
Caetano Gotardo nos faz embarcar na vida de três mulheres distintas em três formas diferentes de encontrar e perder o seu filho. Mas, o mais interessante é que elas nunca estão no foco, se tornando quase protagonistas observadoras que só se tornam centro das atenções no momento que abrem a boca para cantar e passar o bastão para a próxima história.

O primeiro capítulo é sobre o último dia de férias de um garoto aparentemente comum. Ele vai ao parque, encontra a amiga, volta para casa, janta com a família, discute amenidades, lava os pratos e vai dormir. Ele é o foco, a mãe está ali, sempre ao seu lado, mas passa quase despercebida. O garoto é simples, não demonstra nada do que será visto depois. Fala de sexo com uma curiosidade quase infantil ao citar as camisinhas no parque.

Na segunda história, o pai é o foco da narrativa, ainda que passemos boa parte ouvindo a mãe e a amiga fazendo planos para as férias e discutindo as diferenças de atitudes dos filhos ainda bebês. Interessante que o bebezinho que será o pivô da história não aparece em momento nenhum, mas por um bom tempo, Caetano Gotardo nos deixa um close da outra bebê no carrinho.

Por fim, temos a história do casal que perdeu o filho na maternidade que vai reencontrar ambientado na nova família. O almoço no restaurante é constrangedor, ao contrário do almoço em família da primeira história. E estamos quase sempre com o foco no garoto incomodado com aquela situação estranha. Quando tira o foco da mesa, Caetano Gotardo nos dá uma instigante apresentação de ginástica olímpica na televisão.
Tudo junto simboliza e cria significados diversos para o tema central do filme: a mãe, seu amor e sua dor. Ela que nunca está em foco, que é quase esquecida, mas que ama seu rebento com uma força quase inexplicável. Um jogo bonito e angustiante ao mesmo tempo, nos dando um narrativa diferente, envolvente e instigante.
O Que se Move (2013, Brasil)
Direção: Caetano Gotardo
Roteiro: Caetano Gotardo
Com: Cida Moreira, Andréa Marquee, Fernanda Vianna
Duração: 97 min.