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Ilya Naishuller
Anônimo
Anônimo
Anônimo, dirigido por Ilya Naishuller e escrito por Derek Kolstad, é uma obra-prima singular no cenário contemporâneo do cinema de ação. Numa trama que inicialmente parece seguir a fórmula já estabelecida de filmes de brucutu dos anos 80, assim como John Wick e O Protetor, o longa surpreende ao mergulhar em camadas mais profundas da psique humana, desafiando as expectativas.
O filme parece ter absorvido as reflexões existenciais de Beleza Americana e as embalou na estética frenética de John Wick. A trama se desenrola quando a vida monótona de Hutch Mansell é interrompida por um assalto em sua casa, desencadeando uma série de eventos que o levarão a confrontar seu passado sombrio. O filme nos desafia ao oferecer não apenas sequências de ação empolgantes, mas também momentos de introspecção, explorando as motivações e as consequências da violência.
O filme é estrelado por Bob Odenkirk, conhecido por seu papel icônico em Breaking Bad e Better Call Saul. Sua performance vai além do estereótipo do herói invulnerável, apresentando um protagonista complexo, Hutch Mansell. Odenkirk encarna brilhantemente a dualidade de um homem comum que, quando provocado, revela habilidades letais. Sua idade é representada fisicamente, conferindo uma autenticidade única ao personagem, que não é apenas habilidoso, mas também sente o peso dos anos.
A direção de Ilya Naishuller, cujo trabalho anterior inclui Hardcore: Missão Extrema, demonstra uma maturidade cinematográfica notável. Ele evita emular seu filme anterior, optando por uma abordagem que equilibra a violência gráfica com momentos de reflexão. A escolha de Naishuller de não se ater a um estilo pré-determinado destaca sua versatilidade como cineasta.
O destaque é mesmo a desconstrução do herói invulnerável. Hutch Mansell não é retratado como um superagente imune às dores físicas e emocionais. Sua vulnerabilidade torna-o mais humano, estabelecendo uma conexão mais profunda com o público. A introdução de personagens coadjuvantes, como o enigmático seu "irmão", interpretado por RZA, ou seu "pai", interpretado por Christopher Lloyd, amplia e muito o universo do filme.
A cinematografia de Anônimo é um espetáculo visual. A direção de fotografia capta de maneira brilhante a dualidade entre a vida mundana de Hutch e a escuridão de seu passado. A escolha de cores e os ângulos de câmera criam uma atmosfera única, complementando a narrativa de forma magistral.
Um dos momentos marcantes do filme ocorre em uma cena de confronto no ônibus, onde Hutch demonstra suas habilidades em uma sequência espetacularmente coreografada. Essa cena condensa a essência do personagem e estabelece o tom para as intensas sequências de ação que se seguem.
A trilha sonora pulsante acentua a experiência, transportando o público para o turbilhão emocional de Hutch. A escolha de músicas é tão estratégica quanto as coreografias de luta, contribuindo para a imersão na narrativa.
Anônimo não se contenta em ser apenas um filme de ação; é uma experiência cinematográfica imersiva. Tanto para os amantes de ação quanto para aqueles que buscam uma narrativa provocativa, o filme proporciona uma jornada emocional única. Um exemplo de como o cinema contemporâneo pode oferecer uma síntese magistral de entretenimento e reflexão.
Anônimo (Nobody, 2021 / EUA)
Direção: Ilya Naishuller
Roteiro: Derek Kolstad
Com: Bob Odenkirk, Aleksey Serebryakov, Connie Nielsen, Christopher Lloyd
Duração: 92 min.

Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Anônimo
2024-02-14T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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