![Grande Otelo Grande Otelo](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNx73rY0c_NopxKTqE_QtWoh3Ly4z3QC31cTpiOc3saumw9znR3Doo3BMsjEFsSuI3ibzJ4oS3faYYzicksR3Dug2IfB567tfORVZMvpK6AeH64_BQkcKayHVbAPImVpLZrbchzH8LLh0/s320/assalto+ao+trem+pagador2.jpg)
“Quando morre uma criança na favela, todo mundo devia cantar, é menos um pra se criar nessa miséria”. Esta frase dita pelo personagem Cachaça, interpretado por
Grande Otelo é a síntese da mensagem do
filme. A miséria em que vivem os favelados, a ponto de ser melhor morrer a viver daquela maneira.
O
filme conta a história do assalto ao Trem da Central, que realmente ocorreu três anos antes no país, mas o que a narrativa faz é mostrar que aqueles bandidos são na verdade homens miseráveis em busca de uma vida melhor. Esta é a tônica da estética da fome, que
Roberto Farias tenta construir no filme. A demonstração da simpatia com o pobre diabo que sofre diante de um sistema corrompido. Tião Medonho não é o bandido e sim a vítima da situação. Por mais duro que ele fale, o filme nos leva a construir uma simpatia pelo pai zeloso, marido amoroso (mesmo que de duas famílias distintas) e homem de bem da comunidade. Em uma cena, Tião se revolta com o sobrinho mentiroso e o obriga a deixar uma família morar de graça em um barraco que este explorava, demonstrando sua compaixão com os seus. Mas, ao mesmo tempo, Tião é o chefe da Gang que tem a dura missão de vigiar seus companheiros para que não gastem todo o dinheiro do assalto.
![Assalto ao Trem Pagador Assalto ao Trem Pagador](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie6JOadqYOzJN0xVoZhEFmvhM8kMcDtuS_wCrxrhmP-0rjuoDX054K2mioPxfNbOhg-arjGIs2WAlo8qz-Jtv42dN2N3l4Q3cEfalsyF7J9C7fW9kfNqBYMvO5gUsD3pBew-PwxdGi0U4/s320/assalto+ao+trem+pagador+4.jpg)
A regra é clara, quem gasta mais de 10% morre nas mãos de Tião. Tudo isso, por que Nilo, o cúmplice boa pinta convence a todos de que se gastarem demais, a polícia desconfia deles. Mas, a regra só vale para os negros, favelados. Nilo, um homem bonito, louro de olhos azuis (interpretado por Reginaldo Faria), começa a gastar seu dinheiro sem dó. Na cena mais violenta do filme ele explica a Tião que ele tem cara de quem tem carro e dinheiro, ao contrário de Tião, negro, que tem cara de favelado. O interessante é ver que mesmo com cara de boa pinta e olhos azuis, Nilo também quer ser reconhecido. Tanto que quase é expulso de uma loja de carros importados e só, então, se decide por gastar bastante dinheiro, demonstrando a lógica de que nesse país para ser respeitado é preciso ostentar riqueza.
Apesar de toda a tendência realista do filme, é interessante se perceber que devido a linguagem da época, pouca violência se vê na tela e nenhuma cena de sexo. As cenas de sexos são apenas sugeridas, enquanto que as cenas de violência são sempre de longe, sem grande impacto visual. O som dos tiros dados no filme foram reais. O que na época causou impacto, mas não vemos grandes cenas de ferimentos e violência explícita tão comuns hoje nos filmes de ação. A violência é verbal e moral.
![Reginaldo Faria Reginaldo Faria](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggCs8lil4jyrBwVUAwXPJL6f-of2JMjigG3KhyphenhyphenI7u68N1oR1wLoXn6G2Vr2kqfA0fnmDwUgsM9tKi7O1CqdiipPWZryojk2-FOVfqmVcAKT2vkbeyaX9FDwNosyl3HeQGPBWkd66BFFek/s320/assalto+ao+trem+pagador3.jpg)
Assalto ao Trem Pagador é um retrato fiel da miséria brasileira, do preconceito, da falta de escrúpulos e da extrema pobreza da população marginalizada pela economia capitalista. Sua intenção principal é acordar a sociedade para uma mudança de atitude urgente. Bandeira comunista levantada pelo Cinema Novo e todo o movimento de esquerda da década de 60.