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Steve McQueen
12 Anos de Escravidão
12 Anos de Escravidão
"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda". Cecília Meireles.
A escravidão é mesmo um crime à humanidade. A subjugação de um ser humano a outro, tornando-o sua propriedade é absurda. E não é uma questão apenas racial, basta lembrar do Império Romano e seus escravos. Belos filmes já foram feitos com escravos tentando fugir e sobreviver, como Spartacus e Ben-Hur. 12 Anos de Escravidão é mais um deles.
A trama se concentra na história real de Solomon Northup um homem livre que sofre um golpe e é vendido como escravo para uma fazenda no sul do país. A trama acompanha toda a sua trajetória do sequestro, passando por três senhores de escravos e todas as humilhações possíveis. Mostrando assim, os horrores da escravidão, a violência por eles sofrida e as questões humanas envolvidas.
É interessante que o filme acaba tratando do tema de uma maneira mais ampla, ainda que seja através do exemplo de um negro liberto que, por justiça, não deveria ser novamente escravo. A questão que fica é: e alguém merece? Neste ponto, 12 Anos de Escravidão nos mostra muito mais do que a relação racial e um episódio que se repetiu nos Estados Unidos por um período onde o tráfico não era mais permitido. Acaba construindo uma metáfora do que sempre aconteceu com a humanidade.
Solomon Northup era um homem livre, um artista, com situação financeira razoável. Vê-lo ser sequestrado e escravizado cria uma sensação de injustiça em nós. Até porque ele é o nosso protagonista. Mas, aí podemos raciocinar: e todos os africanos que foram sequestrados em sua terra e levados para países distantes, onde nem a língua lhe era familiar? Como a escravidão humana de qualquer tipo pode ser justa? E o filme, apesar de não privilegiar esta questão nos mostra isto também, no exemplo da escrava Patsey ou a escrava Eliza com seus filhos.
Mas, mais do que isso, o roteiro de John Ridley consegue nos dá comparações que vão além. Como quando o personagem de Michael Fassbender atribui aos escravos uma praga em sua plantação de algodão e compara às pragas do Egito. Lembrando que ali os escravos eram os hebreus, brancos, enquanto que os faraós eram os negros. É quase como se não importasse se era escravo ou escravocrata, "Deus" estava do lado da raça branca em sua visão distorcida.
Em um filme forte, com temática tão delicada, Steve McQueen não poupa a sua plateia da dor de seus personagens. Vemos cenas de tortura extremamente realistas que chegam a doer em nós. Muitas vezes, nem tanto pela força da batida, como na primeira surra que Solomon toma, mas pela própria desumanidade do gesto, como um objeto lançado na pobre Patsey que dançava divertida. Isso sem falar na cena da separação de Eliza e seus filhos, com a justificativa do dinheiro. Mas, a cena mais pesada do filme é mesmo quando Solomon é obrigado a chicotear Patsey, por todas as violências que este gesto representa.
Neste ponto, é preciso ressaltar a eficiência do elenco de 12 Anos de Escravidão. Todos os atores estão muito bem, com os devidos destaques ao protagonista Chiwetel Ejiofor que nos passa toda a dor e desespero do personagem, e a atriz Lupita Nyong'o que nos dá uma Patsey intensa. Mas, que também encontra ótimos coadjuvantes e participações especiais diversas, como um cruel Michael Fassbender, ou um cínico Paul Giamatti, passando por um quase bondoso Benedict Cumberbatch e um salvador Brad Pitt. Como curiosidade, destaque ainda para a pequena Quvenzhané Wallis como filha do protagonista.
O filme tem ainda uma interessante construção sonora, onde boa parte da trilha está suavizada, valorizando o som ambiente, os ruídos diversos e as músicas intradiegéticas, ou seja, que estão também dentro da narrativa, como a música tema Roll Jordan Roll que está em uma das mais belas cenas. Steve McQueen nos dá ainda longos planos que ajudam a imergir naquele mundo, como uma angustiante passagem de tempo, após o encontro com o personagem de Brad Pitt.
12 Anos de Escravidão consegue nos contar uma história impressionante, cheia de sofrimento e questões sociológicas sem cair no caminho mais fácil do melodrama apelativo. Só por isso, já vale todo o sucesso que tem feito. É um filme forte, que nos mostra as necessidades primárias do ser humano e as difíceis relações construídas. Nos dando a certeza de que a liberdade é um dos bens que mais prezamos, como já dizia Cecília Meireles.
12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013 / EUA)
Direção: Steve McQueen
Roteiro: John Ridley
Com: Chiwetel Ejiofor, Michael K. Williams, Michael Fassbender, Lupita Nyong'o, Paul Giamatti, Brad Pitt, Adepero Oduye, Quvenzhané Wallis
Duração: 134 min.
A escravidão é mesmo um crime à humanidade. A subjugação de um ser humano a outro, tornando-o sua propriedade é absurda. E não é uma questão apenas racial, basta lembrar do Império Romano e seus escravos. Belos filmes já foram feitos com escravos tentando fugir e sobreviver, como Spartacus e Ben-Hur. 12 Anos de Escravidão é mais um deles.
A trama se concentra na história real de Solomon Northup um homem livre que sofre um golpe e é vendido como escravo para uma fazenda no sul do país. A trama acompanha toda a sua trajetória do sequestro, passando por três senhores de escravos e todas as humilhações possíveis. Mostrando assim, os horrores da escravidão, a violência por eles sofrida e as questões humanas envolvidas.
É interessante que o filme acaba tratando do tema de uma maneira mais ampla, ainda que seja através do exemplo de um negro liberto que, por justiça, não deveria ser novamente escravo. A questão que fica é: e alguém merece? Neste ponto, 12 Anos de Escravidão nos mostra muito mais do que a relação racial e um episódio que se repetiu nos Estados Unidos por um período onde o tráfico não era mais permitido. Acaba construindo uma metáfora do que sempre aconteceu com a humanidade.
Solomon Northup era um homem livre, um artista, com situação financeira razoável. Vê-lo ser sequestrado e escravizado cria uma sensação de injustiça em nós. Até porque ele é o nosso protagonista. Mas, aí podemos raciocinar: e todos os africanos que foram sequestrados em sua terra e levados para países distantes, onde nem a língua lhe era familiar? Como a escravidão humana de qualquer tipo pode ser justa? E o filme, apesar de não privilegiar esta questão nos mostra isto também, no exemplo da escrava Patsey ou a escrava Eliza com seus filhos.
Mas, mais do que isso, o roteiro de John Ridley consegue nos dá comparações que vão além. Como quando o personagem de Michael Fassbender atribui aos escravos uma praga em sua plantação de algodão e compara às pragas do Egito. Lembrando que ali os escravos eram os hebreus, brancos, enquanto que os faraós eram os negros. É quase como se não importasse se era escravo ou escravocrata, "Deus" estava do lado da raça branca em sua visão distorcida.
Em um filme forte, com temática tão delicada, Steve McQueen não poupa a sua plateia da dor de seus personagens. Vemos cenas de tortura extremamente realistas que chegam a doer em nós. Muitas vezes, nem tanto pela força da batida, como na primeira surra que Solomon toma, mas pela própria desumanidade do gesto, como um objeto lançado na pobre Patsey que dançava divertida. Isso sem falar na cena da separação de Eliza e seus filhos, com a justificativa do dinheiro. Mas, a cena mais pesada do filme é mesmo quando Solomon é obrigado a chicotear Patsey, por todas as violências que este gesto representa.
Neste ponto, é preciso ressaltar a eficiência do elenco de 12 Anos de Escravidão. Todos os atores estão muito bem, com os devidos destaques ao protagonista Chiwetel Ejiofor que nos passa toda a dor e desespero do personagem, e a atriz Lupita Nyong'o que nos dá uma Patsey intensa. Mas, que também encontra ótimos coadjuvantes e participações especiais diversas, como um cruel Michael Fassbender, ou um cínico Paul Giamatti, passando por um quase bondoso Benedict Cumberbatch e um salvador Brad Pitt. Como curiosidade, destaque ainda para a pequena Quvenzhané Wallis como filha do protagonista.
O filme tem ainda uma interessante construção sonora, onde boa parte da trilha está suavizada, valorizando o som ambiente, os ruídos diversos e as músicas intradiegéticas, ou seja, que estão também dentro da narrativa, como a música tema Roll Jordan Roll que está em uma das mais belas cenas. Steve McQueen nos dá ainda longos planos que ajudam a imergir naquele mundo, como uma angustiante passagem de tempo, após o encontro com o personagem de Brad Pitt.
12 Anos de Escravidão consegue nos contar uma história impressionante, cheia de sofrimento e questões sociológicas sem cair no caminho mais fácil do melodrama apelativo. Só por isso, já vale todo o sucesso que tem feito. É um filme forte, que nos mostra as necessidades primárias do ser humano e as difíceis relações construídas. Nos dando a certeza de que a liberdade é um dos bens que mais prezamos, como já dizia Cecília Meireles.
12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013 / EUA)
Direção: Steve McQueen
Roteiro: John Ridley
Com: Chiwetel Ejiofor, Michael K. Williams, Michael Fassbender, Lupita Nyong'o, Paul Giamatti, Brad Pitt, Adepero Oduye, Quvenzhané Wallis
Duração: 134 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
12 Anos de Escravidão
2014-02-18T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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