O futuro é agora
"Numa sociedade decadente, a Arte, se for verdadeira, deve também refletir a decadência. E a menos que queira atraiçoar a sua função social, a Arte deve mostrar o mundo como mutável e ajudar a mudá-lo." Ernst Fischer
Com esta frase, Peter Joseph começa o seu filme Zeitgeist Moving Forward - O futuro é agora. E este foi mais ou menos o tema do segundo dia do CineFuturo 2011, já que o diretor participou de um diálgo com o público mediado por Messias Bandeira e a exibição do filme de quase três horas de duração encerrou a noite.
Peter Joseph, segundo ele mesmo, criou um vídeo quase por acaso em 2007 e colocou na internet para ver no que é de dava. O fato é que Zeitgeist: The movie, que comparava as religiões e mitos se tornou um viral rapidamente atingindo 100 milhões de visualizações. Daí para o segundo filme, Zeitgeist: Addendum, em 2008, não precisou de muita coisa, Zeitgeist Moving Forward completa a trilogia e vai além, constrói um movimento em prol de um mundo melhor. Segundo Joseph, Zeitgeist não é uma instituição, mas um estilo, uma abordagem para se fazer o que é certo. O problema é que as pessoas esperam líderes que lhes digam o que fazer e façam a mudança por eles. E tudo acaba apenas mudando de sistema, sem nunca construir uma revolução verdadeira.
Os dois momentos foram interessantes em vários aspectos, mas o diálogo acabou sendo sub-aproveitado, pois o assunto político e econômico acabou dominando, girando em círculos, para o bem ou para o mal. E não se chegou mesmo a muitas conclusões. O filme acaba sendo mais proveitoso apesar de longo em excesso, até mesmo Peter Joseph admite isso, já que antes da exibição pediu paciência da platéia para a duração. Em quatro etapas, Zeitgeist começa apresentando a natureza humana, depois fala do que ele chama de patologia social, ou seja, é preciso criar um problema para criar lucro, e explica o projeto Terra para chegar à ascenção.
Facilmente daria para diminuir bastante a parte I, que acaba se assemelhando um pouco ao documentário Quem somos nós? A parte II é bastante interessante, mas acaba sendo óbvia em muitos aspectos, como alertar para o dinheiro que tem que ser fabricado dos juros, ou apontar para os eletrodomésticos que duram cada vez menos para manter o comércio aquecido. Algumas sacadas são interessantes como quando ele fala que o aumento do PIB é sempre significado de aumento de necessidade seja real ou fabricada e isso é o resumo da ineficiência. A parte III, é uma mistura de sustentabilidade e apresentação de um projeto especial de cidades projetadas, em uma sociedade, para ele, perfeita. E a parte IV, acaba sendo a mais utópica, ao mostrar como a revolução será feita.
De qualquer forma, Zeitgeist é um filme ideológico, com vertentes políticas claras, que nos traz duas coisas a princípio antagônicas, mas que aqui se unem de uma forma impressionante. Os ideais do passado, quando movimentos cinematográficos acreditavam no cinema como arma contra alienação e como proposta política, com o futuro das novas mídias. Peter Joseph não esperou editais, produtoras, convites. Fez, ele mesmo, sozinho, em sua casa, um filme, colocou na internet e conquistou seu público. Hoje em dia, o Zeitgeist possui núcleos em várias partes do mundo, inclusive um em Salvador, com quem o diretor irá se reunir na quinta-feira para uma palestra. Era esse fenômeno que queria ver discutido no diálogo hoje. O cinema como arma política, que voltará a voga na mesa de sexta-feira e as possibilidades que as novas mídias nos trazem. Ambos foram falados, mas de maneira muito tímida.
Mas, nem só de Zeitgeist viveu o CineFuturo hoje, logo pela manhã tivemos uma mesa sobre Cinema Experimental, com exemplos e discussões. E a partir de hoje, o TCA não foi o único foco do evento, começou a Retrospectiva Bertolucci com exibição de O Último Tango em Paris, Assédio e O Conformista. A Retrospectiva Sandrine Bonnaire com Aos Nossos Amores e Mulheres Diabólicas. E a Mostra Amor à Francesa com As Damas do Bosque de Boulogne e Madame Bovary. Sinto não poder conferir a tudo, pelo choque de horários.
Para finalizar, ainda no TCA, tivemos a exibição de dois curtas e um longametragem. Entre Vãos, de Luísa Caetano, um doc de 20 minutos que mostra a comunidade Vão das Almas, remanescente da comunidade quilombola Kalunga em Cavalcante (GO). De maneira ágil e sensível, Luísa mostra as crianças do local, seus pensamentos, suas dificuldades, seus conhecimentos sobre o mundo e o que acham da "cidade". Na outra sessão, a exibição da animação Tempestade, de César Cabral, em um stop motion muito bem feito, com um traço rústico e uma fotografia bela que conta a trajetória de um marinheiro em plena tempestade tentando voltar para o seu amor. Os detalhes são muito bem feitos.
Já o filme espanhol, Planos para Amanhã utiliza de uma linguagem não-linear com várias tramas que se juntam em determinado momento para contar as histórias de quatro mulheres em situações decisivas de suas vidas. Inês, uma mulher com quase quarenta anos que se descobre grávida, Antônia, mãe de um adolescente em um casamento estável, que é surpreendida pela volta de um grande amor do passado, e Marian e Mônica, mãe e filha que enfrentam a dificuldade de um divórcio conturbado, enquanto que Mônica começa a descobrir o amor através de internet. Em uma linguagem realista, sensível, com um estilo naturalista de imagem não tratada. Planos para Amanhã nos envolve em seu roteiro bem construído e emaranhado. Foi um alívio lúdico em um dia com tantas questões políticas.
Fotos de divulgação do CineFuturo.
Com esta frase, Peter Joseph começa o seu filme Zeitgeist Moving Forward - O futuro é agora. E este foi mais ou menos o tema do segundo dia do CineFuturo 2011, já que o diretor participou de um diálgo com o público mediado por Messias Bandeira e a exibição do filme de quase três horas de duração encerrou a noite.
Peter Joseph, segundo ele mesmo, criou um vídeo quase por acaso em 2007 e colocou na internet para ver no que é de dava. O fato é que Zeitgeist: The movie, que comparava as religiões e mitos se tornou um viral rapidamente atingindo 100 milhões de visualizações. Daí para o segundo filme, Zeitgeist: Addendum, em 2008, não precisou de muita coisa, Zeitgeist Moving Forward completa a trilogia e vai além, constrói um movimento em prol de um mundo melhor. Segundo Joseph, Zeitgeist não é uma instituição, mas um estilo, uma abordagem para se fazer o que é certo. O problema é que as pessoas esperam líderes que lhes digam o que fazer e façam a mudança por eles. E tudo acaba apenas mudando de sistema, sem nunca construir uma revolução verdadeira.
Os dois momentos foram interessantes em vários aspectos, mas o diálogo acabou sendo sub-aproveitado, pois o assunto político e econômico acabou dominando, girando em círculos, para o bem ou para o mal. E não se chegou mesmo a muitas conclusões. O filme acaba sendo mais proveitoso apesar de longo em excesso, até mesmo Peter Joseph admite isso, já que antes da exibição pediu paciência da platéia para a duração. Em quatro etapas, Zeitgeist começa apresentando a natureza humana, depois fala do que ele chama de patologia social, ou seja, é preciso criar um problema para criar lucro, e explica o projeto Terra para chegar à ascenção.
Facilmente daria para diminuir bastante a parte I, que acaba se assemelhando um pouco ao documentário Quem somos nós? A parte II é bastante interessante, mas acaba sendo óbvia em muitos aspectos, como alertar para o dinheiro que tem que ser fabricado dos juros, ou apontar para os eletrodomésticos que duram cada vez menos para manter o comércio aquecido. Algumas sacadas são interessantes como quando ele fala que o aumento do PIB é sempre significado de aumento de necessidade seja real ou fabricada e isso é o resumo da ineficiência. A parte III, é uma mistura de sustentabilidade e apresentação de um projeto especial de cidades projetadas, em uma sociedade, para ele, perfeita. E a parte IV, acaba sendo a mais utópica, ao mostrar como a revolução será feita.
De qualquer forma, Zeitgeist é um filme ideológico, com vertentes políticas claras, que nos traz duas coisas a princípio antagônicas, mas que aqui se unem de uma forma impressionante. Os ideais do passado, quando movimentos cinematográficos acreditavam no cinema como arma contra alienação e como proposta política, com o futuro das novas mídias. Peter Joseph não esperou editais, produtoras, convites. Fez, ele mesmo, sozinho, em sua casa, um filme, colocou na internet e conquistou seu público. Hoje em dia, o Zeitgeist possui núcleos em várias partes do mundo, inclusive um em Salvador, com quem o diretor irá se reunir na quinta-feira para uma palestra. Era esse fenômeno que queria ver discutido no diálogo hoje. O cinema como arma política, que voltará a voga na mesa de sexta-feira e as possibilidades que as novas mídias nos trazem. Ambos foram falados, mas de maneira muito tímida.
Mas, nem só de Zeitgeist viveu o CineFuturo hoje, logo pela manhã tivemos uma mesa sobre Cinema Experimental, com exemplos e discussões. E a partir de hoje, o TCA não foi o único foco do evento, começou a Retrospectiva Bertolucci com exibição de O Último Tango em Paris, Assédio e O Conformista. A Retrospectiva Sandrine Bonnaire com Aos Nossos Amores e Mulheres Diabólicas. E a Mostra Amor à Francesa com As Damas do Bosque de Boulogne e Madame Bovary. Sinto não poder conferir a tudo, pelo choque de horários.
Para finalizar, ainda no TCA, tivemos a exibição de dois curtas e um longametragem. Entre Vãos, de Luísa Caetano, um doc de 20 minutos que mostra a comunidade Vão das Almas, remanescente da comunidade quilombola Kalunga em Cavalcante (GO). De maneira ágil e sensível, Luísa mostra as crianças do local, seus pensamentos, suas dificuldades, seus conhecimentos sobre o mundo e o que acham da "cidade". Na outra sessão, a exibição da animação Tempestade, de César Cabral, em um stop motion muito bem feito, com um traço rústico e uma fotografia bela que conta a trajetória de um marinheiro em plena tempestade tentando voltar para o seu amor. Os detalhes são muito bem feitos.
Já o filme espanhol, Planos para Amanhã utiliza de uma linguagem não-linear com várias tramas que se juntam em determinado momento para contar as histórias de quatro mulheres em situações decisivas de suas vidas. Inês, uma mulher com quase quarenta anos que se descobre grávida, Antônia, mãe de um adolescente em um casamento estável, que é surpreendida pela volta de um grande amor do passado, e Marian e Mônica, mãe e filha que enfrentam a dificuldade de um divórcio conturbado, enquanto que Mônica começa a descobrir o amor através de internet. Em uma linguagem realista, sensível, com um estilo naturalista de imagem não tratada. Planos para Amanhã nos envolve em seu roteiro bem construído e emaranhado. Foi um alívio lúdico em um dia com tantas questões políticas.
Fotos de divulgação do CineFuturo.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O futuro é agora
2011-07-27T08:21:00-03:00
Amanda Aouad
cinefuturo2011|Festival|materias|
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