
Adaptado do romance "
As Cinco Pessoas Que Encontramos no Céu", de Mitch Albom, este filme televisivo dirigido por
Lloyd Kramer tem todos os ingredientes de sucesso para aqueles que gostam de
filmes espiritualistas. Nos traz uma realidade
pós-morte, com reflexões para a vida e uma boa história.
A trama é aparentemente bem simples. Um veterano de guerra que passou a sua vida trabalhando na manutenção de um parque de diversões tem que encarar a sua passagem dessa
vida. Em um "
céu" com um conceito parecido com o que vemos em
Amor Além da Vida, Eddie "Manutenção" irá percorrer por cenários variados, semelhantes aos que viu na Terra para encontrar
cinco pessoas que o farão refletir sobre sua vida e qual o seu caminho a partir de então.

Por ser um
filme televisivo, uma questão que incomoda é a duração. Por ser exibido em partes, ao ver por completo, nos parece uma versão estendida sem muita justificativa. Vários pontos da trama poderiam ser resumidos, principalmente os
flashbacks. Há um excesso de informação também, com uma narradora que insiste em explicar o óbvio e tudo é muito dado. Não há espaço no roteiro para descobertas extras, suposições. Isso também é um reflexo do meio a que o
filme se destina. Já que na televisão a dispersão da plateia é muito maior que em um
cinema.

Talvez por isso, a estrutura do roteiro seja tão esquemática. A narradora nos dá o ponto de partida: a morte de Eddie. Mas, esta não fica muito clara, apesar de uma pista que é repetida em vários momentos. Retornamos, então, no tempo para contar sua infância e adolescência, pulamos para a velhice, vemos sua
morte e, então, cada encontro no "
céu". Porém, mesmo entre esses encontros, temos alguns
flashbacks. E isso é o que acaba cansando, pois muitas vezes são prolixos, explicativos ao extremo, e ainda temos a narradora pontuando em vários momentos.

Todas essas explicações não são para desculpar o
filme, mas é que realmente, temos que analisar de maneira diferente uma obra pensada para
televisão. E apesar destes incômodos,
As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu nos envolve. Acompanhamos a trajetória de Eddie com interesse, cada passo gera uma curiosidade, as novas experiências, as
revelações, as lembranças, principalmente em relação à dificuldade de relacionamento com o pai. E claro, a ligação maior com o Parque Ruby Pier. A
fantasia daquele mundo de diversão, contrastando com uma vida que pareceu tão cinza.
Mas, esse é o ponto principal do
filme. Nenhuma vida é em vão, ninguém é completamente descartável e cada pessoa que passa por nossa existência tem uma função, uma lição a dar e outra a receber. A
vida é uma troca. E fazemos escolhas muitas vezes sem raciocinar, mas que nos levam a cumprir a nossa sina nesse mundo. Eddie teve várias dessas sinas e momentos de escolhas. E é bonito perceber sua trajetória, seus arrependimentos, seu valor no final de tudo.

Apesar de uma construção bem padrão e esquemática, a direção ousa em alguns momentos. Como a utilização de uma "câmera" caseira em lembranças mais caras ao personagem, como
aniversário e
casamento. Há também uma dinâmica interessante nos diversos "
céus" que nos são apresentados, apesar de um
chroma key frágil, com sutilezas nos detalhes, como o restaurante vazio, apenas com o pai quando ele entra. Ou a imensa árvore em que ele encontra o capitão. Isso sem falar em toda a construção do riacho no encontro da quinta pessoa, que já tinha uma pista também bem antes de aparecer.
Entre problemas e acertos, o que fica mesmo de
As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu é o tema central. A catarse do personagem e a conclusão a que se chega emociona. No final, é tudo o que nós queremos, encontrar
paz de espírito, um aprendizado a se levar dessa vida, provando que nossa passagem por aqui valeu a pena.
As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu (The Five People You Meet in Heaven, 2004 / EUA)
Direção: Lloyd Kramer
Roteiro: Mitch Albom
Com: Jon Voight, Ellen Burstyn e Jeff Daniels
Duração: 180 min.