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O Tempo e O Vento
O Tempo e O Vento
Baseado no romance de Érico Veríssimo e depois de ser uma minissérie da Rede Globo, uma telenovela na Excelsior e ter algumas adaptações para a tela grande, O Tempo e o Vento retorna aos cinemas pela mão de Jayme Monjardim. Um épico com todas as dificuldades que uma obra com esse volume possui, mas, ainda assim, com seus méritos.
É difícil mesmo resumir em um filme, uma história que atravessou gerações e com tantos detalhes. Jayme Monjardim e as roteiristas Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski, assim como tinham feito Doc Comparato e Paulo José na minissérie, se concentram no livro O Continente. Mas, ainda assim, é muita coisa para pouco tempo. Não por acaso, Anselmo Duarte, Durval Garcia e Cassiano Gabus Mendes tinham feito filmes mais específicos no passado (Um Certo Capitão Rodrigo, Ana Terra e O Sobrado respectivamente).
Com uma trama tão extensa e tantos detalhes de uma família secular inseridas nas guerras ocorridas no Rio Grande do Sul no período, a escolha dos realizadores foi construir o filme como um grande flashback, a partir das lembranças da personagem Bibiana, interpretada por Fernanda Montenegro. Esta escolha tem o erro e o acerto do filme ao mesmo tempo. Acerto, ao concentrar a narrativa no talento da atriz, que realmente cativa e está bem em sua rememoração.
Porém, o erro ao nos guiar em algo que cria um contra-senso. Afinal, Bibiana está à beira da morte, vendo o fantasma do amor de sua vida e resolve contar a ele a história de sua família, como se ele não conhecesse. É isso? Porque a narração de Bibiana não é no tom de recordações, tipo, "lembra, Rodrigo, como foi isso e aquilo?", e sim, de quem está apresentando pela primeira vez aquela história. Isso sem falar na perda do ritmo a cada retorno ao Sobrado, durante as lembranças.
Outro problema do volume de informações em tela está na construção dos personagens. Principalmente de Ana Terra, a mais forte e interessante do livro que se torna muito esquemática ao não construir sua força como deveria. Nem é responsabilidade de Cléo Pires, que defende aquela que já foi interpretada por sua mãe na minissérie, com dignidade. Há bons momentos dela como a relação com Pedro Missionário, ou no ataque à estância de sua família.
Já o casal Thiago Lacerda e Marjorie Estiano não consegue uma química perfeita, nem mesmo a simpatia necessária para seus personagens. Chama mais a atenção a forma como Thiago Lacerda está caracterizado para se parecer não exatamente com o Capitão Rodrigo, e sim, com Tarcísio Meira interpretando o Capitão Rodrigo na minissérie da Globo. O penteado, a postura, o sorriso. É impressionante como são semelhantes. O que não chega a ser ruim, diante do imaginário popular e da forma como a minissérie se tornou mais conhecida para o público geral que a própria obra de Veríssimo. Já Marjorie Estiano se contenta em fazer expressões apaixonadas para o rapaz.
A narrativa fica tão picotada e episódica que é complicado até de entender alguns contextos. A rixa dos Cambará com os Amaral é tratada de maneira superficial. O duelo de Rodrigo com Bento Amaral é tão solto, nem dá para explorar tão bem a questão da "perninha do R" que fica faltando. As guerras, então, são meros panos de fundo, sem muita compreensão ou desenvolvimento. O foco é mesmo o amor encabeçado por Bibiana e Capitão Rodrigo, e um pouco explorado entre Ana Terra e Pedro Missionário. O próprio Pedro Terra, filho do casal, e pai de Bibiana, vira mero figurante de luxo em tudo aquilo.
Além de todas as dificuldades de roteiro e desenvolvimento de trama, a direção de Jayme Monjardim continua problemática. Melhor que em Olga, é verdade, mas, ainda assim, com um ritmo televisivo que incomoda. O excesso de trilha sonora e o melodrama sempre em um tom acima, conduzem as cenas. Temos também suas marcas autorais presentes, com a exploração de paisagens, muito céu vermelho e a revoada de pássaros que só lembra os tuiuiús da telenovela Pantanal. Cenas, no entanto, que servem apenas como efeito de passagem, enquanto que a trama é desenvolvida sempre de maneira esquemática e quase claustrofóbica. Ainda assim, temos bons momentos, como todo o desenvolvimento do amor entre Ana e Pedro.
Diante de uma obra tão complexa e extensa como O Continente, o primeiro livro de O Tempo e O Vento, há de se admirar que houve um esforço em construir uma obra compreensível e com alguns atrativos. No entanto, o filme O Tempo e O Vento se torna cansativo, chato até, e sem alma. Pois não há tempo para construir empatia e trabalhar a história como ela merecia. Talvez, Jayme Monjardim devesse ter ousado propor uma trilogia melhor programada. De qualquer maneira, é uma oportunidade para que o público mais jovem conheça um pouco da história de Érico Veríssimo.
O Tempo e O Vento (O Tempo e O Vento, 2013 / Brasil)
Direção: Jayme Monjardim
Roteiro: Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski
Com: Fernanda Montenegro, Thiago Lacerda, Marjorie Estiano, Cléo Pires, José de Abreu, Marat Descartes
Duração: 120 min.
É difícil mesmo resumir em um filme, uma história que atravessou gerações e com tantos detalhes. Jayme Monjardim e as roteiristas Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski, assim como tinham feito Doc Comparato e Paulo José na minissérie, se concentram no livro O Continente. Mas, ainda assim, é muita coisa para pouco tempo. Não por acaso, Anselmo Duarte, Durval Garcia e Cassiano Gabus Mendes tinham feito filmes mais específicos no passado (Um Certo Capitão Rodrigo, Ana Terra e O Sobrado respectivamente).
Com uma trama tão extensa e tantos detalhes de uma família secular inseridas nas guerras ocorridas no Rio Grande do Sul no período, a escolha dos realizadores foi construir o filme como um grande flashback, a partir das lembranças da personagem Bibiana, interpretada por Fernanda Montenegro. Esta escolha tem o erro e o acerto do filme ao mesmo tempo. Acerto, ao concentrar a narrativa no talento da atriz, que realmente cativa e está bem em sua rememoração.
Porém, o erro ao nos guiar em algo que cria um contra-senso. Afinal, Bibiana está à beira da morte, vendo o fantasma do amor de sua vida e resolve contar a ele a história de sua família, como se ele não conhecesse. É isso? Porque a narração de Bibiana não é no tom de recordações, tipo, "lembra, Rodrigo, como foi isso e aquilo?", e sim, de quem está apresentando pela primeira vez aquela história. Isso sem falar na perda do ritmo a cada retorno ao Sobrado, durante as lembranças.
Outro problema do volume de informações em tela está na construção dos personagens. Principalmente de Ana Terra, a mais forte e interessante do livro que se torna muito esquemática ao não construir sua força como deveria. Nem é responsabilidade de Cléo Pires, que defende aquela que já foi interpretada por sua mãe na minissérie, com dignidade. Há bons momentos dela como a relação com Pedro Missionário, ou no ataque à estância de sua família.
Já o casal Thiago Lacerda e Marjorie Estiano não consegue uma química perfeita, nem mesmo a simpatia necessária para seus personagens. Chama mais a atenção a forma como Thiago Lacerda está caracterizado para se parecer não exatamente com o Capitão Rodrigo, e sim, com Tarcísio Meira interpretando o Capitão Rodrigo na minissérie da Globo. O penteado, a postura, o sorriso. É impressionante como são semelhantes. O que não chega a ser ruim, diante do imaginário popular e da forma como a minissérie se tornou mais conhecida para o público geral que a própria obra de Veríssimo. Já Marjorie Estiano se contenta em fazer expressões apaixonadas para o rapaz.
A narrativa fica tão picotada e episódica que é complicado até de entender alguns contextos. A rixa dos Cambará com os Amaral é tratada de maneira superficial. O duelo de Rodrigo com Bento Amaral é tão solto, nem dá para explorar tão bem a questão da "perninha do R" que fica faltando. As guerras, então, são meros panos de fundo, sem muita compreensão ou desenvolvimento. O foco é mesmo o amor encabeçado por Bibiana e Capitão Rodrigo, e um pouco explorado entre Ana Terra e Pedro Missionário. O próprio Pedro Terra, filho do casal, e pai de Bibiana, vira mero figurante de luxo em tudo aquilo.
Além de todas as dificuldades de roteiro e desenvolvimento de trama, a direção de Jayme Monjardim continua problemática. Melhor que em Olga, é verdade, mas, ainda assim, com um ritmo televisivo que incomoda. O excesso de trilha sonora e o melodrama sempre em um tom acima, conduzem as cenas. Temos também suas marcas autorais presentes, com a exploração de paisagens, muito céu vermelho e a revoada de pássaros que só lembra os tuiuiús da telenovela Pantanal. Cenas, no entanto, que servem apenas como efeito de passagem, enquanto que a trama é desenvolvida sempre de maneira esquemática e quase claustrofóbica. Ainda assim, temos bons momentos, como todo o desenvolvimento do amor entre Ana e Pedro.
Diante de uma obra tão complexa e extensa como O Continente, o primeiro livro de O Tempo e O Vento, há de se admirar que houve um esforço em construir uma obra compreensível e com alguns atrativos. No entanto, o filme O Tempo e O Vento se torna cansativo, chato até, e sem alma. Pois não há tempo para construir empatia e trabalhar a história como ela merecia. Talvez, Jayme Monjardim devesse ter ousado propor uma trilogia melhor programada. De qualquer maneira, é uma oportunidade para que o público mais jovem conheça um pouco da história de Érico Veríssimo.
O Tempo e O Vento (O Tempo e O Vento, 2013 / Brasil)
Direção: Jayme Monjardim
Roteiro: Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski
Com: Fernanda Montenegro, Thiago Lacerda, Marjorie Estiano, Cléo Pires, José de Abreu, Marat Descartes
Duração: 120 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Tempo e O Vento
2013-09-25T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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