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O Dia Em Que Eu Não Nasci

O Dia Em Que Eu Não NasciUma alemã em um aeroporto na Argentina ouve uma canção de ninar em espanhol. Ela que não conhece uma palavra do idioma se emociona, reconhece a música e começa a cantar. O choro e a emoção são inevitáveis. Esse é o ponto de ataque do filme O Dia Em Que Eu Não Nasci. E nos prende de uma forma tão sublime que ficamos ali, junto com Maria, tentando descobrir o seu passado.

Maria nem deveria estar em Buenos Aires, seu destino era o Chile, mas a perda da conexão e a posterior perda do passaporte a obrigam a ficar na capital argentina. Ela que nunca teve problemas com os pais tem que redescobrir suas verdades. E sem falar uma palavra em espanhol, o que torna sua busca ainda mais angustiante e interessante. E para isso ela vai ter que contar com o próprio pai e com um policial que fala alemão.

O Dia Em Que Eu Não NasciA forma como o roteiro de Florian Micoud Cossen e Elena von Saucken vai desnudando a verdade aos poucos para nós é muito hábil. Ficamos presos à Maria, a sua dor, sua necessidade de busca, sua angústia. Não há soluções milagrosas. Maria não aprende a falar espanhol, nem as pessoas aprendem o alemão, poucos sabem algo de inglês, que ela também domina. É tudo muito flúido, delicado.

A direção de Florian Cossen também é acertada. ele constrói as pistas nos detalhes, como a cena do Topo Gigio na vitrine. E a já citada cena da música. O diretor utiliza muito bem o espaço cênico, vide a cena de sexo através das luzes da rua, que dá um tom poético à relação. Assim como também a piscina se torna o refúgio de Maria, onde ela pode tapar o barulho de sua própria mente. Ou ainda, os cachorros que latem no primeiro encontro de Maria com a família argentina.

O Dia Em Que Eu Não NasciA fotografia é sempre muito clara, com contrastes estourados, muito sol. Como se sublimasse a busca de Maria que está ainda no escuro, com uma visão enevoada, precisando compreender o que realmente aconteceu no seu passado. Uma parte foi dita por seu pai, mas nem tudo. A própria recusa dele em acompanhá-la até a casa da família já dá indícios.

Dentro da estrutura do roteiro, uma solução interessante é o policial Alejandro. O único além do pai e de Maria a falar alemão. Como um guia, ele ajudará a moça a ir desvendando seu passado. Mas o fato de ser um policial e a história ter a ver com desaparecidos políticos nos traz outro elemento interessante para o filme. A ditadura militar e os desaparecidos. Esse tema permeia a trama, apesar de não ser aprofundado em nenhum momento. E não pode deixar de ser notado. A forma como Alejandro diz não querer saber o que o pai fez durante a ditadura, a dor da família, a não explicação do sumiço, enriquecem a obra, sem necessariamente desviar do tema principal.

O Dia Em Que Eu Não Nasci é um belo filme. Com um roteiro envolvente, um apuro específico na parte cênica e boa atuações. Um drama familiar cuidadoso que flerta com um problema humanitário grave, o desaparecimento de pessoas durante as ditaduras militares na América Latina.



O Dia Em Que Eu Não Nasci (Das Lied in mir, 2011 / Alemanha)
Direção: Florian Micoud Cossen
Roteiro: Florian Micoud Cossen e Elena von Saucken
Com: Jessica Schwarz, Michael Gwisdek e Rafael Ferro
Duração: 94 min.

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