
Baseado no livro de Edna Ferber,
Assim Caminha a Humanidade é um épico pomposo sobre o
Texas. Marcado por ser o último
filme de
James Dean, que não chegou a vê-lo estrear, tem como foco, na verdade, a família Benedict, encabeçada por
Elizabeth Taylor e
Rock Hudson. Fazendeiros tradicionais que acompanham a transformação do estado após a descoberta do
petróleo.
Como um bom
épico, o
filme perpassa gerações, nos apresentando os protagonistas desde sua
juventude ingênua, até a maturidade com maior sabedoria. Toda a apresentação de Leslie, personagem de
Liz Taylor, e Jordan Benedict Jr., também conhecido como 'Bick', é gradual, mas ao mesmo tempo episódica. Eles se conhecem, se apaixonam, se casam e chegam à fazenda Reata, que está na
família de Bick à três gerações. É lá que Leslie conhece o jovem funcionário Jett Rink, personagem de
James Dean, que dará uma reviravolta importante na trama, se tornando o grande inimigo de Bick.
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É interessante perceber as três personalidades distintas dos protagonistas. Bick é o típico texano, fazendeiro tradicional, orgulhoso, que valoriza a
família e a honra. Leslie é a garota do leste que chega naquela terra e começa a contestar suas principais tradições, como mulher não ter voz, o preconceito com os imigrantes
mexicanos, a rudez como o povo lida com aquelas situações. Já Jett Rink é o pobre com origem irlandesa que quer vencer na vida. Com atitudes ambíguas, ao mesmo tempo em que leva Leslie para conhecer as misérias dos
mexicanos na fazenda Reata, ao enriquecer é capaz de proibi-los em seus estabelecimentos. Contestador, não aceita sua situação e está sempre enfrentando o patrão, o que o fará se tornar seu inimigo.

Jett se apaixona por Leslie, mas esta não chega a lhe dar esperanças. Apaixonada e fiel ao marido, ela só acredita que precisa fazer algo pelas pessoas que estão ali. Gosta de Jett e o trata bem, mas não passa disso. A adaptação da personagem à
fazenda é um dos principais pontos da primeira parte do filme. Primeiro precisa se acostumar ao clima mais quente do
Texas e à costumes mais rudes para o seu padrão, como a alimentação. Mas, sempre com uma personalidade forte, ela vai se impondo. Tem uma rixa inicial com a irmã de Bick, Luz, mas o destino acaba resolvendo essa questão.
Quando o tempo passa e os filhos de Bick e Leslie nascem, começa-se a desenhar as mudanças nas tradições daquela família. O filho mais velho que não quer ser
fazendeiro, tendo medo de cavalos na infância, as filhas com personalidades distintas. Tem ainda a trama do garoto Angel vivido por Sal Mineo, um
mexicano que foi salvo quando bebê por Leslie e que é um ótimo vaqueiro. E, claro, a transformação de Jett, que encontra
petróleo no pequeno terreno que ganha de herança e começa a se tornar o maior explorador da região. Tanto que na parte final ele é o magnata da Jetexas Company. Mas, sempre em rixa com a família Benedict.

Com fotografias sempre grandiosas, mostrando as paisagens em contraste com as cenas internas,
George Stevens nos conta essa história de maneira bem esquemática e episódica, mas isso não chega a ser um problema. Conseguimos acompanhar as transformações da região, dos personagens e das necessidades de cada época de uma maneira bastante fluida. O ritmo do
filme, apesar da longa duração é instigante e bom de acompanhar.
Há um jogo interessante na montagem que ajuda a contar a história e trazer até algumas ironias, sempre nos dando pistas do futuro. Como o pequeno Jordan, filho de Leslie e Bick que após chorar em cima de um cavalo vai brincar com um estetoscópio, demonstrando sua aptidão para o exercício da medicina. Ou quando Jett recusa uma oferta de Bick para a compra de sua
terra e, ao sair pela sala, pessoas estão conversando e ouvimos a frase "só uma coisa vale mais que dinheiro 'terra'". E depois falam sobre um fazendeiro com um terra pequena, mas que ficou rico por encontrar
petróleo. E tem ainda uma cena no casamento da irmã de Leslie, em que a câmera em vez de focar os noivos, foca em Leslie e Bick que estavam brigados.
Assim Caminha a Humanidade tem ainda cenas fortes como a de Luz com o cavalo de Leslie, com planos detalhes dela ferindo o animal e toda a briga em um plano geral, dando a sensação exata do que vai acontecer. Toda a sequência seguinte é feita com cuidado também, sem precisar de muitas explicações para entendermos o ocorrido. É impressionante como
George Stevens consegue ir do detalhe ao macro não apenas nessa cena, mas em várias outras.

Mas, o grande destaque do
filme está mesmo nas atuações de
Elizabeth Taylor e
James Dean. A construção de seus personagens, a evolução com o tempo, a forma como atuam em cada cena-chave, tudo é marcante.
Liz Taylor consegue uma carga dramática que nos dá toda a dimensão do encanto de Leslie, sua capacidade de sedução e personalidade forte que a fazem ser o grande nome daquela
família. Já o peão Jett é demonstrado aos poucos. Em seus gestos quase minimalistas, na fala mansa, nas expressões que dizem mais que as palavras. Seu vício no álcool, a evolução do personagem que consegue se tornar o homem mais poderoso da região, mas que nunca conseguiu ser feliz. Seu desabafo na cena do evento final. Tudo em doses certas.
Assim Caminha a Humanidade é um marco da Era de Ouro de Hollywood. Daqueles
filmes eternos, grandiosos e impactantes que retratam uma época, uma região, um povo. E
George Stevens é bastante feliz na condução de tudo isso, principalmente nas escolhas simbólicas que faz, como a cena final que representa bem os caminhos do
Texas.
Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956 / EUA)
Direção: George Stevens
Roteiro: Fred Guiol e Ivan Moffat
Com: Elizabeth Taylor, Rock Hudson, James Dean, Dennis Hopper e Sal Mineo
Duração: 201 min