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Kick-Ass - Quebrando meu juízo
Kick-Ass - Quebrando meu juízo
Por que ninguém nunca tentou ser super-herói? A pergunta aparentemente idiota com uma decisão ingênua adolescente de vestir uma malha verde e sair pelas ruas esconde uma questão profunda. Cada vez mais em nosso mundo, o ser humano está egoísta e individualista. Somos capazes de assistir a um assalto e nem sequer dar um telefonema ao 190. Ou atropelar alguém e fugir sem dar socorro. Deixemos, então, Dave, ou melhor, Kick-Ass encher o mundo com um pouco de esperança.
Partindo dos quadrinhos de Mark Millar, Matthew Vaughn traz aos cinemas uma aventura com heróis mascarados sem super poderes, muita ação, tiro, sangue, elementos de histórias em quadrinhos, animação e uma trilha sonora de deixar meu professor de música cinematográfica feliz. O roteiro do próprio Vaughn com colaboração de Jane Goldman é linear, sem grandes inovações, mas que funciona muito bem. A narração over do personagem principal tem toques de humor sarcástico, típico da série, fazendo brincadeiras com outros quadrinhos - "sem poderes, não há responsabilidades" - e outros filmes - "Nunca viu Crepúsculo dos Deuses ou Sin City?" -, essa não posso explicar muito bem a piada para não dar spoilers.
O fato é que Dave vai às ruas como Kick-Ass e logo percebe que sua empolgação ingênua não é páreo para os bandidos de verdade que estão lá fora. É quando cruza seu caminho Big Daddy e Hit Girl, pai e filha, uma relação estranha e doentia em busca de vingança. Big Daddy, vivido por Nicolas Cage, é o protótipo do vingador, que perdeu totalmente a noção de certo e errado, criando sua filha como um soldadinho. A garota, muito bem interpretada por Chloe Moretz, tem por diversão treinar artes maciais e manusear armas. Sem falar dos testes do colete anti-balas, com seu pai atirando nela. Tudo muito doentio, mesmo com a explicação dos motivos disso. Com uma dose de sadismo exagerada, cenas fortes de pessoas explodindo ou implodindo, com muito sangue jorrando.
Apesar do argumento diferente, o filme não foge do maniqueísmo com o vilão típico Frank D’Amico vivido por Mark Strong e do herói puro vivido por Aaron Johnson. Há também o clichê do rapaz sem graça que dá a volta por cima e o sonho de todo adolescente de ser querido, com a adaptação para os tempos modernos onde ele tem site, perfil no MySpace e recebe pedidos de ajuda por e-mail. Ainda assim, o jogo da ação diverte, impressiona e envolve. A direção de arte é muito bem cuidada, inserindo elementos dos quadrinhos como legendas, fusão de cena com desenho e enquadramento. As cenas de ação são bem arquitetadas e os efeitos especiais são impactantes.
A trilha sonora é um ponto à parte, com músicas dinâmicas e contrastantes como a primeira ação de Big Daddy e Hit Girl, onde uma música irônica em meio a tanto tiro e sangue traz um efeito ímpar na cena, muito melhor do que se fosse apenas uma marcação comum. A cena com uma música de Mozart então, chega a arrepiar pelo contraste inteligente. O desenho musical apenas confirma o clima de ironia sem responsabilidades da trama.
Apesar do pilar profundo e do retrato bem feito de nossa sociedade, não é para se levar Kick-Ass a sério. É um filme de entretenimento, blockbuster e feito para divertir comendo pipoca. Antes de tudo é história em quadrinhos, uma boa história em quadrinhos, com um foco diferente, mas ainda assim HQ. Não dá para exigir uma tese de doutorado sobre o comportamento humano, nem um cine arte reflexivo. Mas, desde já, se coloca no mesmo patamar de Watchmen e Sin City.
Partindo dos quadrinhos de Mark Millar, Matthew Vaughn traz aos cinemas uma aventura com heróis mascarados sem super poderes, muita ação, tiro, sangue, elementos de histórias em quadrinhos, animação e uma trilha sonora de deixar meu professor de música cinematográfica feliz. O roteiro do próprio Vaughn com colaboração de Jane Goldman é linear, sem grandes inovações, mas que funciona muito bem. A narração over do personagem principal tem toques de humor sarcástico, típico da série, fazendo brincadeiras com outros quadrinhos - "sem poderes, não há responsabilidades" - e outros filmes - "Nunca viu Crepúsculo dos Deuses ou Sin City?" -, essa não posso explicar muito bem a piada para não dar spoilers.
O fato é que Dave vai às ruas como Kick-Ass e logo percebe que sua empolgação ingênua não é páreo para os bandidos de verdade que estão lá fora. É quando cruza seu caminho Big Daddy e Hit Girl, pai e filha, uma relação estranha e doentia em busca de vingança. Big Daddy, vivido por Nicolas Cage, é o protótipo do vingador, que perdeu totalmente a noção de certo e errado, criando sua filha como um soldadinho. A garota, muito bem interpretada por Chloe Moretz, tem por diversão treinar artes maciais e manusear armas. Sem falar dos testes do colete anti-balas, com seu pai atirando nela. Tudo muito doentio, mesmo com a explicação dos motivos disso. Com uma dose de sadismo exagerada, cenas fortes de pessoas explodindo ou implodindo, com muito sangue jorrando.
Apesar do argumento diferente, o filme não foge do maniqueísmo com o vilão típico Frank D’Amico vivido por Mark Strong e do herói puro vivido por Aaron Johnson. Há também o clichê do rapaz sem graça que dá a volta por cima e o sonho de todo adolescente de ser querido, com a adaptação para os tempos modernos onde ele tem site, perfil no MySpace e recebe pedidos de ajuda por e-mail. Ainda assim, o jogo da ação diverte, impressiona e envolve. A direção de arte é muito bem cuidada, inserindo elementos dos quadrinhos como legendas, fusão de cena com desenho e enquadramento. As cenas de ação são bem arquitetadas e os efeitos especiais são impactantes.
A trilha sonora é um ponto à parte, com músicas dinâmicas e contrastantes como a primeira ação de Big Daddy e Hit Girl, onde uma música irônica em meio a tanto tiro e sangue traz um efeito ímpar na cena, muito melhor do que se fosse apenas uma marcação comum. A cena com uma música de Mozart então, chega a arrepiar pelo contraste inteligente. O desenho musical apenas confirma o clima de ironia sem responsabilidades da trama.
Apesar do pilar profundo e do retrato bem feito de nossa sociedade, não é para se levar Kick-Ass a sério. É um filme de entretenimento, blockbuster e feito para divertir comendo pipoca. Antes de tudo é história em quadrinhos, uma boa história em quadrinhos, com um foco diferente, mas ainda assim HQ. Não dá para exigir uma tese de doutorado sobre o comportamento humano, nem um cine arte reflexivo. Mas, desde já, se coloca no mesmo patamar de Watchmen e Sin City.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Kick-Ass - Quebrando meu juízo
2010-06-17T08:13:00-03:00
Amanda Aouad
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