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Até a Eternidade

Até a EternidadeO grande problema de Até a Eternidade é a sua duração. 154 minutos é muito tempo para uma trama que quer apenas mostrar "Les Petits Mouchoirs", título original. A expressão seria algo como "jogar a poeira para baixo do tapete" e traduz perfeitamente as relações daquele grupo de amigos. A rotina cansa, mas a emoção final acaba sendo recompensadora, tornando o filme um belo exemplar da cinematografia francesa recente.

Ludo, em uma participação especial de Jean Dujardin, é um boêmio que depois de uma farra sofre um grave acidente de moto. Apesar da dor, seus amigos resolvem não adiar as férias tradicionais na casa de praia de Max, personagem de François Cluzet. E é lá que emoções diversas serão afloradas, seja através de memórias passadas, descobertas desconcertantes recentes, amores não resolvidos ou planos desfeitos. Tudo isso, enquanto Ludo luta por sua vida no hospital parisiense.

Até a EternidadeSeja pelo ótimo elenco, ou pelas fortes emoções que traz laços de amizade antigos, Até a Eternidade é gostoso de se acompanhar. As tramas vão se desenvolvendo naturalmente, aos poucos conhecemos seus personagens, os protagonistas e coadjuvantes de cada situação. A forma como aquele grupo funciona, ou não. Passamos a fazer parte da turma. Até por isso, o final é tão emocionante. Sentimos juntos cada acontecimento, não há como ficar imune, como um espectador distante. Cada personagem ali, cumpre uma função, o homem apaixonado pelo amigo mesmo sem nunca ter tido relações homossexuais, a mulher de relacionamentos instáveis, o dono da casa estressado, o aparente tolo que sofre por amor, o aparente esperto que também sofre por amor, o bon vivant que mora na praia.

Até a EternidadeO texto é bom, com diálogos naturais e também por isso, a trama flui facilmente. Mas, o melhor das situações é mesmo as expressões dos atores. A cada situação inusitada ou desconcertante, Guillaume Canet foca a expressão do retorno e não daquele que fala. Isso dá um ritmo especial, ainda mais interessante de ver. A ironia, o espanto, a dor, tudo é muito bem construído. Principalmente em situações delicadas como a moça que vem falar com Marie, personagem de Marion Cotillard, no restaurante ou quando Max enlouquece com uma Doninha. Esse jogo de troca nos torna cúmplices de todos.

Agora, pela longa duração em um filme que se forma em função de situações cotidianas, Guillaume Canet acaba perdendo a mão em alguns exageros. Cansa alguns clipes musicais que parecem apenas arrastar os dias, por exemplo. Há também situações desnecessárias, exageradas até como a que Max e Vincent (Benoît Magimel) ficam encalhados em um barco, com direito a perda do calção do personagem de François Cluzet, apenas para aumentar a tensão entre os dois personagens que já não conseguem resolver bem seus sentimentos. Há ainda situações engraçadas, mas que não acrescentam em nada como a cena em que os amigos deixam Marie ser puxada em um bote em alta velocidade, irritando, mas na cena seguinte ela já está tranquila, brincando com todos.

Até a EternidadeAinda assim, é esse ritmo aparentemente sem sentido que conduz o filme. Há cenas fundamentais que nos mostra emoções e detalhes do funcionamento daquele grupo como quando assistem à fita dos verões passados. Ali, se confirma o que já vinha sendo demonstrado durante todo o filme: que mesmo em um hospital a quilômetros de distância, Ludo está mais presente do que nunca naquele grupo. Sua função de fio condutor das relações e emoções torna-se clara, assim como a sua própria tristeza interna diante de uma exposição aparentemente feliz.

Até a Eternidade, então, é um dos mais belos tratados sobre a amizade. Não há uma relação perfeita e isso a torna tão real. Os personagens inquestionavelmente se amam, confiam um nos outros, mas muitas vezes não tem a coragem de ser verdadeiras nem com eles mesmo, quanto mais com o amigo ao lado. E tudo isso explode de uma maneira incrível na reta final. Não há mesmo como ficar indiferente.



Até a Eternidade (Les Petits Mouchoirs, 2011 / França)
Direção: Guillaume Canet
Roteiro: Guillaume Canet
Com: François Cluzet, Marion Cotillard, Benoît Magimel e Jean Dujardin
Duração: 154 min.

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