![Budapeste Budapeste](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9FS1FRGFuOcL4wcsC_3JDCUdWWfgScpmzZ_kRwt_f2roiT0C4W9hutF8seo2EH-fYy8wV1NTuHGJsPG5AtQ7ZSe3Q8ZGXx_DEUd8fp69MUfMsJFhWJgHlehx2dMIyoWVzZxg9M7vewrY/s320/budapeste_03.jpg)
Adaptar é sempre uma tarefa cruel. As comparações tendem a minimizar a obra adaptada em detrimento da original. Que diremos, então, da tarefa de adaptar um livro com uma linguagem tão peculiar quanto a obra de Chico Buarque de Holanda que prima pelo poder da palavra em uma história totalmente metalinguística? Para transformar poesia em imagens nada melhor que um mestre delas. O diretor de fotografia Walter Carvalho assumiu muito bem a direção geral do longametragem construindo um filme esteticamente belíssimo, principalmente quando passado em
Budapeste, a cidade amarela. Já o roteiro de Rita Buzzar não consegue ser tão feliz na transposição das palavras tornando a carga dramática do livro pouco palpável. Não é à toa que muitos acharam o filme chato.
![Budapeste Budapeste](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG7eMaPogECoECsY_kiqIM3e_QMS_0qYypxAVkXK_m07qxUQuRkhYQ-zZRWGaBdfWYl-2W64xISOwddeNducADpSLxbb1rKhVt19UWDnj5SP4gmqkvgVrj3TxWoK1FYdIthorjvhEwaDY/s200/giovanna_antonelli.jpg)
Viajamos na busca do personagem principal Costa, que se descobre dividido entre duas cidades. Na verdade, ele não está dividido, e sim, refletido. Enquanto no Rio de Janeiro ele é um ghost-writer frustado com uma relação familiar complexa que só piora a cada dia, na Hungria ele encontra um bálsamo de prazer, com novas experiências e possibilidades. Chegando lá quase por acaso, ao ficar preso em um translado, ele sente falta da língua, da cidade, das pessoas. No Rio ele é conformado, sem brilho. Em
Budapeste ele se permite sonhar e ousar. A densidade da divisão dessas duas cidades e suas significações para o protagonista são expostas no filme de forma interessante, principalmente pela presença de espelho em todo o cenário. José é o reflexo de Costa. Nunca está completo, nunca é José Costa.
As duas mulheres também são o reflexo dessa divisão, enquanto Wanda, vivida por Giovanna Antonelli, está sempre a procura de realização profissional. Kriska, vivida por Gabriella Hámori, é a mulher completa, sem traumas aparentes, que torna tudo natural. Leonardo Medeiros consegue transitar muito bem por todos esses sentimentos em ebulição criando uma interpretação convincente e emocionante. Conseguimos nos envolver com José em sua luta por reconhecimento e com Costa em sua redescoberta da vida.
![Budapeste Budapeste](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhoPK8Z-dLWiz_SWZuOy4Fqow4PWz8RMhBvpocy-T9oIoymdtnjxq4Pw_A5qEkgJjVt5K-LJQU2zkj_53Yh7vwpisyxRxl6zQoQgNhl4Vd1JSK5aAi2vEHn6fCsRMS2siiBuQfHYTuEyk/s320/Budapeste_poster.jpg)
As referências ao autor literário, Chico, são um ponto extra para os fãs. Seja em uma passagem onde uma roda de samba canta Feijoada Completa, e o pensamento de Costa a canta em Húngaro. Ou na surpresinha no aeroporto que pode fazer algumas mais afoitas suspirarem. Tudo isso é permitido em uma obra que se baseia na metalinguagem, até o personagem olhar para câmera e ditar o texto final na direção do espectador.
Mas apesar das belezas e tentativas de obra de arte, o filme acaba cansativo, principalmente pelo excesso de explicação do drama central. A imagem, se contrastando com a força da narração. Não é um filme fácil. E claro, não tinha necessidade de tantas cenas de nudez e sexo, por mais que o livro escrito pelo personagem seja erótico. Algumas cenas ficaram gratuitas. Ainda assim, a experiência é válida, com belas imagens e uma desconstrução interessante.