
O escritor Calvin Weir-Fields é um rapaz tímido, que emplacou seu primeiro best seller muito jovem e que está às voltas com o seu segundo livro. Mas, a inspiração lhe foge em meio aos medos de não agradar e o enorme vazio que parece a sua vida. É quando ele começa a sonhar com uma garota especial e acaba colocando no papel essa sua fantasia. Só que a moça sai do papel e se torna real, ficando a mercê das palavras de Calvin em sua máquina de escrever.

E quando a situação começa a sair do controle é que ele percebe que se tentar construir o que quer, acaba destruindo o que mais ama. Porque amar uma idealização nunca é melhor do que amar o real. E fazer as nossas vontades não é exatamente o que nos faz feliz. Somos seres contraditórios e complexos demais para reduzir tudo a caprichos.

A forma como Calvin descobre que Ruby é real e não uma alucinação dele, por exemplo, é muito bem construída. Chega a emocionar. Assim como as consequências da utilização da máquina de escrever depois do relacionamento em andamento. A cena mais forte do filme é de uma construção dramática incrível, com um ritmo próprio, angustiante, emocionante que deixa muda qualquer plateia afoita. Palmas principalmente para a atuação de Paul Dano e Zoe Kazan, completamente entregues.

Agora, o mais interessante do filme acaba sendo mesmo a forma como ele brinca com a metalinguagem e com a capacidade ou não de criarmos nossos próprios sonhos. Não há como ver o filme e não lembrar de Mais Estranho que a Ficção, ou mesmo de Mulher Nota Mil. Mas, as comparações acabam sendo rasas diante do que o filme realmente se propõe. Porque ali está apenas um cara e uma moça querendo ser feliz e viver tranquilamente. E que bom que ainda é possível recomeçar, reescrever e reviver essa história enquanto tivermos páginas em branco. O problema é que um dia elas acabam e temos que encarar o mundo real.
Ruby Sparks – A namorada perfeita (Ruby Sparks, 2012 / EUA)
Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Roteiro: Zoe Kazan
Com: Paul Dano, Zoe Kazan, Annette Bening, Antonio Banderas
Duração: 104 min.