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Estamos Juntos

Estamos Juntos"O medo deixa as pessoas egoístas?" Esta frase abre e fecha o filme Estamos juntos. Um contraste incrivelmente rico entre título do filme e desenvolvimento do tema. A solidão nas grandes cidades assusta e nos filmes de Toni Venturi ela é representada por um personagem símbolo: a cidade de São Paulo. Outra constante na obra do diretor é o universo feminino, então, vemos em tela uma mulher que mora em São Paulo e sente-se cada vez mais só.

Carmem é uma residente médica com futuro garantido. Elogiada pelos médicos, admirada pelos colegas, pretende ser cirurgiã. Sua vida pessoal, no entanto, é inexistente. Ela vive de pequenos casos, farras e tem apenas um amigo que é o homossexual Murilo. Mas, mesmo com ele, ela tem pouca paciência para estreitar laços. E tudo piora quando Juan entra na história e vira objeto de desejo de ambos. Tem também um rapaz misterioso que aparece por vezes em sua casa. Uma espécie de anjo da guarda que cuida dela em momentos difíceis. E o pior deles é uma doença que pode acabar com seus sonhos profissionais.

Estamos JuntosO filme demora a mostrar sua verdadeira história. Ficamos um bom tempo conhecendo os personagens, nos familiarizando com suas rotinas, para só depois apresentar os temas. A doença de Carmem, a relação com Murilo e Juan e até mesmo o seu papel na comunidade do MSTC é interessante. Hilton Lacerda consegue construir o roteiro de uma forma envolvente, sincronizando todos esses objetos, o problema é só quando ele resolve escancarar o problema social. O filme se divide, então, em dois focos fortes que ficam frágeis ao não encontrar espaço para se desenvolver melhor. Fica uma mistura de drama pessoal x drama social, gerando cenas overs e injustificadas na trama. Por mais que a gente possa entender o paralelo da luta do MSTC com o de Carmem. "Quem não luta, tá morto", grita Dira Paes que faz uma das líderes do movimento.

Estamos JuntosSempre no tom da metáfora, dos paralelos dos mundos, Estamos juntos proporciona momentos incríveis como a conversa entre Carmem e seu amigo misterioso na varanda. Ela olha para cima e ele diz que São Paulo é a pior cidade para se ver as estrelas. Seria melhor subir ao topo de um prédio e olhar para baixo. É a sensação de que o céu desabou. Ao mesmo tempo que tem um tom literal nas luzes da megalópoles, tem toda a simbologia do mundo da personagem que caiu. E de quantas outras personagens daquela cidade. A direção constrói esses momentos com detalhes, jogos de luz e sombra, foco e profundidade de campo pequeno. É poético.

Estamos JuntosAs atuações também ajudam na construção de uma bela história. Leandra Leal se entrega à Carmem com uma doçura incrível. Ela consegue ser frágil e forte ao mesmo tempo, perdida entre seus sonhos e o medo da solidão. Cauã Reymond consegue construir um Murilo que não cai na caricatura. É homossexual, tem alguns traços afeminados em momentos, mas é completamente centrado, interessante, sem afetações. Lee Taylor, mantêm bem o tom de mistério do seu personagem cujo nome não é dito em nenhum momento, mas nos créditos aparece Ângelo, talvez seja mesmo um anjo. E Dira Paes também consegue um bom destaque como a líder do movimento social, forte, guerreira, sem tom de comédia. Só Nazareno Casero destoa um pouco, mas talvez o seu personagem Juan é que não seja bem desenvolvido. Apenas um garoto que chega ao Brasil e quer curtir a vida.

A construção da doença de Carmem e sua solidão em não poder compartilhar sua dor é outra coisa bem construída. A dificuldade de desafabar, Murilo dormindo no sofá, a enfermeira que não tem tempo por estar de plantão, a mãe que não atende ao telefonema. "Você acha que eu nunca tive amigos, amigos de verdade?", Carmem pergunta ao misterioso quase em uma constatação tardia do óbvio. E aí, a gente lembra do título, mas afinal, estamos juntos quem? Com todos os problemas de roteiro, foco e junção, é um filme tocante.


Estamos Juntos (Estamos Juntos: 2011 / Brasil)
Direção: Toni Venturi
Roteiro: Hilton Lacerda
Com: Leandra Leal, Cauã Reymond, Nazareno Casero, Lee Taylor, Dira Paes.
Duração: 95 min

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