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Vladimir Brichta
Um Homem Só
Um Homem Só
O Duplo de Dostoiévski já foi adaptado de diversas maneiras para a tela grande. Um Homem Só traz muito dessa premissa e também de outras histórias para construir um filme que consegue divertir e fazer pensar.
Vladimir Brichta é Arnaldo, um homem cansado de sua própria vida. Casado com uma mulher que não suporta e que não o ama, vendo-o quase como um reprodutor de luxo. Trabalhando em um escritório que o cansa e em uma profissão que não o satisfaz. Enfim, sentindo-se fracassado e sem coragem de dar uma virada em sua trajetória, ele ouve uma história incrível sobre uma clínica capaz de lhe duplicar, deixando um clone vivendo a parte chata para que você possa viver outra vida.
A premissa de ficção científica traz algumas reviravoltas interessantes, inclusive com algumas referências a filmes como Quero ser John Malkovich ou O Vingador do Futuro. É preciso embarcar nessa viagem para que o filme possa crescer a nossos olhos. Principalmente para ir além da fórmula e pensar um pouco mais no conteúdo. Arnaldo não tem coragem de dizer à esposa que não a quer mais, mas tem coragem de passar por uma experiência estranha como essa.
Nos faz pensar em nossas próprias escolhas, no quanto gostaríamos de ser outras pessoas e também o porquê de não termos coragem de mudar aquilo que não nos satisfaz. Por exemplo, Arnaldo pós-cópia vai trabalhar como coveiro de um cemitério para cachorros e isso o faz mais feliz que trabalhar no escritório. Por que não fez isso antes? Por que ele não pode assumir Josie, personagem de Mariana Ximenes e deixar deixar a esposa Aline, interpretada por Ingrid Guimarães?
Qual o sentido de deixar uma cópia vivendo sua antiga vida para dar a sensação de que nada mudou se você nem estará lá para ver? E falo isso não como um ponto negativo do roteiro do filme, mas como uma reflexão sobre as artimanhas do psicológico humano que é bem capaz de encontrar lógica nisso. Mais lógica do que a possibilidade de simplesmente mudar sua vida.
Nesse ponto, o roteiro traz boas reflexões e um ritmo bem orquestrado. Há humor, há drama, há comédia romântica, tudo misturado em doses bem equilibradas para nos dar uma história bem construída com personagens instigantes, ainda que muitas vezes próximos do estereótipo. A própria estrutura não ousa ir além do velho maniqueísmo de bem versus mal, mas não deixa de ser competente.
Da mesma maneira que a direção é correta, conseguindo manter o ritmo e o suspense, há alguns detalhes da trama que são bem orquestrados. O elenco também está afinado com boas atuações e participações especiais divertidas como Milhem Cortaz e Eliane Giardini.
Um Homem Só acaba sendo uma boa surpresa de Cláudia Jouvin, que já tinha assinado roteiros de filmes como Gorila e Entre Idas e Vindas. Sua estreia na direção cinematográfica não poderia ser mais interessante.
Um Homem Só (Um Homem Só, 2016 / Brasil)
Direção: Cláudia Jouvin
Roteiro: Cláudia Jouvin
Com: Vladimir Brichta, Mariana Ximenes, Otávio Müller, Ingrid Guimarães, Eliane Giardini, Natalia Lage, Milhem Cortaz
Duração: 88 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Um Homem Só
2016-10-14T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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