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Cilada.com - Bruno MazzeoQuem nunca se viu em uma grande cilada? Com essa premissa, Bruno Mazzeo criou um bom programa de humor no canal fechado Multishow, que depois virou um quadro no Fantástico. Situações difíceis analisadas através de esquetes bem humoradas. É mesmo um bom programa, o problema é transformar isso em um filme justificável. Acabou se tornando uma obra bonitinha, mas ordinária, e divertida, sim. Você vai dar risada, mas isso não é tudo em uma obra cinematográfica.

A história gira em torno de Bruno, o personagem de Mazzeo, que após ser flagrado por sua namorada com outra mulher vê sua vida se transformar em um verdadeiro inferno. A garota coloca um vídeo dos dois em uma situação vexatória na cama e este vira um hit na internet, com direito a vários remixes e piadas. Em uma tentativa infantil de provar sua masculinidade, Bruno resolve ouvir conselhos de seus amigos e gravar um vídeo da verdadeira transa perfeita. Várias esquetes, então, vão construindo o roteiro que, em sua curva dramática principal acaba sendo frágil e óbvio, com direito a tema romântico de Lobão toda vez em que Bruno ensaia dizer três palavrinhas mágicas.

Cilada.com - Bruno MazzeoO filme já começa pretensioso com uma animação nos créditos que saltam mais aos olhos do que qualquer outra coisa. Não precisava. Fora que é o segundo filme roteirizado por Bruno Mazzeo em que o personagem dele começa traindo a namorada. Em Muita Calma Nessa Hora, esse é o plot para as três amigas irem para Búzios. Mas, o roteirista é bastante feliz ao utilizar um tema tão atual como argumento de sua história. Afinal, a internet e os virais no Youtube são mesmo a realidade de nossa época, ainda mais com as versões, reconstruções e passagens para outras mídias. O problema é que ele não conecta tão bem as idéias jogadas na tela.

Cilada.com - Bruno Mazzeo e Serjão LorozaNão digo que o roteiro seja ruim. A idéia de esquetes acaba até criando eco com o programa original, mas se torna uma grande bobagem sem consistência. A começar pela caça de Bruno à parceira perfeita que me lembrou a música 2345Meia78 de Gabriel, O Pensador. É engraçada, mas não faz mesmo o menor sentido. A entrada do personagem de Serjão Loroza traz uma graça incrível a história, uma das melhores coisas do filme, mas também não faz o menor sentido. Afinal, ele não tinha uma câmera? E pra que tanta confusão em relação a isso? A profissão de Bruno, um publicitário medíocre, é outra coisa que não encaixa. As apresentações de campanha são das coisas mais absurdas que já vimos. Isso sem falar no personagem do chefe, Fulvio Stefanini, com aquele cabelo esquisito e aquela conversa insana com a filha de sete anos.

Cilada.com - Bruno Mazzeo e Fernanda Paes LemeMas, mesmo sem sentido, as esquetes trazem situações hilárias como a cena no restaurante japonês. O jogo de cena, o enquadramento variando entre os dois, a família na mesa e o plano geral é bem orquestrado. O ritmo da cena nos envolve se tornando a melhor de todas. Os diálogos também são bem realizados e cheios de mensagens subliminares. Aliás, o diálogo é bastante feliz em vários momentos, como na cena inicial da apresentação do pai da noiva, tendo a sombra de Bruno e a mulher ao fundo. Ou quando Marconha, personagem de Serjão, conhece a empregada Augusta, vivida por Karla Karenina. Ou a cena de Luís Miranda como um divertido tarólogo que promete trazer a mulher amada em três dias.

Cilada.com - Bruno MazzeoO problema é que assim como tem boas cenas, tem outras lamentáveis como a do sonho do personagem em uma reunião absurda. Tudo ali é de extremo mau gosto, difícil até de dar risada. Toda a situação na agência de publicidade também é dispensável. Primeiro não tem nenhuma ligação com a história principal, depois é um show de horrores, mau gosto e irrealidade. Não falo nem apenas da realidade de uma agência de publicidade, já que há a licença poética. Mas, só imbecis acreditariam que aquelas duas idéias poderiam resultar em algo bom. E o pior, não há uma conclusão da situação. Fica algo solto e forçado.

Cilada.com - Bruno MazzeoO elenco está bem, também não é para menos, já que José Alvarenga Jr. reuniu boa parte dos comediantes brasileiros para participações no filme. Tem até Dani Calabreza como a apresentadora de um programa feminino sem noção. Mas, não podemos dizer que o diretor não tenha decisões inteligentes como a forma de enquadrar Serjão Loroza na já citada cena com a empregada, ou nas diversas tentativas de gravação, como na cena com as velas. A solução visual da cena final também é muito bem realizada. Com uma bela fotografia, ainda que cheia de clichês.

O diretor, que já fez sucessos de público como os dois filmes da série Os Normais e recentemente teve ótima bilheteria com o divertido Divã, deve emplacar mais um sucesso. Afinal, o público adora dar risada em filmes nacionais. O problema é quando isso se torna a única coisa do filme. O momento mais introspectivo de Cilada.com é a frase filosófica de Bruno em uma cena chuvosa que deveria ser mesmo o título de sua campanha: "Tem gente que bebe para curtir o momento e perde a vida inteira". A gente podia dar risada com um pouquinho mais de conteúdo, seria pedir demais?


Cilada.com (Cilada.com: 2011 / Brasil)
Direção: José Alvarenga Jr.
Roteiro: Bruno Mazzeo e Rosana Ferrão, com colaboração de Marcelo Saback e José Alvarenga Jr.
Com: Bruno Mazzeo, Fernanda Paes Leme, Sérgio Loroza, Augusto Madeira, Carol Castro, Fabiula Nascimento, Fulvio Stefanini, Thelmo Fernandes, Karla Karenina.
Duração: 107 min.

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