A Cor da Noite
No mesmo ano em que fez o boxer, digamos, sem palavras, em Pulp Fiction, Bruce Willis protagonizou um dos filmes mais controversos de sua carreira. A Cor da Noite chegou a levar a estatueta de Framboesa de Ouro de 1995 e é mais conhecido pelas cenas tórridas entre Willis e Jane March. Mas, não chega a ser um desastre completo, tendo nos personagens do grupo de terapia uma construção estranha e interessante ao mesmo tempo.
Bruce Willis é Bill Capa, um psicólogo que perde a capacidade de ver o vermelho após presenciar o suicídio de uma paciente em seu consultório. Traumatizado, ele resolve procurar Bob Moore, um amigo psicólogo, que ao mesmo tempo em que o ajuda, quer que ele ajude a solucionar um mistério dentro de seu grupo de terapia. Algum deles o está ameaçando de morte, mas antes que possam chegar a alguma conclusão, Bob é assassinado, colocando a vida de Bill também em perigo. Ao mesmo tempo em que ele mantêm o grupo tentando descobrir o provável assassino, começa a se envolver com uma garota misteriosa que bate em seu carro em um dia.
A história, e consequentemente seu roteiro, foram os quesitos mais criticados pela mídia em geral. Não tem muito pé nem cabeça, além de algumas pontas soltas. Começa de maneira exótica com a personagem Michelle, interpretada por Kathleen Wilhoite, "maquiando-se" e tentando se suicidar com um revólver. Mas, em vez de apertar o gatilho, ela começa a simular uma outra cena. Já dá para sentir que o clima do filme não será dos mais normais. Logo depois, ela surge no consultório de Bill Capa e em um exercício de se olhar no espelho pula janela abaixo, deixando seu médico traumatizado.
A apresentação do grupo de terapia é outra construção exótica, mas interessante, com todos os tipos clássicos da psicanálise: a ninfomaníaca, o obsessivo compulsivo, o masoquista, o enrustido, o neurótico. Todos interpretados por bons atores que dão peso às cenas no consultório e deixam o filme mais interessante. O ritmo ali parece ser conduzido de uma maneira diferente das tentativas pífias de demonstrar a rotina de alguns. Principalmente a de Bill Capa que a cada cena mais quente com a jovem misteriosa entra uma música de fundo completamente destoante de qualquer filme que se julgue sério. Nem mesmo como uma paródia aquilo funciona. Isso sem falar nos clipes que essas cenas proporcionam.
O trauma de Bill Capa também é pouco explorado. O fato dele não poder ver a cor vermelha gera apenas um problema quando um carro desta cor o persegue pelas ruas. No geral, se torna uma informação quase sem sentido. Poderia ser melhor explorada, gerar confusões maiores e problemas que dessem outro rumo à trama. Mas, apenas em uma cena aquilo se justifica em uma tentativa maior de construção e choque. Mas, mesmo aqui poderia ser melhor explorado.
O mistério em si, no entanto, consegue se sustentar e não chega a ser um amontoado estranho de justificativas infundadas. Faz sentido e já vinha dando pistas óbvias há bastante tempo, o que faz com que a revelação final não seja uma reviravolta tão impactante quanto os roteiristas esperavam que fosse, mas também não o torna totalmente risível.
A Cor da Noite é um filme tachado de "tosco", mas que tem alguns bons momentos. Apesar de um roteiro mal formulado, acaba se justificando em seu mistério principal e tem na força de seu elenco o chamariz para não se tornar um amontoado de perda de tempo.
A Cor da Noite (Color of night, 1994 / EUA)
Direção: Richard Rush
Roteiro: Billy Ray e Matthew Chapman
Com: Bruce Willis, Jane March, Rubén Blades, Lesley Ann Warren, Scott Bakula, Brad Dourif, Lance Henriksen, Kevin J. O'Connor, Shirley Knight, Kathleen Wilhoite e Eriq La Salle
Duração: 139 min.
Bruce Willis é Bill Capa, um psicólogo que perde a capacidade de ver o vermelho após presenciar o suicídio de uma paciente em seu consultório. Traumatizado, ele resolve procurar Bob Moore, um amigo psicólogo, que ao mesmo tempo em que o ajuda, quer que ele ajude a solucionar um mistério dentro de seu grupo de terapia. Algum deles o está ameaçando de morte, mas antes que possam chegar a alguma conclusão, Bob é assassinado, colocando a vida de Bill também em perigo. Ao mesmo tempo em que ele mantêm o grupo tentando descobrir o provável assassino, começa a se envolver com uma garota misteriosa que bate em seu carro em um dia.
A história, e consequentemente seu roteiro, foram os quesitos mais criticados pela mídia em geral. Não tem muito pé nem cabeça, além de algumas pontas soltas. Começa de maneira exótica com a personagem Michelle, interpretada por Kathleen Wilhoite, "maquiando-se" e tentando se suicidar com um revólver. Mas, em vez de apertar o gatilho, ela começa a simular uma outra cena. Já dá para sentir que o clima do filme não será dos mais normais. Logo depois, ela surge no consultório de Bill Capa e em um exercício de se olhar no espelho pula janela abaixo, deixando seu médico traumatizado.
A apresentação do grupo de terapia é outra construção exótica, mas interessante, com todos os tipos clássicos da psicanálise: a ninfomaníaca, o obsessivo compulsivo, o masoquista, o enrustido, o neurótico. Todos interpretados por bons atores que dão peso às cenas no consultório e deixam o filme mais interessante. O ritmo ali parece ser conduzido de uma maneira diferente das tentativas pífias de demonstrar a rotina de alguns. Principalmente a de Bill Capa que a cada cena mais quente com a jovem misteriosa entra uma música de fundo completamente destoante de qualquer filme que se julgue sério. Nem mesmo como uma paródia aquilo funciona. Isso sem falar nos clipes que essas cenas proporcionam.
O trauma de Bill Capa também é pouco explorado. O fato dele não poder ver a cor vermelha gera apenas um problema quando um carro desta cor o persegue pelas ruas. No geral, se torna uma informação quase sem sentido. Poderia ser melhor explorada, gerar confusões maiores e problemas que dessem outro rumo à trama. Mas, apenas em uma cena aquilo se justifica em uma tentativa maior de construção e choque. Mas, mesmo aqui poderia ser melhor explorado.
O mistério em si, no entanto, consegue se sustentar e não chega a ser um amontoado estranho de justificativas infundadas. Faz sentido e já vinha dando pistas óbvias há bastante tempo, o que faz com que a revelação final não seja uma reviravolta tão impactante quanto os roteiristas esperavam que fosse, mas também não o torna totalmente risível.
A Cor da Noite é um filme tachado de "tosco", mas que tem alguns bons momentos. Apesar de um roteiro mal formulado, acaba se justificando em seu mistério principal e tem na força de seu elenco o chamariz para não se tornar um amontoado de perda de tempo.
A Cor da Noite (Color of night, 1994 / EUA)
Direção: Richard Rush
Roteiro: Billy Ray e Matthew Chapman
Com: Bruce Willis, Jane March, Rubén Blades, Lesley Ann Warren, Scott Bakula, Brad Dourif, Lance Henriksen, Kevin J. O'Connor, Shirley Knight, Kathleen Wilhoite e Eriq La Salle
Duração: 139 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Cor da Noite
2012-05-05T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Bruce Willis|critica|Jane March|suspense|
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