
Escolho esse início também porque é uma sequência de cenas estáticas da cidade luz, que ela tanto amava, já tendo visitado por algumas vezes. E por ter como música que a embala, o jazz de Sidney Bechet, que tem o título "Si tu vois ma mère" (se você ver minha mãe) e que casa com uma certa melancolia e amorosidade que Woody Allen traz nas cenas.
Na verdade, Woody Allen fez uma escolha corajosa e genial ao iniciar Meia-Noite em Paris. São pouco mais de 3 minutos de imagens estáticas de Paris do amanhecer à noite alta, talvez meia-noite, quem sabe, nos mostrando suas ruas, seus pontos turísticos, seus detalhes cotidianos, tendo inclusive algumas delas sob a chuva. Muitos dizem que Paris fica ainda mais linda em dias chuvosos. É um belo passeio que nos ambienta e nos faz apaixonar pela cidade tal qual o próprio Allen e assim, embarcar com maior facilidade na trama que está por vir.

É corajoso porque são mais de 3 minutos de imagens, sem história, em uma plateia tão inquieta como a atual. Mas, é genial porque lida diretamente com a função estética dessa mesma plateia. É um clipe belo, envolvente, que desperta e aprimora os nossos sentidos e nos faz embarcar em um passeio turístico pela cidade. O olhar da câmera é o nosso olhar por aquela cidade tão cantada em versos e prosas por sua beleza, sua poesia, sua arte. Precisamos embarcar nesse clima para apreciar a história mágica que está por vir.
Então, convido-os a esse belo passeio. E que onde quer que esteja, minha mãe possa vê-lo também.