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Excalibur - A Espada do Poder
Excalibur - A Espada do Poder
Excalibur – A Espada do Poder (1981) é um filme que se destaca como uma das adaptações mais autênticas e eficazes da lenda arturiana. Dirigido por John Boorman, o filme é um verdadeiro épico que captura a magia e a tragédia da clássica história de Sir Thomas Malory, "Le Morte d'Arthur". Boorman, um visionário cujo amor pela fantasia e mitologia brilha em cada quadro, planejou originalmente um filme sobre Merlin, mas o destino o levou a adaptar toda a saga arturiana, resultando em uma obra que combina elementos dramáticos de uma ópera com uma atmosfera quase onírica.
A trama de Excalibur acompanha a trajetória de Arthur, interpretado por Nigel Terry, desde seu nascimento como filho bastardo do rei Uther Pendragon (Gabriel Byrne) até sua ascensão à realeza e formação da Távola Redonda. Merlin, interpretado com intensidade e mistério por Nicol Williamson, desempenha um papel essencial, guiando e manipulando acontecimentos com uma aura de mistério e poder. A primeira parte do filme foca nas intrigas de Uther e sua aliança com Merlin, culminando na icônica cena da espada em pedra que marca o início da jornada de Arthur.
Boorman constrói um mundo que transcende o tempo e o espaço, criando um cenário onde os elementos de fantasia estão profundamente enraizados na realidade medieval. A escolha de filmar na Irlanda promove uma paisagem exuberante e misteriosa que é o cenário perfeito para a história. A cinematografia de Alex Thomson é excelente, utilizando cores vivas e desfoques que conferem ao filme uma qualidade quase etérea, como se estivéssemos assistindo a um sonho ou pesadelo.
As performances de Excalibur são uma mistura de altos e baixos. Nicol Williamson e Helen Mirren, como Morgana Le Fey, apresentam atuações memoráveis e marcantes. Williamson traz complexidade ao papel de Merlin, equilibrando estranheza e sabedoria com um toque de malevolência. Mirren, por outro lado, retrata Morgana com uma tristeza que a torna uma das personagens mais interessantes do filme. Nigel Terry, convincente como o rei problemático, não captura totalmente a aura heróica de Arthur. Nicholas Clay como Lancelot e Cherie Lunghi como Guinevere carecem da química necessária para administrar o romance trágico que está no centro da lenda. E ainda tem Liam Neeson em um de seus primeiros trabalhos no cinema.
O roteiro, escrito por Boorman e Rospo Pallenberg, entrega a longa saga de Malory com clareza e economia, mas carece de ambição. A história cobre muitos eventos, desde a ascensão de Arthur até sua obsessão pelo Graal e a queda final de Camelot. Esse escopo, embora impressionante, resulta em uma trama que às vezes parece apressada, com alguns personagens e subtramas não recebendo o que merecem. Por exemplo, a relação entre Lancelot e Guinevere é tratada de forma superficial, deixando muito a desejar em termos de profundidade emocional.
Mas Excalibur é mais do que a soma de suas partes. Composta por Trevor Jones, a trilha sonora, que inclui músicas de Richard Wagner e Carl Orff, como “O Fortuna” de Carmina Burana, eleva a experiência cinematográfica a um nível quase transcendental. A música não apenas complementa como reforça a emoção e grandiosidade das cenas, levando-nos ao centro das batalhas e intrigas de Arthur.
Um dos momentos mais marcantes do filme é a batalha final entre Arthur e seu filho ilegítimo Mordred. Esta justaposição, impregnada de simbolismo e tragédia, é o culminar visual e emocional daquilo que Boorman foi construindo ao longo do filme. O uso da cor – ouro de Mordred, prata de Arthur e vermelho sangue – cria uma paleta visual poderosa que enfatiza a inevitabilidade da tragédia.
Apesar de possuir algumas falhas, Excalibur se destaca como uma obra emocionante e envolvente que captura a natureza épica e trágica da lenda arturiana. Boorman pretende impressionar com som e imagem e, embora a ambição do enredo crie lacunas narrativas, a experiência visual e auditiva é inegavelmente poderosa. A produção é datada, principalmente quando comparada a obras mais recentes em termos de qualidade de imagem e efeitos especiais, mas o roteiro sólido e a direção visionária de Boorman superam essas limitações.
Curiosamente, Excalibur nasceu de uma reestruturação do projeto Merlin, e Boorman até escreveu um roteiro para O Senhor dos Anéis. A influência de Tolkien é evidente, especialmente na forma como Boorman mistura fantasia com realismo para criar um mundo que é ao mesmo tempo familiar e estranho. Esta visão é magistralmente concretizada em Excalibur, que continua a ser uma das adaptações mais autênticas e envolventes da lenda arturiana.
Concluindo, Excalibur é um filme que merece ser visto e respeitado, não só pela fidelidade à lenda arturiana, mas também pela capacidade de guiar o espectador através da magia, da tragédia e do heroísmo. É uma obra que, apesar das suas deficiências, consegue captar a imaginação e o coração, oferecendo uma experiência cinematográfica rica e inesquecível.
Excalibur - A Espada do Poder (Excalibur, 1981 / EUA, Reino Unido)
Direção: John Boorman
Roteiro: Rospo Pallenberg, John Boorman
Com: Nigel Terry, Helen Mirren, Nicholas Clay, Cherie Lunghi, Paul Geoffrey, Nicol Williamson, Corin Redgrave, Robert Addie, Liam Neeson, Gabriel Byrne
Duração: 140 min.
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Excalibur - A Espada do Poder
2024-08-21T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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