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Crepúsculo dos Deuses - com spoilers

“O roteiro é o princípio de um processo visual e não o final de um processo literário”. (Comparato, 1993, p.16).


O que faz uma história merecer ser contada? Uma pergunta aparentemente complexa, mas com uma resposta muito simples: a quebra da normalidade (Duarte, 2006). Não importa o tema, a intenção, o gênero, toda história começa bem até que... algo acontece. E é este algo que irá ser desenvolvido até a resolução do mesmo.

E por onde se começa? Muitos manuais afirmam que se deve começar pelo fim. Sabendo-se onde quer chegar, conseguimos traçar o caminho até ele. Mas, precisamos de um ponto de partida. Analisando Crepúsculo dos Deuses (1950), podemos afirmar que os roteiristas tinham um tema a desenvolver: a decadência do cinema mudo e de suas estrelas. Daí surge Norma Desmond, a grande atriz esquecida que não aceita o fim (“Eu sou grande, os filmes que ficaram pequenos”). Precisava, então, desenvolver esta trama até o ponto em que, totalmente fora da realidade, Norma mata seu amante/roteirista Joe Gillis e se entrega a fantasiosa idéia de estar gravando um filme.

Apesar de começar com a apresentação da cena do crime, Crepúsculo dos Deuses mostra o mundo comum de Joe Gillis, um roteirista endividado, a procura de uma oportunidade e desesperado para não perder seu carro para os credores. O primeiro ato consiste em sua luta por ajuda, seja com seu agente, com o estúdio da Paramount, MGM ou amigos. Desesperado ele foge dos credores indo parar em uma mansão na Av. Sunset Boulevard, onde conhece Norma Desmond e é contratado. Aqui temos o ponto de partida. Tudo mudou na vida do protagonista. Ele se muda para mansão e começa a trabalhar no roteiro de Salomé que marcaria a volta da estrela as telas. O segundo ato é o desenvolvimento deste acordo e suas conseqüências, culminando no clímax que é o assassinato de Joe. O terceiro ato é a loucura final de Norma Desmond, culminando em sua descida triunfal para a cadeia (que ela imagina ser a gravação da primeira cena de seu filme).

Já havia sido anunciado o assassinato no início do filme, logo não há surpresa, mas não estávamos certos em relação ao assassino. Poderia ser o fiel Max, o mordomo que se revelou o primeiro diretor e marido da atriz. Qualquer credor, Artie (o noivo traído) ou a própria Bete. O fato é que Norma Desmond foi escalando a loucura até o seu desfecho, a descida como se estivesse em um filme. Esta é a cena surpreendente, que satisfaz o espectador.

Durante toda a projeção, ficamos esperando o momento em que Norma descobrirá toda a fantasia criada por Max, ou então, que algum estúdio por pena a coloque em uma ponta de um filme. Esta seria nossa cena obrigatória. A essa altura, ela é nossa protagonista, já sabemos que Joe Gillis termina morto em uma piscina, mas imaginamos milhares de finais para Norma Desmond. A graça da cena obrigatória é exatamente o que ocorre aqui, ela não acontece. Ao contrário, vem algo inusitado. Norma presa, mas de uma forma fantasiosa consegue concretizar seu sonho de encenar Salomé.

Isto é o que torna o filme inesquecível. Toda a construção do roteiro tornou Crepúsculo dos Deuses um clássico do cinema, relembrado até hoje e vencedor do Oscar de melhor roteiro.


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