Assalto ao Trem Pagador
“Quando morre uma criança na favela, todo mundo devia cantar, é menos um pra se criar nessa miséria”. Esta frase dita pelo personagem Cachaça, interpretado por Grande Otelo é a síntese da mensagem do filme. A miséria em que vivem os favelados, a ponto de ser melhor morrer a viver daquela maneira.
O filme conta a história do assalto ao Trem da Central, que realmente ocorreu três anos antes no país, mas o que a narrativa faz é mostrar que aqueles bandidos são na verdade homens miseráveis em busca de uma vida melhor. Esta é a tônica da estética da fome, que Roberto Farias tenta construir no filme. A demonstração da simpatia com o pobre diabo que sofre diante de um sistema corrompido. Tião Medonho não é o bandido e sim a vítima da situação. Por mais duro que ele fale, o filme nos leva a construir uma simpatia pelo pai zeloso, marido amoroso (mesmo que de duas famílias distintas) e homem de bem da comunidade. Em uma cena, Tião se revolta com o sobrinho mentiroso e o obriga a deixar uma família morar de graça em um barraco que este explorava, demonstrando sua compaixão com os seus. Mas, ao mesmo tempo, Tião é o chefe da Gang que tem a dura missão de vigiar seus companheiros para que não gastem todo o dinheiro do assalto.
A regra é clara, quem gasta mais de 10% morre nas mãos de Tião. Tudo isso, por que Nilo, o cúmplice boa pinta convence a todos de que se gastarem demais, a polícia desconfia deles. Mas, a regra só vale para os negros, favelados. Nilo, um homem bonito, louro de olhos azuis (interpretado por Reginaldo Faria), começa a gastar seu dinheiro sem dó. Na cena mais violenta do filme ele explica a Tião que ele tem cara de quem tem carro e dinheiro, ao contrário de Tião, negro, que tem cara de favelado. O interessante é ver que mesmo com cara de boa pinta e olhos azuis, Nilo também quer ser reconhecido. Tanto que quase é expulso de uma loja de carros importados e só, então, se decide por gastar bastante dinheiro, demonstrando a lógica de que nesse país para ser respeitado é preciso ostentar riqueza.
Apesar de toda a tendência realista do filme, é interessante se perceber que devido a linguagem da época, pouca violência se vê na tela e nenhuma cena de sexo. As cenas de sexos são apenas sugeridas, enquanto que as cenas de violência são sempre de longe, sem grande impacto visual. O som dos tiros dados no filme foram reais. O que na época causou impacto, mas não vemos grandes cenas de ferimentos e violência explícita tão comuns hoje nos filmes de ação. A violência é verbal e moral.
Assalto ao Trem Pagador é um retrato fiel da miséria brasileira, do preconceito, da falta de escrúpulos e da extrema pobreza da população marginalizada pela economia capitalista. Sua intenção principal é acordar a sociedade para uma mudança de atitude urgente. Bandeira comunista levantada pelo Cinema Novo e todo o movimento de esquerda da década de 60.
O filme conta a história do assalto ao Trem da Central, que realmente ocorreu três anos antes no país, mas o que a narrativa faz é mostrar que aqueles bandidos são na verdade homens miseráveis em busca de uma vida melhor. Esta é a tônica da estética da fome, que Roberto Farias tenta construir no filme. A demonstração da simpatia com o pobre diabo que sofre diante de um sistema corrompido. Tião Medonho não é o bandido e sim a vítima da situação. Por mais duro que ele fale, o filme nos leva a construir uma simpatia pelo pai zeloso, marido amoroso (mesmo que de duas famílias distintas) e homem de bem da comunidade. Em uma cena, Tião se revolta com o sobrinho mentiroso e o obriga a deixar uma família morar de graça em um barraco que este explorava, demonstrando sua compaixão com os seus. Mas, ao mesmo tempo, Tião é o chefe da Gang que tem a dura missão de vigiar seus companheiros para que não gastem todo o dinheiro do assalto.
A regra é clara, quem gasta mais de 10% morre nas mãos de Tião. Tudo isso, por que Nilo, o cúmplice boa pinta convence a todos de que se gastarem demais, a polícia desconfia deles. Mas, a regra só vale para os negros, favelados. Nilo, um homem bonito, louro de olhos azuis (interpretado por Reginaldo Faria), começa a gastar seu dinheiro sem dó. Na cena mais violenta do filme ele explica a Tião que ele tem cara de quem tem carro e dinheiro, ao contrário de Tião, negro, que tem cara de favelado. O interessante é ver que mesmo com cara de boa pinta e olhos azuis, Nilo também quer ser reconhecido. Tanto que quase é expulso de uma loja de carros importados e só, então, se decide por gastar bastante dinheiro, demonstrando a lógica de que nesse país para ser respeitado é preciso ostentar riqueza.
Apesar de toda a tendência realista do filme, é interessante se perceber que devido a linguagem da época, pouca violência se vê na tela e nenhuma cena de sexo. As cenas de sexos são apenas sugeridas, enquanto que as cenas de violência são sempre de longe, sem grande impacto visual. O som dos tiros dados no filme foram reais. O que na época causou impacto, mas não vemos grandes cenas de ferimentos e violência explícita tão comuns hoje nos filmes de ação. A violência é verbal e moral.
Assalto ao Trem Pagador é um retrato fiel da miséria brasileira, do preconceito, da falta de escrúpulos e da extrema pobreza da população marginalizada pela economia capitalista. Sua intenção principal é acordar a sociedade para uma mudança de atitude urgente. Bandeira comunista levantada pelo Cinema Novo e todo o movimento de esquerda da década de 60.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Assalto ao Trem Pagador
2009-07-08T10:08:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|classicos|critica|
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