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Caetano Gotardo
Cida Moreira
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Fernanda Vianna
filme brasileiro
O Que se Move
O Que se Move
Três histórias, um mesmo tema que as ligam e as tornam um só, o amor e a dor de perder um filho.
Caetano Gotardo nos faz embarcar na vida de três mulheres distintas em três formas diferentes de encontrar e perder o seu filho. Mas, o mais interessante é que elas nunca estão no foco, se tornando quase protagonistas observadoras que só se tornam centro das atenções no momento que abrem a boca para cantar e passar o bastão para a próxima história.
Este número musical inusitado é interessante exatamente por nos tirar do lugar de conforto. É um corpo estranho na narrativa aparentemente tradicional, com uma melodia esquisita, uma intérprete quase desafinada, mas que preenche a cena com emoção autêntica que nos conquista e envolve. É o drama em sua essência, nos resumindo e expondo o que acabamos de ver.
O primeiro capítulo é sobre o último dia de férias de um garoto aparentemente comum. Ele vai ao parque, encontra a amiga, volta para casa, janta com a família, discute amenidades, lava os pratos e vai dormir. Ele é o foco, a mãe está ali, sempre ao seu lado, mas passa quase despercebida. O garoto é simples, não demonstra nada do que será visto depois. Fala de sexo com uma curiosidade quase infantil ao citar as camisinhas no parque.
Mas, é interessante que o visual nos dê pistas, construindo um lugar aberto como um parque quase como um espaço fechado. O personagem está quase o tempo todo cercado pelas árvores, que emolduram a cena, enclausurando-o naquele espaço. Fechado ali, ele também está perdido, esperando rever a amiga em seu jogo casual. Sente-se deslocado, da mesma maneira que em casa não parece à vontade, mesmo em um jantar descontraído com a família.
Na segunda história, o pai é o foco da narrativa, ainda que passemos boa parte ouvindo a mãe e a amiga fazendo planos para as férias e discutindo as diferenças de atitudes dos filhos ainda bebês. Interessante que o bebezinho que será o pivô da história não aparece em momento nenhum, mas por um bom tempo, Caetano Gotardo nos deixa um close da outra bebê no carrinho.
A música aqui tem mais força que nas demais narrativas. Primeiro porque o pai trabalha em um estúdio de áudio. O som o envolve em cenas diversas, inclusive em um momento muito interessante quando o vemos em close com uma música tocando e quando a cena abre, percebemos que ela está realmente sendo tocada ali em uma gravação, desfazendo o sentido inicial que tínhamos imaginado da melancolia do personagem. Em outro momento, a música é o escape da mãe em um jogo de dança em um fliperama.
Por fim, temos a história do casal que perdeu o filho na maternidade que vai reencontrar ambientado na nova família. O almoço no restaurante é constrangedor, ao contrário do almoço em família da primeira história. E estamos quase sempre com o foco no garoto incomodado com aquela situação estranha. Quando tira o foco da mesa, Caetano Gotardo nos dá uma instigante apresentação de ginástica olímpica na televisão.
Tudo junto simboliza e cria significados diversos para o tema central do filme: a mãe, seu amor e sua dor. Ela que nunca está em foco, que é quase esquecida, mas que ama seu rebento com uma força quase inexplicável. Um jogo bonito e angustiante ao mesmo tempo, nos dando um narrativa diferente, envolvente e instigante.
O Que se Move (2013, Brasil)
Direção: Caetano Gotardo
Roteiro: Caetano Gotardo
Com: Cida Moreira, Andréa Marquee, Fernanda Vianna
Duração: 97 min.
Caetano Gotardo nos faz embarcar na vida de três mulheres distintas em três formas diferentes de encontrar e perder o seu filho. Mas, o mais interessante é que elas nunca estão no foco, se tornando quase protagonistas observadoras que só se tornam centro das atenções no momento que abrem a boca para cantar e passar o bastão para a próxima história.
Este número musical inusitado é interessante exatamente por nos tirar do lugar de conforto. É um corpo estranho na narrativa aparentemente tradicional, com uma melodia esquisita, uma intérprete quase desafinada, mas que preenche a cena com emoção autêntica que nos conquista e envolve. É o drama em sua essência, nos resumindo e expondo o que acabamos de ver.
O primeiro capítulo é sobre o último dia de férias de um garoto aparentemente comum. Ele vai ao parque, encontra a amiga, volta para casa, janta com a família, discute amenidades, lava os pratos e vai dormir. Ele é o foco, a mãe está ali, sempre ao seu lado, mas passa quase despercebida. O garoto é simples, não demonstra nada do que será visto depois. Fala de sexo com uma curiosidade quase infantil ao citar as camisinhas no parque.
Mas, é interessante que o visual nos dê pistas, construindo um lugar aberto como um parque quase como um espaço fechado. O personagem está quase o tempo todo cercado pelas árvores, que emolduram a cena, enclausurando-o naquele espaço. Fechado ali, ele também está perdido, esperando rever a amiga em seu jogo casual. Sente-se deslocado, da mesma maneira que em casa não parece à vontade, mesmo em um jantar descontraído com a família.
Na segunda história, o pai é o foco da narrativa, ainda que passemos boa parte ouvindo a mãe e a amiga fazendo planos para as férias e discutindo as diferenças de atitudes dos filhos ainda bebês. Interessante que o bebezinho que será o pivô da história não aparece em momento nenhum, mas por um bom tempo, Caetano Gotardo nos deixa um close da outra bebê no carrinho.
A música aqui tem mais força que nas demais narrativas. Primeiro porque o pai trabalha em um estúdio de áudio. O som o envolve em cenas diversas, inclusive em um momento muito interessante quando o vemos em close com uma música tocando e quando a cena abre, percebemos que ela está realmente sendo tocada ali em uma gravação, desfazendo o sentido inicial que tínhamos imaginado da melancolia do personagem. Em outro momento, a música é o escape da mãe em um jogo de dança em um fliperama.
Por fim, temos a história do casal que perdeu o filho na maternidade que vai reencontrar ambientado na nova família. O almoço no restaurante é constrangedor, ao contrário do almoço em família da primeira história. E estamos quase sempre com o foco no garoto incomodado com aquela situação estranha. Quando tira o foco da mesa, Caetano Gotardo nos dá uma instigante apresentação de ginástica olímpica na televisão.
Tudo junto simboliza e cria significados diversos para o tema central do filme: a mãe, seu amor e sua dor. Ela que nunca está em foco, que é quase esquecida, mas que ama seu rebento com uma força quase inexplicável. Um jogo bonito e angustiante ao mesmo tempo, nos dando um narrativa diferente, envolvente e instigante.
O Que se Move (2013, Brasil)
Direção: Caetano Gotardo
Roteiro: Caetano Gotardo
Com: Cida Moreira, Andréa Marquee, Fernanda Vianna
Duração: 97 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Que se Move
2014-01-20T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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