Home
Adrien Brody
comedia
critica
Kathy Bates
Lea Seydoux
Marion Cotillard
Michael Sheen
oscar2012
Owen Wilson
Rachel McAdams
romance
Woody Allen
Meia-Noite em Paris
Meia-Noite em Paris
Meia-Noite em Paris é uma ode ao passado, aos grandes artistas e à cidade símbolo da efervescência cultural. Woody Allen faz uma declaração de amor à cidade-luz e todos os seus encantos de uma forma inteligente que vai surpreender a quem entrar no cinema. Talvez, essa construção inusitada encontre eco em A Rosa Púrpura do Cairo e essa é a única pista do jogo que encontramos em tela que darei. Contar mais do que isso seria como desvendar a mágica antes do espetáculo.
A história gira em torno de Gil Pender, personagem de Owen Wilson, um roteirista de Holywood frustrado com a superficialidade de seus filmes e que deseja escrever um livro. Qualquer semelhança com Woody Allen não parece mera coincidência. Pegando carona em uma viagem de negócios do futuro sogro, ele vai com a noiva para Paris, cidade que acredita ser a melhor inspiração para um romance de peso. Gil quer fugir do seu tempo e refugiar-se no passado, nos sonhos de uma Paris ideal e dos ídolos que cultiva. Ele acredita ter nascido na época errada e as ruas da capital francesa parecem a viagem ideal para seus desejos mais íntimos.
É difícil falar de Meia-Noite em Paris sem entregar a surpresa que Woody Allen nos reserva e que é a verdadeira graça do filme. Neste ponto devo parabenizar a Paris Filmes pelo esforço de não explicitá-la no trailer, nem na sinopse oficial. Mas, posso falar da genialidade do diretor ao escrever o roteiro. Não há um único detalhe sem sentido ali. É gostoso ir descobrindo as pistas e encontrando as recompensas logo à frente, às vezes de uma forma desavisada, quase sem querer. Em outras é preciso conhecer, pelo menos um pouco, de história da arte. Não apenas da arte francesa, mas principalmente dela. Tudo fica mais interessante com esses pequenos reconhecimentos. Um pouco de impressionismo, expressionismo, surrealismo e, claro, a época da renascença, não faz mal a ninguém.
Para viajar junto com Gil e Woody Allen é preciso ter familiaridade com nomes como Ernest Hemingway, Cole Porter, Salvador Dalí, Pablo Picasso, Zelda e Francis Scott Fitzgerald, Gertrud Stein e Luis Buñuel, pelo menos. Do diretor espanhol é interessante conhecer também seu filme O Anjo Exterminador para a brincadeira ficar ainda mais divertida. Allen reconstrói esses artistas misturando impressões, desejos, obras e suposições, afinal as ruas de Paris estão impregnadas deles. Como diz o personagem de Owen Wilson em determinado momento: "o passado não morreu". Ele está vivo ao nosso redor. Esta é a grande simbologia do filme, apesar de, no final, Gil perceber algo mais sobre esse passado e sua insatisfação com o tempo presente.
Meia-Noite em Paris foge um pouco do estilo tradicional de Woody Allen, apesar de podermos reconhecer o diretor em cada cena. A começar, não temos a constante voz over nos guiando na história. Em compensação, ele se utiliza muito da voz off, ou seja, do personagem falando fora de quadro, apesar de estar em cena. Em vários momentos estamos com a câmera parada em determinado personagem, apenas ouvindo o outro falando com ele. Desde o primeiro diálogo, que está sobreposto aos créditos, quando Gil expõe a sua noiva todo o encantamento que sente por Paris. Parece que estamos ouvindo Woody Allen se explicar. Claro, em vários filmes dele, Paris é citada, precisava ser, finalmente protagonista.
A primeira sequência do filme, antes mesmo dos créditos, é uma declaração explícita a Paris. Várias cenas de cartões postais da cidade, filmados com um amor contemplativo imenso. Temos a cidade na chuva, a noite, o dia, ao sol, ao entardecer, ao amanhecer. Em todas as ruas, vias, rio Sena, Torre Eiffel, Champs-Élysées, arco do triunfo e tantos outros símbolos. Ali, Woody Allen já apresenta sua idéia principal. Paris é encantadora. Todo o filme apenas confirma isso, em vários momentos Gil expressa seu amor pela cidade. E é interessante como ele brinca consigo mesmo e com o que considera a futilidade de Hollywood em vários momentos. Em uma cena, sua sogra volta do cinema, mas não consegue lembrar o nome do filme, nem os atores, apenas que foi divertido e fez ela se distrair. Gil fala que, com essa descrição, parece um dos filmes dele.
Claro que a maioria dos filmes de Woody Allen são gostosas comédias românticas, mas é claro também que seus fãs discordarão dele de que são apenas isso. Sempre há um humor ácido, um toque inteligente, um jogo de referências. Uma outra característica do diretor que pode ser vista em Meia-Noite em Paris é a capacidade de deixar o ator à vontade. Talvez por também ser ator, Allen consegue dirigir seus atores de uma forma única. Tudo parece tão naturalmente fácil. Acho que podemos falar em melhor papel de Owen Wilson. O diretor chegou a declarar que mudou o personagem original para ficar mais parecido com o tipo do ator. O que vemos em tela é um Gil esplêndido que consegue passar toda a verdade daquela viagem insólita. Mas, não apenas ele, todos os atores estão bem, até a primeira dama Carla Bruni que faz apenas uma ponta significativa consegue chamar a nossa atenção. Destaque ainda para Adrien Brody, que conseguiu construir seu personagem da forma mais real possível, deu até para ver os rinocerontes.
Meia-Noite em Paris é daqueles filmes encantadores. Divertido, inteligente, romântico, nostálgico e esperançoso na medida certa. Desde já entra para história cinematográfica. Como é bom ver Woody Allen assim, original até no momento em que busca o passado para inspirá-lo.
Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris: 2011 / EUA, Espanha)
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Com: Owen Wilson, Rachel McAdams, Kurt Fuller, Mimi Kennedy, Michael Sheen, Kathy Bates, Marion Cotillard, Adrien Brody, Carla Bruni.
Duração: 100 min.
A história gira em torno de Gil Pender, personagem de Owen Wilson, um roteirista de Holywood frustrado com a superficialidade de seus filmes e que deseja escrever um livro. Qualquer semelhança com Woody Allen não parece mera coincidência. Pegando carona em uma viagem de negócios do futuro sogro, ele vai com a noiva para Paris, cidade que acredita ser a melhor inspiração para um romance de peso. Gil quer fugir do seu tempo e refugiar-se no passado, nos sonhos de uma Paris ideal e dos ídolos que cultiva. Ele acredita ter nascido na época errada e as ruas da capital francesa parecem a viagem ideal para seus desejos mais íntimos.
É difícil falar de Meia-Noite em Paris sem entregar a surpresa que Woody Allen nos reserva e que é a verdadeira graça do filme. Neste ponto devo parabenizar a Paris Filmes pelo esforço de não explicitá-la no trailer, nem na sinopse oficial. Mas, posso falar da genialidade do diretor ao escrever o roteiro. Não há um único detalhe sem sentido ali. É gostoso ir descobrindo as pistas e encontrando as recompensas logo à frente, às vezes de uma forma desavisada, quase sem querer. Em outras é preciso conhecer, pelo menos um pouco, de história da arte. Não apenas da arte francesa, mas principalmente dela. Tudo fica mais interessante com esses pequenos reconhecimentos. Um pouco de impressionismo, expressionismo, surrealismo e, claro, a época da renascença, não faz mal a ninguém.
Para viajar junto com Gil e Woody Allen é preciso ter familiaridade com nomes como Ernest Hemingway, Cole Porter, Salvador Dalí, Pablo Picasso, Zelda e Francis Scott Fitzgerald, Gertrud Stein e Luis Buñuel, pelo menos. Do diretor espanhol é interessante conhecer também seu filme O Anjo Exterminador para a brincadeira ficar ainda mais divertida. Allen reconstrói esses artistas misturando impressões, desejos, obras e suposições, afinal as ruas de Paris estão impregnadas deles. Como diz o personagem de Owen Wilson em determinado momento: "o passado não morreu". Ele está vivo ao nosso redor. Esta é a grande simbologia do filme, apesar de, no final, Gil perceber algo mais sobre esse passado e sua insatisfação com o tempo presente.
Meia-Noite em Paris foge um pouco do estilo tradicional de Woody Allen, apesar de podermos reconhecer o diretor em cada cena. A começar, não temos a constante voz over nos guiando na história. Em compensação, ele se utiliza muito da voz off, ou seja, do personagem falando fora de quadro, apesar de estar em cena. Em vários momentos estamos com a câmera parada em determinado personagem, apenas ouvindo o outro falando com ele. Desde o primeiro diálogo, que está sobreposto aos créditos, quando Gil expõe a sua noiva todo o encantamento que sente por Paris. Parece que estamos ouvindo Woody Allen se explicar. Claro, em vários filmes dele, Paris é citada, precisava ser, finalmente protagonista.
A primeira sequência do filme, antes mesmo dos créditos, é uma declaração explícita a Paris. Várias cenas de cartões postais da cidade, filmados com um amor contemplativo imenso. Temos a cidade na chuva, a noite, o dia, ao sol, ao entardecer, ao amanhecer. Em todas as ruas, vias, rio Sena, Torre Eiffel, Champs-Élysées, arco do triunfo e tantos outros símbolos. Ali, Woody Allen já apresenta sua idéia principal. Paris é encantadora. Todo o filme apenas confirma isso, em vários momentos Gil expressa seu amor pela cidade. E é interessante como ele brinca consigo mesmo e com o que considera a futilidade de Hollywood em vários momentos. Em uma cena, sua sogra volta do cinema, mas não consegue lembrar o nome do filme, nem os atores, apenas que foi divertido e fez ela se distrair. Gil fala que, com essa descrição, parece um dos filmes dele.
Claro que a maioria dos filmes de Woody Allen são gostosas comédias românticas, mas é claro também que seus fãs discordarão dele de que são apenas isso. Sempre há um humor ácido, um toque inteligente, um jogo de referências. Uma outra característica do diretor que pode ser vista em Meia-Noite em Paris é a capacidade de deixar o ator à vontade. Talvez por também ser ator, Allen consegue dirigir seus atores de uma forma única. Tudo parece tão naturalmente fácil. Acho que podemos falar em melhor papel de Owen Wilson. O diretor chegou a declarar que mudou o personagem original para ficar mais parecido com o tipo do ator. O que vemos em tela é um Gil esplêndido que consegue passar toda a verdade daquela viagem insólita. Mas, não apenas ele, todos os atores estão bem, até a primeira dama Carla Bruni que faz apenas uma ponta significativa consegue chamar a nossa atenção. Destaque ainda para Adrien Brody, que conseguiu construir seu personagem da forma mais real possível, deu até para ver os rinocerontes.
Meia-Noite em Paris é daqueles filmes encantadores. Divertido, inteligente, romântico, nostálgico e esperançoso na medida certa. Desde já entra para história cinematográfica. Como é bom ver Woody Allen assim, original até no momento em que busca o passado para inspirá-lo.
Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris: 2011 / EUA, Espanha)
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Com: Owen Wilson, Rachel McAdams, Kurt Fuller, Mimi Kennedy, Michael Sheen, Kathy Bates, Marion Cotillard, Adrien Brody, Carla Bruni.
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Meia-Noite em Paris
2011-06-16T08:17:00-03:00
Amanda Aouad
Adrien Brody|comedia|critica|Kathy Bates|Lea Seydoux|Marion Cotillard|Michael Sheen|oscar2012|Owen Wilson|Rachel McAdams|romance|Woody Allen|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
O filme O Menino que Queria Ser Rei (2019), dirigido por Joe Cornish , é uma aventura contemporânea que tenta reimaginar a lenda do Rei Art...
-
Vida (2017), dirigido por Daniel Espinosa , é um filme de terror e ficção científica que explora a descoberta de vida extraterrestre com ...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Entre os dias 24 e 28 de julho, Salvador respira cinema com a sétima edição da Mostra Lugar de Mulher é no Cinema. E nessa edição, a propost...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Quando Twister chegou às telas em 1996, trouxe consigo um turbilhão de expectativas e adrenalina. Sob a direção de Jan de Bont , conhecido ...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Filmes com elementos mágicos e adolescentes responsáveis por salvar ao mundo, em uma história inspirada em um livro de sucesso. Achei que já...
-
A Sombra do Vampiro (2001), dirigido por E. Elias Merhige , é um filme que mergulha na metalinguagem e nos oferece uma perspectiva intrig...