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O Casamento de Romeu e Julieta

O Casamento de Romeu e Julieta - filme

Rever O Casamento de Romeu e Julieta é encarar um Brasil em que o estádio e o sofá de casa são extensões da identidade. Bruno Barreto mira nesse país emocional e tenta traduzir a rivalidade entre Palmeiras e Corinthians em uma comédia romântica. O que funciona melhor é justamente quando o filme escuta o cotidiano: o torcedor que se trai pelo brilho no olho, o pai que confunde amor com controle, o casal que precisa reescrever regras dentro de casa para não transformar o relacionamento em um clássico de domingo.

A trama se move com um truque simples e eficaz: Romeu, corinthiano, apaixona-se por Julieta, palmeirense, e decide esconder sua torcida para agradar ao futuro sogro, Baragatti. O roteiro, assinado por Jandira Martini, Marcos Caruso e Mário Prata, explora os atritos dessa mentira que cresce a cada visita de família e a cada jogo no calendário, inclusive quando o sogro carrega o genro para compromissos futebolísticos que acendem o alarme interno do personagem.

O Casamento de Romeu e Julieta - filme
Como comédia romântica, o filme encontra bons momentos quando acolhe o timing dos atores. Marco Ricca parece à vontade como Romeu, especialmente quando a câmera acompanha o desconforto de estar no meio da torcida rival e é na contenção que ele arranca risos. Luana Piovani sustenta Julieta com leveza, embora falte fôlego quando o texto cobra densidade emocional. O desequilíbrio fica evidente porque Luís Gustavo domina o espaço dramático: seu Baragatti é exagerado, às vezes quase caricatura, mas com energia que vira motor das sequências familiares. E é curioso notar como a avó Nenzica, de Berta Zemel, alterna entre o carisma da torcedora raiz e um peso que a narrativa nem sempre encaixa a favor do riso.

O Casamento de Romeu e Julieta - filme
Há uma passagem que, para mim, condensa o melhor do filme: o jantar com o ex‑jogador Imparato, vivido por Renato Consorte. A direção encontra o ritmo certo para fazer a cena respirar, o elenco joga junto, e a comédia nasce da observação de comportamento, não do grito. É quando a obra parece entender que o riso vem da verdade miúda dessas dinâmicas familiares. No lado formal, porém, há escolhas que emperram. A fotografia escurecida nas cenas de interior pesa mais do que deveria num projeto que deveria ser leve, a montagem recorre a soluções que soam datadas, e o filme flerta com o merchandising de maneira pouco sutil, o que salta aos olhos no terceiro ato. São decisões que afastam o tom de farsa e aproximam o filme de uma seriedade que não combina com a premissa. Quando o texto pede o absurdo para liberar a gargalhada, a mise‑en‑scène pisa no freio.

Nas cenas de estádio, o longa não atinge a verdade que gostaria. A simulação das partidas carece de organicidade, e esse artifício quebra o envolvimento do espectador exatamente no lugar em que a emoção torcedora deveria explodir. Também se nota alguma falta de química entre o casal central em alguns momentos, o que diminui o impacto dos conflitos quando a farsa de Romeu começa a ruir. Mesmo assim, há respiros sinceros no choque entre as famílias, onde o filme encontra sua comédia mais reconhecível.

No conjunto, O Casamento de Romeu e Julieta cresce quando olha para o futebol como linguagem afetiva e para o amor como negociação de fronteiras. Quando se apoia nas performances de um Marco Ricca discreto e eficiente e um Luís Gustavo elétrico, a comédia aparece com naturalidade. Quando se fecha em soluções sérias, fotografia pesada e gags que não se sustentam, a narrativa perde o gás. Ainda assim, como retrato de um Brasil que discute identidade pelas cores da camisa e pela mesa do jantar, o filme oferece um espelho curioso e, por vezes, divertido, daqueles que a gente revisita mesmo sabendo que algumas imperfeições fazem parte do pacote.


O Casamento de Romeu e Julieta (2005 / Brasil)
Direção: Bruno Barreto
Roteiro: Jandira Martini, Marcos Caruso, Mário Prata
Com: Marco Ricca, Luana Piovani, Luís Gustavo, Berta Zemel, Leonardo Miggiorin, Mel Lisboa
Duração: 90 min.

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