A trama gira em torno de David Norris, um jovem político candidato ao senado americano, que no dia da eleição em que sai derrotado conhece a bela Elise. A espontaneidade da moça, faz com que ele construa um discurso de derrota completamente diferente do que estava programado, desnudando as estratégias do marketing político. É tão diferente que faz sucesso. Mas, ao procurar Elise novamente, parece que algo conspira contra a união de ambos. Um encontro por acaso no ônibus reacende as esperanças, mas logo eles são separados. Três anos se passam, mas David não desiste, nem Elise o esqueceu. O que eles ainda não sabem é que o plano já foi escrito e o casal não pode ficar junto. O porquê e quem está por trás de tudo isso é que é a base do sucesso e fracasso do filme. É impressionante como isso acontece na construção do roteiro ao mesmo tempo.
Não há como fugir do seu destino. Por mais que você tente e até o acaso dê sua mãozinha, sempre será ajustado para aquilo que está escrito. Ainda mais com um time de agentes vigiando a humanidade e tratando para que tudo ocorra conforme o planejado pelo "presidente". Essa é a premissa que embasa Os Agentes do Destino que, apesar de burocratizar algo místico, faz sentido em alguns pontos, mas acaba se perdendo em outras justificativas. Nos dá também a sensação de que essa burocracia toda acaba sendo uma bagunça. Sem querer entregar spoilers, quando eles começam a mostrar que o acaso não é tão acaso assim, a coisa desanda. Tanta correria, briga para cumprir o plano e depois ficamos sabendo de informações que nos fazem questionar toda essa lógica e torna a história inteira meio boba. Ao mesmo tempo, há uma discussão saudável e até mesmo profunda do que realmente importa na vida de uma pessoa. E nesse momento, o roteiro nos faz pensar o que escolheríamos se estivéssemos no lugar dos protagonistas. Assim compramos a briga e nos colocamos como eles até o final.
Em relação ao destino e às justificativas da existência dos agentes, gostaria de tocar ainda no ponto que mais me chamou a atenção. Em determinada cena, um agente diz a David Norris, personagem de Matt Damon, que em alguns momentos eles tentaram dar o livre-arbítrio à humanidade e tudo desandou. Ele diz com todas as palavras, por exemplo, que após ajudarem os homens da Idade da Pedra até o Império Romano, foi só deixá-los a sós que caíram em épocas negras da Idade Média. Aí eu pergunto: o Império Romano era bom? Com todos os escravos? Destruição de culturas? Sumiço de religiões? Mais do que isso, durante o período da Idade Média só houve trevas? Que visão ocidental limitada é essa? E todas as contribuições nas artes? E o Império Bizantino? E a China, Índia, Japão? É apelativo e quase absurdo esse tipo de argumento. Os valores são sempre relativos e tudo depende do referencial. Afinal, o que importa? "Não importa o que você sente e sim, o que está escrito", reforça um agente. Somos rebeldes demais para aceitar argumentos tão pouco embasados.
A construção dos agentes é interessante, tanto física quanto psicologicamente. Todos de terno e com chapéus que os fazem parecer um grupo de gangsters, eles estão sempre ao nosso lado, observando, acompanhando, seguindo através de um livro misterioso. Seus poderes são limitados, mas suficientes para deixá-los mais próximos de seus objetivos. Podem, por exemplo, abrir portas que os transportam por lugares diferentes. Qualquer semelhança com Matrix não é mera coincidência. Aliás, no momento chave do filme, tive uma sensação imensa de que veria uma repetição da cena de Neo na sala do arquiteto. Todos estão ligados como uma espécia de organização, com sede própria e um presidente que nunca aparece. Aquela velha máxima de "ele tem vários nomes", deixa o chefe próximo de todos, sem destacar nenhuma religião. Apesar de clichê, acaba sendo interessante. Depois, ficamos sabendo de alguns detalhes que dão mais sentido a tudo isso. Uma dica é prestar muita atenção aos detalhes do personagem de Anthony Mackie. Por isso, apesar de não ser um Blade Runner ou O Vingador do Futuro, Os Agentes do Destino não pode ser considerado um filme ruim a exemplo de O Vidente. Poderia ser melhor resolvido. Ainda assim, nos envolve. No final, a sensação é dúbia. Um sentimento de filme mediano, que não traz nenhuma grande inovação ou mudança, mas funciona como entretenimento. Pelo menos para aqueles que acreditam no amor verdadeiro.
Os Agentes do Destino (The Adjustment Bureau: 2011 /EUA)
Direção: George Nolfi
Roteiro: George Nolfi
Com: Matt Damon, Emily Blunt, John Slattery, Anthony Ruivivar, Terence Stamp, Anthony Mackie.
Duração: 105 min

