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Adaptar é sempre uma tarefa cruel. As comparações tendem a minimizar a obra adaptada em detrimento da original. Que diremos, então, da tarefa de adaptar um livro com uma linguagem tão peculiar quanto a obra de Chico Buarque de Holanda que prima pelo poder da palavra em uma história totalmente metalinguística? Para transformar poesia em imagens nada melhor que um mestre delas. O diretor de fotografia Walter Carvalho assumiu muito bem a direção geral do longametragem construindo um filme esteticamente belíssimo, principalmente quando passado em Budapeste, a cidade amarela. Já o roteiro de Rita Buzzar não consegue ser tão feliz na transposição das palavras tornando a carga dramática do livro pouco palpável. Não é à toa que muitos acharam o filme chato.
Viajamos na busca do personagem principal Costa, que se descobre dividido entre duas cidades. Na verdade, ele não está dividido, e sim, refletido. Enquanto no Rio de Janeiro ele é um ghost-writer frustado com uma relação familiar complexa que só piora a cada dia, na Hungria ele encontra um bálsamo de prazer, com novas experiências e possibilidades. Chegando lá quase por acaso, ao ficar preso em um translado, ele sente falta da língua, da cidade, das pessoas. No Rio ele é conformado, sem brilho. Em Budapeste ele se permite sonhar e ousar. A densidade da divisão dessas duas cidades e suas significações para o protagonista são expostas no filme de forma interessante, principalmente pela presença de espelho em todo o cenário. José é o reflexo de Costa. Nunca está completo, nunca é José Costa.
As duas mulheres também são o reflexo dessa divisão, enquanto Wanda, vivida por Giovanna Antonelli, está sempre a procura de realização profissional. Kriska, vivida por Gabriella Hámori, é a mulher completa, sem traumas aparentes, que torna tudo natural. Leonardo Medeiros consegue transitar muito bem por todos esses sentimentos em ebulição criando uma interpretação convincente e emocionante. Conseguimos nos envolver com José em sua luta por reconhecimento e com Costa em sua redescoberta da vida.
As referências ao autor literário, Chico, são um ponto extra para os fãs. Seja em uma passagem onde uma roda de samba canta Feijoada Completa, e o pensamento de Costa a canta em Húngaro. Ou na surpresinha no aeroporto que pode fazer algumas mais afoitas suspirarem. Tudo isso é permitido em uma obra que se baseia na metalinguagem, até o personagem olhar para câmera e ditar o texto final na direção do espectador.
Mas apesar das belezas e tentativas de obra de arte, o filme acaba cansativo, principalmente pelo excesso de explicação do drama central. A imagem, se contrastando com a força da narração. Não é um filme fácil. E claro, não tinha necessidade de tantas cenas de nudez e sexo, por mais que o livro escrito pelo personagem seja erótico. Algumas cenas ficaram gratuitas. Ainda assim, a experiência é válida, com belas imagens e uma desconstrução interessante.
Viajamos na busca do personagem principal Costa, que se descobre dividido entre duas cidades. Na verdade, ele não está dividido, e sim, refletido. Enquanto no Rio de Janeiro ele é um ghost-writer frustado com uma relação familiar complexa que só piora a cada dia, na Hungria ele encontra um bálsamo de prazer, com novas experiências e possibilidades. Chegando lá quase por acaso, ao ficar preso em um translado, ele sente falta da língua, da cidade, das pessoas. No Rio ele é conformado, sem brilho. Em Budapeste ele se permite sonhar e ousar. A densidade da divisão dessas duas cidades e suas significações para o protagonista são expostas no filme de forma interessante, principalmente pela presença de espelho em todo o cenário. José é o reflexo de Costa. Nunca está completo, nunca é José Costa.
As duas mulheres também são o reflexo dessa divisão, enquanto Wanda, vivida por Giovanna Antonelli, está sempre a procura de realização profissional. Kriska, vivida por Gabriella Hámori, é a mulher completa, sem traumas aparentes, que torna tudo natural. Leonardo Medeiros consegue transitar muito bem por todos esses sentimentos em ebulição criando uma interpretação convincente e emocionante. Conseguimos nos envolver com José em sua luta por reconhecimento e com Costa em sua redescoberta da vida.
As referências ao autor literário, Chico, são um ponto extra para os fãs. Seja em uma passagem onde uma roda de samba canta Feijoada Completa, e o pensamento de Costa a canta em Húngaro. Ou na surpresinha no aeroporto que pode fazer algumas mais afoitas suspirarem. Tudo isso é permitido em uma obra que se baseia na metalinguagem, até o personagem olhar para câmera e ditar o texto final na direção do espectador.
Mas apesar das belezas e tentativas de obra de arte, o filme acaba cansativo, principalmente pelo excesso de explicação do drama central. A imagem, se contrastando com a força da narração. Não é um filme fácil. E claro, não tinha necessidade de tantas cenas de nudez e sexo, por mais que o livro escrito pelo personagem seja erótico. Algumas cenas ficaram gratuitas. Ainda assim, a experiência é válida, com belas imagens e uma desconstrução interessante.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Budapeste
2010-09-13T08:41:00-03:00
Amanda Aouad
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