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Paolla Oliveira
Uma Professora Muito Maluquinha
Uma Professora Muito Maluquinha
Pense em uma professora que marcou sua vida escolar. Tenho certeza de que ela não seguiu a cartilha pré-estabelecida de educação. Lembro até hoje de uma professora de história que fez uma gincana com os assuntos estudados, ou de um professor de física que fez uma prova como se fosse um videogame, ou ainda uma professora de ciências que fez uma aposta em chocolates para quem tirasse uma determinada nota na prova. Ensinar é mesmo uma arte que merece atenção. E quanto mais você inventar formas para atrair a atenção dos alunos, melhor. Assim, Ziraldo, mestre em ensinar crianças e adultos através de suas histórias lúdicas, criou Catarina, uma professora fora da convenção que chega às telas do cinema com a mesma graça que emprestou às páginas do livro de 1995.
Catarina retorna a sua cidade natal para ensinar em uma turma do terceiro ano primário. Como descreve o garotinho Luiz, o narrador da história. "As meninas querem ser lindas como ela e os meninos desejam crescer depressa para pedi-la em casamento." O problema é que tanta beleza e entusiasmo começa a despertar a inveja das outras professoras que não entendem os métodos nada ortodoxos de Cate, como ela prefere ser chamada. Alheia aos preconceitos e maledicências locais, entre invenções e novidades, Cate vai ensinando a seus alunos um pouco da vida e despertando neles a noção do que seja de fato a felicidade.
Com roteiro do próprio Ziraldo, que faz ainda uma pequena participação na trama, o filme de André Pinto, César Rodrigues consegue trazer uma atmosfera lúdica e gostosa de acompanhar desde o princípio. O filme é infantil e, como tal, tem uma linguagem fácil, pontuada, até mesmo didática em vários pontos, como o sempre reforço da narração de Luiz para explicar aquele mundo que está sendo apresentado. É interessante ver as referências que vão construindo o roteiro como a história dos três mosqueteiros. Luiz, tal qual D'Artagnan, marca uma luta após a aula com três outros garotos que no final se tornam seus melhores amigos. E ainda ganha uma Milady, só que menos perigosa. Claro, estamos falando de crianças. Mas, como ele mesmo reforça, não é o herói nessa história, que tem a visão da criança, mas é centrada no papel da "Dona Cate" e suas "maluquices"
Nesse ponto é importante ressaltar a graça, beleza e talento de Paola Oliveira, que em nada lembra a apagada participação na última novela da Rede Globo. O papel caiu-lhe como uma luva e ela consegue traduzir bem a essência da personagem criada por Ziraldo. Os meninos também seguem a boa interpretação, sendo bastante naturais e divertidos, apenas a pequena Ana Beatriz Caruncho soa artificial. Destaque ainda para ilustre participação de Chico Anysio como o Monsenhor e o sortido elenco adulto que auxilia a construir o clima mineiro de uma cidade do interior dos anos 40. Cada detalhe é bem organizado, desde o sotaque, as gírias, as roupas e o jeito de se portar.
A direção nos conduz por esse cenário, sempre brincando com a narrativa como quando Cate entra na sala de aula pela primeira vez em câmera lenta e todos olham boquiabertos. Ou quando ela lê os livros de romance folhetim e foca o olhar das crianças se reunindo em emoção. A câmera passeia pela escola em busca das aulas de Catarina, sem esquecer de fazer a comparação com a reação nos corredores das outras professoras e diretoras, sempre em tom de piada e jogo de imagens. Uma boa cena é quando o padre Beto entra na sala e os meninos escondem os gibis embaixo da carteira. A câmera já nos avisa que uma ficou no chão, antes mesmo de o padre chegar perto dela. É interessante também o jogo com o padre de frente para turma, de costas para Cate e quando ele pergunta sobre o dever de casa, a câmera vira para encontrá-la na maior inocência dizendo: mas quando é que eles vão brincar?
Em determinado momento, a diretora entra na sala gritando: "vamos parar com essa felicidade". Está aí a grande mensagem de Ziraldo. Querem acabar com a felicidade do mundo padronizando o ensino, criar robôs que decoram e não aprendem. E que no final não tem a menor noção do que seja a vida, nem o que ela espera deles. Cate com seu jeito aparentemente maluquinho despertou em suas crianças a vontade de aprender, a curiosidade pela busca do conhecimento. E é isso que traduz a única música que a atriz canta com as crianças em determinado momento do filme.
Uma Professora Muito Maluquinha é um filme fábula. Com uma linguagem simples, infantil, até mesmo ingênua. Mas, com a mensagem final de lição de vida fugindo do convencional, como só Ziraldo sabe fazer. Porque Maluquinho mesmo é aquele que não se dá permissão de experimentar o novo. Uma ode à inocência infantil que está tão esquecida nos tempos de hoje.
Uma Professora Muito Maluquinha (Uma Professora Muito Maluquinha: 2011 / Brasil)
Direção: André Pinto, César Rodrigues
Roteiro: Ziraldo
Com: Paola Oliveira, Chico Anysio, Suely Franco, Joaquim Lopes, Ricardo Pereira, Max Fercondini.
Duração: 120 min.
Catarina retorna a sua cidade natal para ensinar em uma turma do terceiro ano primário. Como descreve o garotinho Luiz, o narrador da história. "As meninas querem ser lindas como ela e os meninos desejam crescer depressa para pedi-la em casamento." O problema é que tanta beleza e entusiasmo começa a despertar a inveja das outras professoras que não entendem os métodos nada ortodoxos de Cate, como ela prefere ser chamada. Alheia aos preconceitos e maledicências locais, entre invenções e novidades, Cate vai ensinando a seus alunos um pouco da vida e despertando neles a noção do que seja de fato a felicidade.
Com roteiro do próprio Ziraldo, que faz ainda uma pequena participação na trama, o filme de André Pinto, César Rodrigues consegue trazer uma atmosfera lúdica e gostosa de acompanhar desde o princípio. O filme é infantil e, como tal, tem uma linguagem fácil, pontuada, até mesmo didática em vários pontos, como o sempre reforço da narração de Luiz para explicar aquele mundo que está sendo apresentado. É interessante ver as referências que vão construindo o roteiro como a história dos três mosqueteiros. Luiz, tal qual D'Artagnan, marca uma luta após a aula com três outros garotos que no final se tornam seus melhores amigos. E ainda ganha uma Milady, só que menos perigosa. Claro, estamos falando de crianças. Mas, como ele mesmo reforça, não é o herói nessa história, que tem a visão da criança, mas é centrada no papel da "Dona Cate" e suas "maluquices"
Nesse ponto é importante ressaltar a graça, beleza e talento de Paola Oliveira, que em nada lembra a apagada participação na última novela da Rede Globo. O papel caiu-lhe como uma luva e ela consegue traduzir bem a essência da personagem criada por Ziraldo. Os meninos também seguem a boa interpretação, sendo bastante naturais e divertidos, apenas a pequena Ana Beatriz Caruncho soa artificial. Destaque ainda para ilustre participação de Chico Anysio como o Monsenhor e o sortido elenco adulto que auxilia a construir o clima mineiro de uma cidade do interior dos anos 40. Cada detalhe é bem organizado, desde o sotaque, as gírias, as roupas e o jeito de se portar.
A direção nos conduz por esse cenário, sempre brincando com a narrativa como quando Cate entra na sala de aula pela primeira vez em câmera lenta e todos olham boquiabertos. Ou quando ela lê os livros de romance folhetim e foca o olhar das crianças se reunindo em emoção. A câmera passeia pela escola em busca das aulas de Catarina, sem esquecer de fazer a comparação com a reação nos corredores das outras professoras e diretoras, sempre em tom de piada e jogo de imagens. Uma boa cena é quando o padre Beto entra na sala e os meninos escondem os gibis embaixo da carteira. A câmera já nos avisa que uma ficou no chão, antes mesmo de o padre chegar perto dela. É interessante também o jogo com o padre de frente para turma, de costas para Cate e quando ele pergunta sobre o dever de casa, a câmera vira para encontrá-la na maior inocência dizendo: mas quando é que eles vão brincar?
Em determinado momento, a diretora entra na sala gritando: "vamos parar com essa felicidade". Está aí a grande mensagem de Ziraldo. Querem acabar com a felicidade do mundo padronizando o ensino, criar robôs que decoram e não aprendem. E que no final não tem a menor noção do que seja a vida, nem o que ela espera deles. Cate com seu jeito aparentemente maluquinho despertou em suas crianças a vontade de aprender, a curiosidade pela busca do conhecimento. E é isso que traduz a única música que a atriz canta com as crianças em determinado momento do filme.
Uma Professora Muito Maluquinha é um filme fábula. Com uma linguagem simples, infantil, até mesmo ingênua. Mas, com a mensagem final de lição de vida fugindo do convencional, como só Ziraldo sabe fazer. Porque Maluquinho mesmo é aquele que não se dá permissão de experimentar o novo. Uma ode à inocência infantil que está tão esquecida nos tempos de hoje.
Uma Professora Muito Maluquinha (Uma Professora Muito Maluquinha: 2011 / Brasil)
Direção: André Pinto, César Rodrigues
Roteiro: Ziraldo
Com: Paola Oliveira, Chico Anysio, Suely Franco, Joaquim Lopes, Ricardo Pereira, Max Fercondini.
Duração: 120 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Uma Professora Muito Maluquinha
2011-10-10T10:00:00-03:00
Amanda Aouad
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