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As Mães de Chico Xavier
As Mães de Chico Xavier
"Pelo cinema, pelo valor como obra, tenho que dizer que Bezerra de Menezes, o diário de um espírito é lamentável. Como divulgador da mensagem espírita, deixa a desejar, já que pouco explica sobre ela durante o filme, mas é válido já que chama a atenção para mesma. Como homenagem a um homem notório e exemplo a ser seguido, é mais que justo, e este é o motivo das salas de cinema estarem lotadas. Fica o questionamento de como seria maravilhoso se pudéssemos juntar, tal qual a doutrinha que se proclama Ciência, Religião e Filosofia, esses três fatores em um único filme." 04 de dezembro de 2008.
Resolvi resgatar aqui parte do meu texto sobre o filme Bezerra de Menezes para começar a falar do novo trabalho de seu diretor, Gláuber Filho. Devo dizer que As Mães de Chico Xavier não tem a tal junção que eu tanto ansiava no trecho acima, mas em termos de estrutura é a que mais se assemelha a isso, porque consegue construir uma história emotiva, onde os valores doutrinários fluem na história sem precisar das pausas do filme Nosso Lar. É também uma evolução notável do trabalho do diretor do primeiro para o segundo filme. A nota triste é que os vários problemas de produção acabam prejudicando uma obra que poderia ser magnífica já que tem uma boa história, excelentes atores e todos os ingredientes desse novo fenômeno nacional que é a temática espírita nas telas. Uma pena, poderia ser uma grande obra e vai ficar mais uma vez no limbo entre os adeptos que adoram e a crítica que massacra.
Antes de falar da história, quero comentar a infelicidade do roteiro de Emanuel Nogueira, junto com o diretor Gláuber Filho em construir a trama de uma forma que o clímax é, na verdade, o plot do filme. Fica uma trajetória meio que esquizofrênica, principalmente se você lê a sinopse, assiste ao trailer e presta atenção no título e no subtítulo. Raciocinem comigo, o que vocês esperam de um filme com essas informações que acaba de ver? Três mães que perderam seus filhos e vão encontrar consolo nas cartas de Chico Xavier, correto? Uma espécie de versão ficcional do filme de Cristina Grumbach. Lindo. O problema é que esse acontecimento é, na verdade, o clímax do roteiro apresentado em tela.
De forma esquizofrênica, no entanto, a produção parece esquecer isso e nos vai conduzindo como se esses detalhes, que repito estão explícitos no trailer e sinopse, fossem surpresas. Até o acontecimento com o personagem de Gustavo Falcão, que tem todo um suspense, está revelado no trailer. A gente fica, então, sem entender algumas escolhas, querendo que os processos dolorosos fossem melhor elaborados, principalmente da família de Ruth, já que o que é contado na carta é tão rico emocionalmente. Mas, ainda assim, podemos ser envolvidos pela história dessas três mulheres, afinal, mãe é mãe, não há quem não se emocione com o sofrimento de uma mãe.
As atrizes ajudam muito nisso, principalmente Vanessa Gerbelli que me emocionou profundamente em determinada cena no hospital, apesar do produtor de som ter tentado destruir a interpretação dela, mas aí, falo mais abaixo. Via Negromonte também está incrível, demonstrando todo o sofrimento contido daquela mulher que parece um vulcão a ponto de ebulição. Tainá Muller também está bem, mas acaba sendo ofuscada pelo sofrimento das outras duas que tem dramas maiores em relação a seus filhos. Caio Blat é outro destaque como o jornalista, sempre natural, vê-lo atuar faz parecer que é uma arte fácil. E Nelson Xavier encara novamente Chico, agora em uma idade mais avançada, com sua construção impressionantemente realista. Neuza Borges, apesar da pequena participação também demonstra naturalidade. Só Herson Capri destoa um pouco, com diálogos artificiais e tom falso.
Mas, o que realmente incomoda em As Mães de Chico Xavier é a trilha sonora e seu desenho de som. Jesus, o que é aquilo? Não sou daquelas pessoas preconceituosas com o gênero melodrama, pelo contrário. Adoro me envolver na emotividade exarcebada, na música propositalmente colocada para ajudar a trazer a emoção do espectador, a construção fílmica que utiliza diversos efeitos com o único intuito de nos fazer chorar. Mas, isso tudo é ótimo quando está em harmonia, passa subliminarmente, atinge nosso inconsciente. Nesse filme, a música grita em nossos ouvidos de uma forma incômoda, repetitiva, exagerada. É quase uma afronta, fora que chega a ser amador, toda vez que entra as cenas de Vanessa Gerbelli vem aquela trilha de caixa de música. Toda vez que vem as cenas Via Negromente, temos aquele tema mais denso. Toda vez que vem Tainá Muller, outro tema meloso. Isso sem falar das cenas das reuniões de Chico Xavier.
Um exemplo onde a música pode destruir uma bela cena é a já citada de Vanessa Gerbelli no hospital. A forma sensível como a câmera fica em close na atriz, sem ouvirmos a conversa e o som do aparelho de eletrocardiograma de fundo é lindo. Mas, aí, tem que entrar a já conhecida e irritante música. A cena só não se perdeu pelo talento de Vanessa e força da situação. Essa é, sem dúvidas, uma das três melhores cenas do filme. Interessante, que é uma de cada uma das três mães. A carta do filho de Ruth e a revelação do acontecido no ônibus são as outras duas. E para mim, valeu a experiência no cinema, dando indícios de que poderia ter visto um filme muito melhor com alguns ajustes.
Infelizmente, foi apenas mais um filme que ficou na intenção, ainda mais com os efeitos de passagens esquisitos com nuvens e som estranho. Sem falar de uma imagem de Jesus meio perdida entre duas cenas no jardim. E eu nem entrei no mérito da montagem picotada contando em paralelo as quatro histórias. Sendo assim, o ciclo em homenagem ao centenário de Chico Xavier se encerra com a certeza, pelo menos para mim, de que o filme de Daniel Filho é mesmo o melhor trabalho dessa safra. Fico curiosa quanto a "E a vida continua", livro que mais gosto de André Luiz, mas que até agora, sua adaptação dirigida por Paulo Figueiredo, não deu notícias em cenário nacional.
As Mães de Chico Xavier: (As Mães de Chico Xavier: 2010 / EUA)
Direção: Gláuber Filho
Roteiro: Emanuel Nogueira e Gláuber Filho
Com: Nelson Xavier, Caio Blat, Vanessa Gerbelli, Via Negromonte, Tainá Muller, Neuza Borges
Duração: 110 min.
Resolvi resgatar aqui parte do meu texto sobre o filme Bezerra de Menezes para começar a falar do novo trabalho de seu diretor, Gláuber Filho. Devo dizer que As Mães de Chico Xavier não tem a tal junção que eu tanto ansiava no trecho acima, mas em termos de estrutura é a que mais se assemelha a isso, porque consegue construir uma história emotiva, onde os valores doutrinários fluem na história sem precisar das pausas do filme Nosso Lar. É também uma evolução notável do trabalho do diretor do primeiro para o segundo filme. A nota triste é que os vários problemas de produção acabam prejudicando uma obra que poderia ser magnífica já que tem uma boa história, excelentes atores e todos os ingredientes desse novo fenômeno nacional que é a temática espírita nas telas. Uma pena, poderia ser uma grande obra e vai ficar mais uma vez no limbo entre os adeptos que adoram e a crítica que massacra.
Antes de falar da história, quero comentar a infelicidade do roteiro de Emanuel Nogueira, junto com o diretor Gláuber Filho em construir a trama de uma forma que o clímax é, na verdade, o plot do filme. Fica uma trajetória meio que esquizofrênica, principalmente se você lê a sinopse, assiste ao trailer e presta atenção no título e no subtítulo. Raciocinem comigo, o que vocês esperam de um filme com essas informações que acaba de ver? Três mães que perderam seus filhos e vão encontrar consolo nas cartas de Chico Xavier, correto? Uma espécie de versão ficcional do filme de Cristina Grumbach. Lindo. O problema é que esse acontecimento é, na verdade, o clímax do roteiro apresentado em tela.
De forma esquizofrênica, no entanto, a produção parece esquecer isso e nos vai conduzindo como se esses detalhes, que repito estão explícitos no trailer e sinopse, fossem surpresas. Até o acontecimento com o personagem de Gustavo Falcão, que tem todo um suspense, está revelado no trailer. A gente fica, então, sem entender algumas escolhas, querendo que os processos dolorosos fossem melhor elaborados, principalmente da família de Ruth, já que o que é contado na carta é tão rico emocionalmente. Mas, ainda assim, podemos ser envolvidos pela história dessas três mulheres, afinal, mãe é mãe, não há quem não se emocione com o sofrimento de uma mãe.
As atrizes ajudam muito nisso, principalmente Vanessa Gerbelli que me emocionou profundamente em determinada cena no hospital, apesar do produtor de som ter tentado destruir a interpretação dela, mas aí, falo mais abaixo. Via Negromonte também está incrível, demonstrando todo o sofrimento contido daquela mulher que parece um vulcão a ponto de ebulição. Tainá Muller também está bem, mas acaba sendo ofuscada pelo sofrimento das outras duas que tem dramas maiores em relação a seus filhos. Caio Blat é outro destaque como o jornalista, sempre natural, vê-lo atuar faz parecer que é uma arte fácil. E Nelson Xavier encara novamente Chico, agora em uma idade mais avançada, com sua construção impressionantemente realista. Neuza Borges, apesar da pequena participação também demonstra naturalidade. Só Herson Capri destoa um pouco, com diálogos artificiais e tom falso.
Mas, o que realmente incomoda em As Mães de Chico Xavier é a trilha sonora e seu desenho de som. Jesus, o que é aquilo? Não sou daquelas pessoas preconceituosas com o gênero melodrama, pelo contrário. Adoro me envolver na emotividade exarcebada, na música propositalmente colocada para ajudar a trazer a emoção do espectador, a construção fílmica que utiliza diversos efeitos com o único intuito de nos fazer chorar. Mas, isso tudo é ótimo quando está em harmonia, passa subliminarmente, atinge nosso inconsciente. Nesse filme, a música grita em nossos ouvidos de uma forma incômoda, repetitiva, exagerada. É quase uma afronta, fora que chega a ser amador, toda vez que entra as cenas de Vanessa Gerbelli vem aquela trilha de caixa de música. Toda vez que vem as cenas Via Negromente, temos aquele tema mais denso. Toda vez que vem Tainá Muller, outro tema meloso. Isso sem falar das cenas das reuniões de Chico Xavier.
Um exemplo onde a música pode destruir uma bela cena é a já citada de Vanessa Gerbelli no hospital. A forma sensível como a câmera fica em close na atriz, sem ouvirmos a conversa e o som do aparelho de eletrocardiograma de fundo é lindo. Mas, aí, tem que entrar a já conhecida e irritante música. A cena só não se perdeu pelo talento de Vanessa e força da situação. Essa é, sem dúvidas, uma das três melhores cenas do filme. Interessante, que é uma de cada uma das três mães. A carta do filho de Ruth e a revelação do acontecido no ônibus são as outras duas. E para mim, valeu a experiência no cinema, dando indícios de que poderia ter visto um filme muito melhor com alguns ajustes.
Infelizmente, foi apenas mais um filme que ficou na intenção, ainda mais com os efeitos de passagens esquisitos com nuvens e som estranho. Sem falar de uma imagem de Jesus meio perdida entre duas cenas no jardim. E eu nem entrei no mérito da montagem picotada contando em paralelo as quatro histórias. Sendo assim, o ciclo em homenagem ao centenário de Chico Xavier se encerra com a certeza, pelo menos para mim, de que o filme de Daniel Filho é mesmo o melhor trabalho dessa safra. Fico curiosa quanto a "E a vida continua", livro que mais gosto de André Luiz, mas que até agora, sua adaptação dirigida por Paulo Figueiredo, não deu notícias em cenário nacional.
As Mães de Chico Xavier: (As Mães de Chico Xavier: 2010 / EUA)
Direção: Gláuber Filho
Roteiro: Emanuel Nogueira e Gláuber Filho
Com: Nelson Xavier, Caio Blat, Vanessa Gerbelli, Via Negromonte, Tainá Muller, Neuza Borges
Duração: 110 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
As Mães de Chico Xavier
2011-03-30T08:26:00-03:00
Amanda Aouad
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