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Glória Pires e Bruno Barreto - Coletiva de Imprensa

Glória Pires e Bruno Barreto - Coletiva de ImprensaAmanhã estreia o filme Flores Raras, nova produção da família Barreto, dirigida por Bruno Barreto e protagonizada por Miranda Otto e Glória Pires. A trama conta a história de amor entre a arquiteta brasileira Lota Macedo Soares e da poeta norte-americana Elizabeth Bishop, suas perdas e conquistas. E a forma como cada uma delas vai se transformando à medida que o tempo passa. Lota, antes segura de si e com uma personalidade forte, vai se fragilizando e entrando em depressão, enquanto que Bishop, deprimida e com problemas de bebida, vai se fortalecendo.

Segunda-feira, Bruno Barreto e Glória Pires vieram à Salvador para uma pré-estreia no UCI Iguatemi. Infelizmente, só foi possível uma coletiva de imprensa rápida com eles, devido a agenda corrida da dupla, que já esteve em Gramado e continua peregrinando pelo Brasil. Ainda assim, foi um bate-papo com revelações interessantes. Em off, Glória ainda completou que uma das coisas mais a instigou para aceitar o papel é a pouca informação que o público tem em relação à Lota, uma mulher forte que deixou legados importantes como o Parque do Flamengo. Vejam como foi a coletiva. E se quiserem ver mais fotos, visite nossa página no Facebook.

Entrevista


Correio da Bahia - O filme vai ser lançado agora em um momento bastante peculiar onde está se discutindo a cura gay, imagino que tenha sido coincidência. Gostaria que vocês falassem um pouquinho sobre a importância do filme ter sido lançado no atual contexto social e político do país.

Glória Pires e Bruno Barreto - Coletiva de ImprensaGlória Pires – Tem um dado interessante, que entre o momento da compra dos direitos do livro até o momento atual do lançamento do filme, foram dezoito anos. E coincidiu em ser o momento em que o debate sobre o homossexualismo está em alta. Acho que o filme contribui para esse debate. Não é um filme sobre o homossexualismo, mas tem esse fato como uma situação das personagens principais. Acho que ele contribui de uma maneira muito positiva, mostrando essa relação amorosa. E o desejo delas.

Bruno Barreto – Só completando o que ela falou. O filme não é sobre a homossexualidade. É uma história de amor. E a forma como essas duas personagens vão invertendo os papéis. A Bishop que era frágil e vai se fortalecendo, enquanto que a Lota vai ficando mais frágil a medida que vão lidando com as perdas. Poderia ser uma história entre um homem e uma mulher. É tudo tratado com a maior naturalidade. Acho que o maior tributo que podemos fazer a essa causa, é isso, tratar com naturalidade. Poderia ser um homem e uma mulher.

iBahia – Com essa demora para a concretização do filme, queria saber como foi a preparação, até pela expectativa, se você hesitou em algum momento.

Glória Pires e Bruno Barreto - Coletiva de ImprensaGlória Pires – Eu não hesitei em momento nenhum, eu só fiquei esperando, esperando (risos). Esperamos dezessete anos para isso se concretizar. E a preparação se deu praticamente esse tempo todo. Mas, somente quando foi batido o martelo e colocou-se data para começar a filmar eu mergulhei profundamente no material, que não era muito, que existia em torno da Lota. Mas, esse tempo todo foi uma preparação de alguma forma. Porque de tempos em tempos a Lucy Barreto me colocava a par de como estava o projeto, se estava fazendo um novo tratamento do roteiro. Aí ela falou “vou mandar pro Bruno, acho que ele vai ser o diretor do filme”. Então, ela ia me dando sempre uma posição atualizada. E claro, cada vez que ela me ligava, aquilo vinha forte em minha cabeça. Eu já tinha lido o livro da Carmem. Estava ligada à história, aquilo tudo voltava, algumas cenas. Em especial aquela cena da hora em que elas apanham a Bishop e vem subindo a estrada cantarolando. Aquilo sempre ficou forte na minha cabeça. E a preparação também se deu a partir do meu amadurecimento pessoal e profissional.

Rádio Metrópole – Queria saber de você o seguinte. A gente discute muito a representação do gay em novelas. Como você enxerga a representação da homossexualidade em novelas e agora no cinema nacional?

Glória Pires – Acho que o nosso público está mais preparado para aquilo que seja abordado com mais seriedade. Não somente colocando o homossexual como o engraçado, o debochado. E também não como o psicopata problemático. Essa novela das oito agora, por exemplo, tem bastante espaço, mostrando algumas pessoas que são homossexuais, que tipo de vida elas têm. E isso também é interessante porque a sociedade está mais aberta, mais receptiva, eu acho. E no cinema, o nosso filme, embora não esteja levantando nenhuma bandeira, ele está tratando de uma forma bem positiva, clara, transparente sobre a questão.

Bahia Notícias – Eu queria saber como foi a preparação e escolha do elenco como um todo. Por exemplo, a Miranda Otto é uma australiana. Porque a escolha dela e não de uma brasileira que treinasse o inglês, por mais que a personagem fosse americana.

Glória Pires e Bruno Barreto - Coletiva de ImprensaBruno Barreto – Primeiro porque para fazer uma americana, nada melhor do que uma americana. Imagina se a gente chamasse uma americana para fazer uma brasileira, ficaria estranho. Então, esta é uma questão até de facilitar o meu lado, né? (risos) E de verossimilhança. Nós chegamos à Miranda depois de um longo processo. A rigor, para seguir essa linha da verossimilhança deveria ser uma atriz americana. Mas, em um certo sentido, a Bishop era uma americana muito pouco americana. Ela vivia viajando, ela era um peixe fora d´água. Então, eu acho que a escolha da Miranda passou por aí também. Antes dela, estava pensando em uma atriz inglesa. Porque eu e minha mãe (Lucy Barreto), que é a produtora do filme, ficamos discutindo isso de que não deveria ser uma atriz americana, apesar de ser uma que tivesse o inglês como língua nativa. Mas, a Miranda, eu já era fã dela desde que tinha visto um filme do Michel Gondry chamado A Natureza Humana. Ela tinha um papel pequeno, mas chamou a atenção. E depois, claro, a trilogia O Senhor dos Anéis e a mulher do Tom Cruise em Guerra dos Mundos. Enfim. Eu sempre achei o tipo dela interessante. E ela, muito interessante como atriz. A Glória já estava no projeto antes de eu entrar. Logo que minha mãe comprou os direitos, eu não me interessei. Só sete anos depois, quando minha ex-mulher, Amy Irving, fez um monólogo da Marta Góes sobre o mesmo tema, que é Um Porto Seguro para Elizabeth Bishop. Aí eu pensei “pôxa, talvez tenha um filme aí”. Foi aí que começou a nascer um filme dentro de mim. Eu levei mais quatro anos para descobrir porque contar essa história. Falar da perda, encontrar uma história de amor para falar da perda. Então começou o processo que fui me apropriando da história. Mas, não tinha outra atriz que pudesse fazer a Lota. Há muito tempo que eu queria trabalhar com a Glória, meu irmão já tinha trabalhado três vezes, mas eu nunca. A única vez que escrevi uma carta foi para Glória, elogiando a cena em que ela estava bêbada em A Partilha. Uma cena dificílima.

Glória Pires – Agora você tem que escrever uma carta pra Miranda (risos)

Bruno Barreto – É verdade (risos). Porque fazer bêbado é uma armadilha, não é para qualquer ator. Aliás, ouvi isso uma vez de alguma atriz, fazer bêbada e louca é uma roubada. (risos). E aí eu tive a ajuda de minha produtora de elenco brasileira, a Márcia Andrade, que me ajudou a compor um time de atores muitos bons.

CinePipocaCult – Glória, queria que você falasse um pouco sobre a preparação da Lota, sendo ela uma personagem real. Como é a preocupação de ter características da pessoa, que aqueles que conheceram a reconheçam, mas não cair na caricatura no momento em que você se apropria do personagem e constrói sua própria interpretação. Queria que você falasse um pouquinho sobre isso.

Glória Pires e Bruno Barreto - Coletiva de ImprensaGlória Pires – Na verdade, a diferença de criar um personagem que existiu e um totalmente ficcional é só a responsabilidade em retratar aquela pessoa que tem familiares, passou pela vida, as coisas realmente aconteceram. É mais nesse aspecto. Eu acho que quanto mais você pode ter de informação a respeito do personagem, sendo real ou não, melhor é. Não acho que corra o risco de cair na caricatura. A caricatura é o contrário, é quando você tem pouco material e procura fazer a forma, sem um sentimento de dentro pra fora. Quando você se prende à forma, aí pode cair na caricatura. Mas quando você vai mergulhando naquela vida, vai conhecendo mais, vai absorvendo algumas características, a tendência é ficar mais verdadeiro.

Cinema Detalhado – Queria fazer duas perguntas. Para o Bruno, queria saber porque teve esse hiato de seis anos entre seu último filme e agora. E para Glória, qual foi o papel mais desafiador que você teve como atriz e por quê?

Bruno Barreto – Esse hiato não foi tão longo, mas foi longo. O último filme que eu tinha lançado foi em 2008, que foi A Última Parada Ônibus 174. Eu fiz dois episódios de 40 minutos, que formavam uma história só, então era como um longa, para a Rede Globo. Adorei fazer essa história, que era Amor em Quatro Atos. Mas, esse tempo todo eu fiquei trabalhando no roteiro de Flores Raras. Claro que eu trabalhei também em outros roteiros que estou fazendo agora. Então, foi um momento de hibernação, de preparação de diversos projetos que estou fazendo agora, praticamente um atrás do outro. Mas, esse tempo foi um amadurecimento desse projeto, que eu assumi o roteiro exatamente em 2008, e venho trabalhando desde então. Mesmo durante as filmagens, com a ajuda da Glória, da Miranda que foram fundamentais nesse processo. Um processo muito rico e dinâmico que me ajudaram a aprimorar e trazer todas as nuanças que a história tem.

Glória Pires – Personagem mais desafiador... No cinema?

Cinema Detalhado – Qualquer um.

Glória Pires e Bruno Barreto - Coletiva de ImprensaGlória Pires – Televisão é muito complicado, mesmo porque é muito ágil e você não tem muito tempo. Você faz e já assiste. E você fica um pouco sozinho assim. Hoje existem os coachings que são os profissionais que ajudam, auxiliam os atores com as habilidades que seu personagens precisam ter. Línguas, armas, esporte, enfim. Quando fiz o meu primeiro filme com o irmão do Bruno, o Fábio Barreto, eu tinha dezessete anos, não tinha esse profissional. Eu fazia uma índia. E eu era uma menina de cidade, não tinha nada de ligação com o campo. Então, eu acho que aquele papel foi o mais difícil que eu fiz. Foi mais desafiador porque eu fiz sozinha, construí aquilo ali da minha cabeça com os livros que eu tinha pra ler e o meu entendimento de dezessete anos. Então, foi um grande desafio. Hoje eu tenho amadurecido, tenho trabalhado, tenho mais experiência, tenho mais facilidade para absorver certas coisas. E na época não tinha. Então, olhando assim, esse espaço de tempo todo, aquele foi meu papel mais desafiador.

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