E viva o cinema nacional
Em 05 de novembro de 1896 tivemos a primeira exibição cinematográfica do País, por isso, a data ficou conhecida como o Dia do Cinema Brasileiro. Há controvérsias quanto à comemoração, já que o dia 19 de junho é o dia do Cinema Nacional porque foi a data da primeira filmagem feita em solo brasileiro. Mas, nunca é demais falar do nosso próprio cinema, afinal, evoluímos muito a cada dia.
O cinema nacional está com um nível de diversidade muito bom nos últimos anos, temos mais de cem produções por ano, uma variedade de temas e estilos. Diversos filmes de qualidade técnica e artística incontestáveis. Estamos começando a produzir bons filmes de gêneros. Um exemplo é a quantidade de profissionais brasileiros que estão começando a chamar a atenção em Hollywood, desde atores como Alice Braga que se destaca a cada nova produção, Rodrigo Santoro que tem construído seu espaço, Wagner Moura em sua primeira produção internacional, passando por diretores como Fernando Meirelles, Walter Salles, Carlos Saldanha, José Padilha e até montadores como Daniel Rezende que participou de Árvore da Vida. Isso sem falar de Cesar Raphael que, após o sucesso com seu curta Pedaço de Papel, está roteirizando e vai dirigir seu primeiro filme em Hollywood.
E não é verdade, por exemplo que o cinema nacional é feito apenas de comédias bobas ou filmes de favela e violência. Das grandes produções que chegam aos cinemas, a comédia ainda se sobresai, é verdade, principalmente as com a marca da Globo Filmes. Comédias são gêneros de apelo popular, tem uma forte ligação com a televisão também, principalmente produto cultural brasileiro, talvez o próprio exemplo de Se eu fosse você tenha deixado a impressão de que é bilheteria garantida. E infelizmente tem se comprovado, já que vemos filmes como Cilada.com ganhar de obras melhor desenvolvidas como O Homem do Futuro, que trouxe um pouco de ficção científica para o cinema nacional.
Mas, temos muitos dramas existenciais, principalmente, entre os filmes independentes. Esses são sempre temas caros ao cinema em geral, ao cinema de autor, de auto-afirmação, é intrínseco a arte. Dois bons representantes desse tipo de filme são Meu País e O Palhaço. O primeiro, um filme sensível de André Ristum, com Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabela e Paulo José. Bem conduzido, demonstra que relações familiares nem sempre precisam ser conduzidas pelo viés do melodrama. O segundo é uma pequena pérola que Selton Mello traz para as telas e consegue nos envolver em uma história emocionante e extremamente simples. As piadas são bem colocadas, não caem no clichê, não usam palavrão, sexo ou escatologia. É construído com a inocência da arte circense. Da tradição do clown. Da beleza das descobertas da infância.
Há um amadurecimento no exercício do fazer, no surgimento de um espírito de profissionalização maior, com sindicatos, tabelas de preços, no investimento em formação de técnicos em todas as áreas. O único entrave continua sendo a distribuição, porque esta continua controlada pelas grandes majores norte-americanas. Se você não consegue um acordo com uma dessas distribuidoras, fica difícil conseguir espaço nas salas, principalmente nas redes de cinema de shopping. Cada grande lançamento que uma Fox, Sony, Warner vende ao cinema, vem com um pacote de outros tantos filmes de seu interesse.
Mas, mesmo aí, já existem algumas iniciativas como o Projeto Vitrine que começou a exibir esse ano filmes que se destacam em Festivais e não tem espaço no circuito comercial. Além da criação da Nossa Distribuidora que traz nova perspectiva ao mercado. Criada pela união de Conspiração Filmes, Lereby, Mobz, Morena Filmes, O2 Filmes, Vinny Filmes e Zazen Produções tem o intuito de promover e melhorar a distribuição do cinema brasileiro. A idéia é não distribuir apenas filmes das sete produtoras participantes, mas dar um controle maior ao produtor, viabilizando a função no país. Tem ainda as salas de arte, os circuitos alternativos, os próprios festivais, os cineclubes e claro, a internet, com diversas possibilidades de visualização. Esse ano tivemos, por exemplo, o lançamento de O Samba que mora em mim, primeiro no site EloCompany. Graças a ele pude, assistir esse belo documentário que não chegou a Salvador.
É tudo uma questão de costume. Formando o público com filmes nacionais, eles mesmos vão atrás de mais. Porque boas opções não faltam. Cinema nacional não é uma entidade única, não é uma categoria ou gênero como insistem em classificar, é uma diversidade de temas e gêneros que merece ser tratado com respeito. Aqui uma lista de bons filmes desse ano só para dar um exemplo, em ordem de lançamento.
1 - Desenrola (Rosane Svartman)
2 - O samba que mora em mim (Geórgia Guerra-Peixe)
3 - VIPS (Toniko Melo)
4 - AMOR? (João Jardim)
5 - Estrada para Ythaca (Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti)
6 - Estamos Juntos (Toni Venturi)
7 - Assalto ao Banco Central (Marcos Paulo)
8 - Filhos de João, O Admirável mundo novo baiano (Henrique Dantas)
9 - Onde está a felicidade? (Carlos Alberto Riccelli)
10 - O Homem do Futuro (Cláudio Torres)
11 - Bahêa minha vida (Márcio Cavalcanti)
12 - Uma professora muito maluquinha (André Pinto, César Rodrigues)
13 - Meu País (André Ristum)
14 - Rock Brasília (Vladimir Carvalho)
15 - O Palhaço (Selton Mello)
Para acompanhar uma parte da trajetória do crescimento do Cinema Brasileiro em resumo, vale a pena assistir esse vídeo abaixo, apesar de faltar algumas obras importantes. E viva o Cinema Nacional!
O cinema nacional está com um nível de diversidade muito bom nos últimos anos, temos mais de cem produções por ano, uma variedade de temas e estilos. Diversos filmes de qualidade técnica e artística incontestáveis. Estamos começando a produzir bons filmes de gêneros. Um exemplo é a quantidade de profissionais brasileiros que estão começando a chamar a atenção em Hollywood, desde atores como Alice Braga que se destaca a cada nova produção, Rodrigo Santoro que tem construído seu espaço, Wagner Moura em sua primeira produção internacional, passando por diretores como Fernando Meirelles, Walter Salles, Carlos Saldanha, José Padilha e até montadores como Daniel Rezende que participou de Árvore da Vida. Isso sem falar de Cesar Raphael que, após o sucesso com seu curta Pedaço de Papel, está roteirizando e vai dirigir seu primeiro filme em Hollywood.
E não é verdade, por exemplo que o cinema nacional é feito apenas de comédias bobas ou filmes de favela e violência. Das grandes produções que chegam aos cinemas, a comédia ainda se sobresai, é verdade, principalmente as com a marca da Globo Filmes. Comédias são gêneros de apelo popular, tem uma forte ligação com a televisão também, principalmente produto cultural brasileiro, talvez o próprio exemplo de Se eu fosse você tenha deixado a impressão de que é bilheteria garantida. E infelizmente tem se comprovado, já que vemos filmes como Cilada.com ganhar de obras melhor desenvolvidas como O Homem do Futuro, que trouxe um pouco de ficção científica para o cinema nacional.
Mas, temos muitos dramas existenciais, principalmente, entre os filmes independentes. Esses são sempre temas caros ao cinema em geral, ao cinema de autor, de auto-afirmação, é intrínseco a arte. Dois bons representantes desse tipo de filme são Meu País e O Palhaço. O primeiro, um filme sensível de André Ristum, com Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabela e Paulo José. Bem conduzido, demonstra que relações familiares nem sempre precisam ser conduzidas pelo viés do melodrama. O segundo é uma pequena pérola que Selton Mello traz para as telas e consegue nos envolver em uma história emocionante e extremamente simples. As piadas são bem colocadas, não caem no clichê, não usam palavrão, sexo ou escatologia. É construído com a inocência da arte circense. Da tradição do clown. Da beleza das descobertas da infância.
Há um amadurecimento no exercício do fazer, no surgimento de um espírito de profissionalização maior, com sindicatos, tabelas de preços, no investimento em formação de técnicos em todas as áreas. O único entrave continua sendo a distribuição, porque esta continua controlada pelas grandes majores norte-americanas. Se você não consegue um acordo com uma dessas distribuidoras, fica difícil conseguir espaço nas salas, principalmente nas redes de cinema de shopping. Cada grande lançamento que uma Fox, Sony, Warner vende ao cinema, vem com um pacote de outros tantos filmes de seu interesse.
Mas, mesmo aí, já existem algumas iniciativas como o Projeto Vitrine que começou a exibir esse ano filmes que se destacam em Festivais e não tem espaço no circuito comercial. Além da criação da Nossa Distribuidora que traz nova perspectiva ao mercado. Criada pela união de Conspiração Filmes, Lereby, Mobz, Morena Filmes, O2 Filmes, Vinny Filmes e Zazen Produções tem o intuito de promover e melhorar a distribuição do cinema brasileiro. A idéia é não distribuir apenas filmes das sete produtoras participantes, mas dar um controle maior ao produtor, viabilizando a função no país. Tem ainda as salas de arte, os circuitos alternativos, os próprios festivais, os cineclubes e claro, a internet, com diversas possibilidades de visualização. Esse ano tivemos, por exemplo, o lançamento de O Samba que mora em mim, primeiro no site EloCompany. Graças a ele pude, assistir esse belo documentário que não chegou a Salvador.
É tudo uma questão de costume. Formando o público com filmes nacionais, eles mesmos vão atrás de mais. Porque boas opções não faltam. Cinema nacional não é uma entidade única, não é uma categoria ou gênero como insistem em classificar, é uma diversidade de temas e gêneros que merece ser tratado com respeito. Aqui uma lista de bons filmes desse ano só para dar um exemplo, em ordem de lançamento.
1 - Desenrola (Rosane Svartman)
2 - O samba que mora em mim (Geórgia Guerra-Peixe)
3 - VIPS (Toniko Melo)
4 - AMOR? (João Jardim)
5 - Estrada para Ythaca (Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti)
6 - Estamos Juntos (Toni Venturi)
7 - Assalto ao Banco Central (Marcos Paulo)
8 - Filhos de João, O Admirável mundo novo baiano (Henrique Dantas)
9 - Onde está a felicidade? (Carlos Alberto Riccelli)
10 - O Homem do Futuro (Cláudio Torres)
11 - Bahêa minha vida (Márcio Cavalcanti)
12 - Uma professora muito maluquinha (André Pinto, César Rodrigues)
13 - Meu País (André Ristum)
14 - Rock Brasília (Vladimir Carvalho)
15 - O Palhaço (Selton Mello)
Para acompanhar uma parte da trajetória do crescimento do Cinema Brasileiro em resumo, vale a pena assistir esse vídeo abaixo, apesar de faltar algumas obras importantes. E viva o Cinema Nacional!
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
E viva o cinema nacional
2011-11-06T09:25:00-02:00
Amanda Aouad
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