista o mar que esconde a criatura, ainda em primeiro plano. Ao fundo da cena, sem perceber a ameaça, Hopper recolhe suas cartas.

Tubarão - filme
Na próxima tomada, o pescador Quint (Robert Shaw) está sentado em primeiríssimo plano quando Brody entra, de costas, ainda aterrorizado. Ele se vira para Quint e diz uma frase que virou clássica: “Você vai precisar de um barco maior”. Quint se levanta rapidamente e, agora em plano americano, vai ao convés, olhando para o mar, buscando a criatura. Ele se aproxima da câmera, aumentando a sensação de tensão pulsante da cena. O enquadramento contrasta a tensão de Quint e Brody com a tranquilidade de Hooper que, de costas, permanece alheio ao que acontece. É quando Quint vê o dorso da criatura emergir e avisa a Hooper que desligue o motor. Agora Hopper se vira e percebe o perigo. A criatura se aproxima, imensa, crescendo em tela junto com a trilha sonora, que cresce e entra em sua parte mais tensa. À medida que a sequência se desenrola, a música começa a crescer gradualmente, com notas sinistras e pulsantes que amplificam a sensação de perigo iminente.

Tubarão - filme
Spielberg então utiliza uma série de planos e cortes rápidos para aumentar a tensão e a sensação de perigo iminente. Ele alterna entre planos dos personagens e da água, criando um jogo visual que mantém o público em constante estado de alerta enquanto o animal circula pela embarcação. Os adversários estão se estudando. Os três personagens calculam visualmente o tamanho do bicho. Por meio de closes nos rostos tensos dos personagens, como Brody, Quint e Hooper, o espectador é levado diretamente para a experiência emocional dos protagonistas. A combinação dos movimentos da câmera, os cortes rápidos e a trilha sonora cria uma sinergia perfeita, intensificando o suspense e a adrenalina do público.

Tubarão - filme
Brody e Hooper correm pelo convés, assustados e simulam um caos a bordo. Quint é o único que parece saber o que fazer e vai direto a sua maleta com cordas e arpões. Aparentemente, vai tentar capturar o bicho. A interação entre os personagens e o ambiente é fundamental nessa sequência. Cada ação é coreografada de maneira precisa, aumentando o realismo e o impacto emocional da cena. Brody e Hopper acompanham o animal circulando também o barco. Eles vão por fora, andando com cuidado em um pequeno vão de madeira. Essa cena, em plano detalhe, mostra os seus pés andando nesse espaço estreito. Enquanto vemos Brody escorregar e quase cair, Hopper pisa com firmeza e os dois seguem. Isso denota a falta de experiência do xerife com o mar, em contraste com o oceanógrafo, que está fascinado pelo animal. Enquanto isso, o experiente pescador Quint monta sua arma, encaixa seu arpão e usa o rádio, avisando de forma soberba e displicente que estavam em uma caçada. Mal sabia ele que não seria um dia comum de pescaria.

Tubarão - filme
No convés, Brody e Hooper parecem descoordenados, sem saber o que fazer direito. Enquanto Hopper quer tirar uma foto da criatura, Brody discute com ele, perdido na situação. Vemos tudo isso em um plano geral do barco, que agora balança muito, junto com a câmera, aumentando a sensação de perigo e instabilidade do momento. A trilha ganha contornos épicos, demonstrando que os humanos agora estão no comando e tudo parece ter passado apenas de um susto. Até o céu se abriu e, na tomada em que vemos pela janela Hooper caminhando, aparece um sol tímido. Essa tomada então, parece enfatizar que, por mais que os homens a bordo pareçam no controle, ainda há algo à espreita, vigiando suas atitudes.

Hooper pega um localizador, que vemos em detalhes em um plano bem fechado. Enquanto Brody se abriga e Quint grita pela sua vontade em não deixar a criatura escapar. Os ângulos de câmera são escolhidos cuidadosamente para destacar a ação, como personagens em primeiro plano e enquadramentos amplos que mostram o tubarão circundando o barco. A movimentação da câmera também se torna mais instável, acompanhando a agitação do momento, criando uma sensação de urgência.

Tubarão - filme
Enquanto Hooper amarra o localizador nos barris, há um plano de Quint mirando o tubarão que é magistral. O balanço do barco, o pescador ameaçador em primeiro plano e o tubarão em segundo plano, se aproximando, ficando cada vez maior em tela. Perceba a presença de Quint no canto direito da tela, ele é o mais importante ali, mas o tubarão vem, crescendo, indo para direita, ganhando importância, e a qualquer momento pode se transformar no perigo que realmente representa. Tanto que na próxima tomada em que Quint está nessa mesma posição, ele está fora de foco. O tubarão agora está focado. O barco balança, tudo é muito instável, um pequeno deslize e a caça pode virar caçador.

Tubarão - filme
Quint acerta seu tiro e o arpão se fixa no tubarão, que nada para esquerda da cena. Perdendo importância, fugindo, a ameaça se tornando presa. Não vemos mais a criatura, agora estamos acompanhando um barril flutuando, sendo puxado através do mar. A trilha sonora permanece épica, com tons de aventura, enquanto Quint e Hooper parecem dominar a cena. O xerife Brody é apenas um espectador privilegiado do momento. Em um plano geral, vemos o barril flutuando e o barco em segundo plano, distante agora, no encalço do bicho. Mais um pouco e o barril afunda, guardando o mistério e o suspense para as cenas que vem a seguir.

Essa cena é um exemplo brilhante do talento de Spielberg em manipular as emoções dos espectadores, evocando medo, adrenalina e suspense. É um testemunho de sua maestria na direção e sua capacidade de contar histórias visualmente. Em um momento-chave, o tubarão emerge das profundezas do oceano, revelando ser uma ameaça iminente. Em outro, os personagens tomam a rédea do momento e o predador vira presa. Tudo isso em pouco mais de 5 minutos. Tubarão continua uma referência cinematográfica por sua habilidade de criar tensão duradoura e pela forma como moldou o gênero do suspense, combinando elementos cinematográficos como trilha sonora, edição, fotografia, atuações e ações coreografadas. Uma experiência cinematográfica intensa e emocionante.

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