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Elysium

ElysiumEm 2009, Neill Blomkamp impactou o mundo com Distrito 9, um filme de ficção científica que era uma espécie de mockumentary. E que, na realidade, era uma grande metáfora do nosso mundo, da criação das favelas, da marginalização e da segregação racial. Onde aliens viviam em uma área reservada, em uma espécie de Apartheid intergaláctico.

Três anos e alguns milhões a mais, ele eleva sua visão para um futuro não tão distante, onde os seres humanos não segregam mais aliens parecidos com camarões, mas os próprios seres humanos pobres em um planeta devastado, enquanto os poucos ricos, vivem em uma estação espacial, um pouco acima da nossa atmosfera, chamada de Elysium.

ElysiumQualquer semelhança com os Campos Elísios da Mitologia Grega não é mera coincidência, claro. Elysium é mesmo uma espécie de Paraíso. Lá não há doença, basta entrar em um câmara médica e tudo é reestabelecido. Tudo mesmo, tem uma cena no filme que demonstra que não há limites para esta medicina futurista impressionante quando um certo rosto entra lá. As pessoas vivem felizes em suas mansões ensolaradas, bebendo champanhe, enquanto na Terra, a população padece de todos os males.

Quem não tem dinheiro para comprar um passe, não é cidadão de Elysium e, com isso, não pode nem mesmo chegar perto de sua atmosfera. Mas, alguns piratas como o jovem Spider, interpretado por Wagner Moura, consegue burlar o sistema e falsificar registros de cidadãos. É se fiando nisso, que o protagonista Max, interpretado por Matt Damon, tentará burlar o espaço e ter uma chance de vida, após um acidente de trabalho.

ElysiumA trama está melhor embasada do que em Distrito 9, é verdade. Neill Blomkamp conseguiu construir um roteiro com menos furos e questionamentos. E, com o dinheiro de Hollywood, deu aos seus devaneios e ideologias cenários mais impactantes e até belos. Mas, continua faltando alguma alma em tudo aquilo a ponto de realmente nos envolver e empolgar com a trajetória do herói. Ou anti-herói. Porque ainda que não seja um cretino como Wikus, Max tem seus defeitos e poucas motivações nobres.

A questão social continua em voga e cada vez mais forte. Porém, os exageros nos estereótipos dos dominadores incomoda. Como a personagem de Jodie Foster que parece pior que Darth Vader em sua melhor forma. Quando ela simplesmente manda explodir três naves com mulheres e crianças dentro, apenas porque são clandestinos se aproximando de Elysium, esperei ouvir a Marcha Imperial ao fundo. Da mesma maneira que o chefe de Max mandar ele entrar na câmara ameaçando seu emprego me parece de uma falta de propósito imenso.

ElysiumSe não bastasse tudo isso, Neill Blomkamp ainda tem que apelar para o melodrama mais apelativo com a trama da garotinha filha da personagem de Alice Braga, que por sinal é namoradinha de infância de Max. Os flashbacks dos dois olhando o espaço e prometendo ainda ir a Elysium são o toque desnecessário em uma trama que pretende ser tão realista e reflexiva.

Mas, mesmo que o roteiro não consiga construir tão bem suas premissas. Há muito a se perceber e questionar nas simbologias que ele nos passa. E que traz ainda todo um significado e questionamento da própria religião. A quem pertence o paraíso? Se pensarmos que as duas crianças foram criadas por freiras, que incentivavam a não pensar em Elysium, mas sim, no planeta a que pertenciam, fica tudo ainda mais instigante.

ElysiumNão podemos deixar de destacar ainda as interpretações que fazem o filme crescer em nossa visão. A começar pela estreia de Wagner Moura em Hollywood, com um personagem consistente e com grande personalidade. Alice Braga também faz boa presença, assim como Matt Damon nos convence de sua sina. Sharlto Copley também mete medo como o caçador Kruger. E Jodie Foster consegue nos dar algum traço de humanidade em uma personagem tão maniqueísta.

Elysium não é o que prometia. Não se trata de um dos melhores filmes do ano, nem mesmo possui a grandeza de uma obra-prima. Mas, é um filme instigante, com momentos de tensão e de ação. E que nos deixa a reflexão natural em relação ao nosso sistema econômico e o futuro do nosso planeta. Afinal, estamos construindo Apartheids ao nosso redor? E será mesmo o dinheiro o divisor que nos permitirá escolher os eleitos que tem direito ao paraíso? Só por nos trazer um senso crítico de volta ao cinema, Neill Blomkamp já merece aplausos. Quem sabe no próximo ele consegue acertar em todos os aspectos e nos dar a obra-prima que esperamos.



Elysium (Elysium, 2013 / EUA)
Direção: Neill Blomkamp
Roteiro: Neill Blomkamp
Com: Matt Damon, Jodie Foster, Wagner Moura, Alice Braga, Sharlto Copley
Duração: 109 min

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