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Filhos de João, Candangos e entrevista com o diretor

Novos Baianos
O Festival de Brasília acabou consagrando o filme É proibido fumar com oito estatuetas, mas o baiano Filhos de João, o admirável mundo novo baiano não ficou atrás, levando quatro prêmios, incluindo melhor filme pelo júri popular e prêmio especial pelo júri técnico. Grande feito para o cinema baiano e para seu diretor, Henrique Dantas, que vinha lutando para finalizar seu filme a onze anos. Dantas é artista plástico por formação e já trabalhou em várias produções como diretor de arte. Filhos de João é seu primeiro longa  como diretor e ele quer muito mais. Abaixo uma entrevista com o cineasta:

Você está trabalhando nesse projeto a 11 anos, como surgiu a idéia de falar sobre os novos baianos?
- Após uma entrevista com o Paulinho Boca, onde ele comentava que o grupo iria completar 30 anos de existência. Ao ouvir aquela declaração, busquei coragem para me dedicar a algo mais complexo do que os trabalhos experimentais que eu praticava. Da primeira entrevista até este momento, passaram-se onze anos.
Quis mostrar lembranças das utopias que o país viveu, embora toda a repressão das décadas de 60 e 70 não pertençam mais à mesma geração. As posteriores, que ainda acreditam em algumas daquelas crenças, ou às que se recusam a aceitar a “vitória do dragão da maldade” - e aí faço uma alusão direta ao filme Manhã Cinzenta, de Olney São Paulo, um dos temas do meu filme. Quis mostrar também que todos somos “filhos de João” porque todos recebemos influências de João Gilberto. Não apenas os Novos Baianos ou os tropicalistas, mas todos os que mantêm suas identidades cruzadas com este momento histórico que o filme aborda e retrata.

Henrique Dantas - diretor de Filhos de JoãoQual a sua relação com as músicas do grupo?
- A relação vem da infância, onde meu pai, entre outras pérolas, colocava alguns discos nos domingos musicais e eu achava ótimo...

E a idéia do título, veio dos depoimentos ou você já tinha uma expectativa quanto a influência de João Gilberto para aquelas pessoas?
- A idéia da mudança veio (o outro título era "Retrato de um Brasil Musical") a partir da percepção de que a marca Novos Baianos poderia se misturar com o trabalho e depois de uma entrevista de Orlando Senna (ele fala que João é o padrinho dos tropicalistas e o pai dos NB), onde o mesmo me dá a deixa, aquilo ficou em minha memória e antes mesmo de decupar o seu depoimento, estava em São Paulo entrevistando Tom Zé, Bola Morais, Gato Félix e Mário Thompson e conversando com um amigo cineasta onde me hospedo,  Caio Vecchio (Um Homem Qualquer, 33ª Amostra Internacional de São Paulo) e conversando nesse questionamento, surgiu o nome "Filhos de João", o subtítulo veio depois como necessidade de brincar com a energia nova baiana, o livro de Aldous Huxley "O Admirável Mundo Novo Baiano".....

Qual momento do filme você mais gosta? Por quê?
- Não tenho um momento preferido. Mas o que me empolgou mesmo foi refazer a história dessas pessoas tão importantes, que muito contribuíram para a construção da identidade da minha geração com suas práticas artísticas.

Há alguma história de bastidores sobre o filme (pré-produção ou filmagem ou finalização) que tenha te marcado?
- Embora não tenha preferência, todas as fases me marcaram muito. A conquista crescente da credibilidade das pessoas que fizeram essa história acontecer foi muito interessante. É minha primeira produção de um longa-metragem. É um filme independente, que carrega diversos problemas que encarei como desafios. Tudo acaba sendo marcante, mas, perder pessoas que muito colaboraram com o filme foi impactante e aumentou minha responsabilidade com o trabalho. Entrevistei pessoas pelas quais nutria admiração: Bola Morais, Zé Baixinho, o cineasta Álvaro Guimarães, estes foram pessoas que me entristeceram com suas partidas.

Tirando a polêmica com Baby, como foi a receptividade dos artistas em relação ao filme?
- Foi ótima, todos que viram o filme até então e estão no mesmo, ficaram felizes e lisonjeados com a proposta apresentada sobre a vida deles... É claro que a memória é individual e essa construída é coletiva.

Fazer cinema na Bahia é uma luta constante, quais foram as principais dificuldades?
- Certamente é uma luta constante, não fosse isso eu não passava 11 anos, mas depois de nove anos de filme e um Teste de Audiência com 97,5 % de aprovação e um ano de diligências eu tive a finalização aprovada no Fundo de Cultura, o que foi fundamental para tudo que está acontecendo agora. As dificuldades são muitas... Teríamos que escrever uma tese...

Vocês já tem uma estratégia de distribuição? Como será a exibição no resto do país?
- Distribuição é um assunto que pouco conhecemos no estado e no Nordeste, porque é um poder do eixo RIOSAMPA e as negociações ocorrem por lá... Estamos bem encaminhados... Mas o gol só vale com a bola na rede...

Brasília é hoje o principal festival do país, ganhar esse prêmio ajuda na divulgação e distribuição do mesmo? Já recebeu algum convite de exibição, parceria?
- Ajuda muito, realmente pra quem achava que só ia receber Fandango, sair com 4 estatuetas e um troféu, foi maravilhoso... Recebemos algumas propostas mas nada de concreto.

E quando tem exibição em Salvador?
- Gostaria de estrear em Janeiro ou Fevereiro, no único templo de cinema que temos na Bahia, O Cine Glauber e nas três salas, junto a "Carreto" de Claudio Marques e Marília e caso ele aceite, Gabriel Trajano com "Apreço" filme que colaborei no roteiro e fiz a direção de arte (que me deu um Candango).

De artista plástico a cineasta, quais são os seus planos para o futuro? (pretende continuar dirigindo, já tem outro projeto em mente? documentários ou ficção? E o trabalho como diretor de arte em outros filmes?)
- "Não sei onde eu estou indo mas sei que estou no meu caminho", como dizia Raul....Estou fazendo mais dois filmes longos de linguagem documental... Talvez com um tom mais experimental... Um é "A Peleja do Sertão Cinzento" sobre as consequências do cinema político na vida e obra do cineasta baiano Olney São Paulo, durante a ditadura militar. Outro sobre a galeria F, que encontra-se sem título, mas já demos o pontapé inicial...

Adoro fazer direção de arte... Veremos em breve os longas baianos "Estranhos" de Paulo Alcantara e "Trampolim do Forte" de João Rodrigo Matos...

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