
Assistir ao filme
Anjos da Lei foi um trabalho de desprendimento. Acompanhei em minha infância a série que passava na
Rede Globo, sendo fã principalmente dos personagens de
Holly Robinson Peete (Judy Hoffs) e, claro, de
Johnny Depp (Tom Hanson). Era uma série com um certo humor, mas o foco era o drama e investigação daqueles jovens que se infiltravam na
High School para investigar crimes organizados, principalmente relacionados ao tráfico de drogas.
Ao ver o
trailer, percebi que minha doce lembrança da infância se perdera na nova onda de
filmes para
adolescentes: o
humor escrachado.
Anjos da Lei, o
filme, está mais para
Bad Boys e
As Branquelas, que propriamente à antiga série da
21 Jump Street. Então, era preciso analisá-lo como tal, sem rancores e ranços de uma fã de uma
série já esquecida pela maioria. E despindo-me de tal ideia devo dizer que, ainda assim, o
filme não passa de um entretenimento barato, que pode fazer sucesso, mas também será brevemente esquecido.

Um dos pontos positivos do roteiro de
Michael Bacall e
Jonah Hill é brincar com passado e presente dando algumas alfinetadas inteligentes. A começar pelo momento em que os dois
policiais iniciantes são convocados para fazer parte do time dos
Anjos da Lei. "É um programa dos anos 80 que estava desativado e resolveram reviver", disse o Capitão Dickson. E ainda continua sua crítica ferina completando que "Hoje em dia, é o que eles mais fazem, reciclar ideias dos anos 80. Não tem criatividade para algo novo". Mais à frente, os dois
policiais vão perceber que a escola de hoje não é mais como a que eles frequentavam. Os valores estão invertidos, a preocupação excessiva com o politicamente correto e ecologia mudou os estereótipos. "Culpa de
Glee", sentencia um deles.

A história é bem essa, dois jovens
policiais, vividos por
Jonah Hill e
Channing Tatum voltam disfarçados de estudantes a um colégio para descobrir quem é o fornecedor de uma nova droga:
Holy Shit! Pelo nome já dá pra perceber que não pode ser levada a sério, né? A logo de seu papel então, é um desenho singelo de fezes com uma auréola. A missão é simples, se enturmar com os traficantes e descobrir o fornecedor, repete o capitão interpretado pelo
rapper Ice Cube.
E é interessante também como o roteiro brinca com os estereótipos dos dois atores protagonistas. Jenko, vivido por
Channing Tatum, é o galã, o antigo garoto popular de sua turma, descolado e que acha que sabe tudo. Enquanto que Schmidt, vivido por
Jonah Hill, é o gordinho CDF, rejeitado, que tem trauma do
High School e é atrapalhado em tudo que faz. Ao inverter os papéis no disfarce, ambos começam a lidar com pessoas, estereótipos e rotinas completamente diferentes que influenciam em suas missões e forma de encarar aquilo tudo. Poderia resultar em um
filme ótimo, se não fosse a insistência em nivelar tudo por baixo, com piadas escatológicas, atrapalhadas, sem sentido e complicações absurdas.

Agora, há uma intercalação entre as tolices e as críticas a elas, como a piada em relação a explosão de carros ao se chocarem em
filmes de ação. Não apenas nas duas primeiras expectativas frustradas como na piada da batida seguinte. Mas, ao mesmo tempo em que o roteiro insiste em piadas inteligentes com os clichês e reciclagens de ideias, faz questão de manter seus protagonistas como dois
idiotas, sempre com atitudes estúpidas e irritantes. Isso torna a trama irregular e irritante em vários momentos. Por fim, tem uma espécie de homenagem à série antiga, com direito a participações mais que especiais, que matam e enterram de vez o sonho da série dos anos 80.
Anjos da Lei é um
filme de
comédia irregular, com algumas piadas inteligentes, uns bons momentos e muita besteira. Diverte o público em geral, apesar de não ser nada demais e facilmente esquecível.
Anjos da Lei (21 Jump Street, 2012/ EUA)
Direção: Phil Lord e Chris Miller
Roteiro: Michael Bacall e Jonah Hill
Com: Jonah Hill, Channing Tatum, Brie Larson e Dave Franco
Duração: 109 min.