![Em Transe Em Transe](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF22X-nMuOPSFjqeL0KCYrkJbe3UMCHNf5niL1u63lw4y9yFTkpFjQQK5oCBc1i4DavVXuDKyQAJgxqFNwCBxzE4XAXYUkWmtNVYaA9XCPM0BYXU27mt1HI0G5FE-HEx-gHmU1OW1Q_XM/s200-rw/trance-james-macavoy.jpg)
Antes mesmo de ser um diretor cinematográfico,
Danny Boyle é um diretor de arte. Não tem como não ficar encantado com os detalhes construídos por suas imagens. O visual imagético de
Em Transe nos deixa envolvidos e encantados. Uma pena que o roteiro não conseguiu acompanhar com o mesmo talento aquele mundo imaginado. Há um limiar muito tênue entre a boa sensação de se surpreender no final e o incômodo de ter sido enganado.
Em Transe bambeia nesse limiar.
A história é sobre Simon, vivido por
James McAvoy, um rapaz que trabalha na segurança de leilões de obras de arte. Um famoso quadro de Goya (Bruxas no ar) está sendo leiloado e uma tentativa de
roubo acaba dando errado e levando Simon ao coma. Ao acordar com uma
amnésia, Simon é ameaçado pelo grupo de ladrões liderados por Franck, personagem de
Vincent Cassel. Mas, onde está o quadro? O que realmente aconteceu? Aí que entra a personagem de
Rosario Dawson, uma terapeuta especialista em
hipnose e começa um jogo perigoso de indução, lembranças e realidade.
![Em Transe Em Transe](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7ySYwDn3AwJPu9O9GUnsjJv3MD-PB5InOAz7zXmpJts_UqxTMp3d9ORNKKY34f3x44-wbEbvA95QeOLPNETWgpqrhrN-XebwYcIZGzsywnGS0IzBM-VFs_tm0A7nZhN-RG2o7mwhq6kQ/s320-rw/em-transe-rosario-dawson.jpg)
Porém, para nos conduzir nesse jogo tão cheio de nuanças é preciso muito talento. E a dupla de roteiristas
Joe Ahearne e
John Hodge acaba confundindo alguns preceitos e deixando o espectador tão perdido em alguns momentos que não é possível construir a
catarse. É difícil até criar alguma empatia com um dos personagens, pois ninguém diz de fato a que veio. Vamos sempre sendo levados de
reviravolta em reviravolta. Só que no meio dessas reviravoltas algumas pistas ainda frustam uma parte do
mistério, como a cena em que a personagem de
Rosario Dawson chora vendo a notícia do acidente de Simon, ou quando Simon entra na casa de Franck e vemos por três vezes o mesmo gol na televisão.
![Em Transe Em Transe](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQGkUNoPtfFBcI8S8U5qsysXp0gQOLgXJskeeoV_xmThFMHBcqUukjt0gf10RSJwKI7QNmbWUNxRmNvwlGXipGEoYQr08jaasmcrYN8zlK_NivbyZSgpM_J8NNRiwQk0q5n0aC_MMDtHU/s320-rw/vincent-cassel-em-transe.jpg)
Como se não bastasse isso, o roteiro sonega informações cruciais que se tornam quase
Deus Ex-Machina no terceiro ato. Pequenos absurdos que não fazem sentido diante do que havia sido apresentado. Mudar as regras no meio da história nunca é mesmo um bom caminho. O espectador se sente traído. E ainda desperta para diversas perguntas que fazem questionar o pacto ficcional e as regras daquele mundo que fazem a verossimilhança nos deixar embarcar em tramas, por vezes, absurdas.
![Em Transe Em Transe](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMKiXwceMDlNYe1IXd7waNwgeG7Wr-V_yivpzclAGinQgktEpk7VGMzhyphenhyphen-rDuGQUMxvhmzgSWgl_CtIzYrWABjLdQbJb-2s6wUl76KGqgFltfhyphenhyphentH9REyMuPy4AETOBhc2rwSSY3ZUgLE/s320-rw/trance-rosario-dawson-01.jpg)
Ainda assim,
Em Transe tem seus méritos. Principalmente na direção e na já citada concepção artística. A sequência inicial, por exemplo, é um primor. A apresentação das regras do leilão, a movimentação do ensaio, a situação em si, o
roubo, o desfecho. O ritmo da cena, a
trilha sonora, a montagem dinâmica, tudo nos envolve, nos deixa curiosos e impactados. Desde aí, o
filme já nos apresenta sua espécie de tese: nenhuma obra de arte vale uma vida. E o irônico é que todo o
filme irá ser uma demonstração exatamente de que os personagens não parecem perceber ou concordar com isso.
Se a apresentação dos primeiros personagens é muito boa, o mesmo não podemos dizer da apresentação de Elizabeth, a terapeuta vivida por
Rosario Dawson. O recurso de fazer um apanhado de diversos momentos de pacientes sendo
hipnotizados acaba sendo bobo, uma apresentação desnecessária do que a
hipnose pode fazer, que acaba não contribuindo para a trama. É quase uma piada deslocada. Por mais que o
filme queira demonstrar que a técnica é perigosa e capaz de deixar qualquer um nas mãos da hipnotizadora, aquilo não nos leva a nada, diversas outras cenas seguintes farão essa função de uma maneira muito mais eficaz.
![Em Transe Em Transe](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFXww0tZjnK8im3nUTRSaZyVQyjqyHq3jfkUg5bV5nQUakxWA_otEPlYf-0xccNhR7REp-ZK8rjbZurM0SOupQ4ZdfilITEeTNDtdvybiBvfUZwNnVeEDg9T9Nx9VchVqYLnyzZBMusT0/s320-rw/em-transe_poster.jpg)
Aliás, esse é um tema polêmico dentro de
Em Transe. Aposto que muita gente já vai sair do
filme querendo procurar o curso de
hipnose mais próximo. Porque o poder que Elizabeth parece ter é extremamente assustador. Quase uma paranormal com poderes de indução que nenhum Jedi colocaria defeito. Definitivamente, ela tem a todos em suas mãos. Só não tem o poder de nos convencer, espectadores, de que tudo aquilo é tão empolgante quanto aparenta ser.
Em Transe é um
filme que nos deixa em transe, com o perdão do trocadilho. Ficamos confusos, perdidos em meio a reviravoltas e personagens dúbios. Não temos definições de regras, não temos mocinhos, nem bandidos, não temos o lado para o qual torcer. Se por um lado, isso é bom, já que quebra paradigmas e clichês, fica no tal limiar que citei no início do texto. Para se quebrar regras é preciso ser extremamente competente nisso. Surpreender o espectador não é enganá-lo. E o
filme de
Danny Boyle deixa questionamentos sobre de que lado está. Tendo a dizer que pende mais para o lado negativo, apesar de não ser um desastre completo.
Em Transe (Trance, 2013 / EUA)
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Joe Ahearne, John Hodge
com: James McAvoy, Vincent Cassel, Rosario Dawson e Danny Sapani
Duração: 101 min.