Padilha, o homem que está mexendo com Hollywood
Essa semana estreia o novo Robocop, filme dirigido pelo diretor brasileiro José Padilha. E que já está gerando várias controvérsias entre crítica e público. Várias questões estão implicadas ali e é interessante observar cada uma delas.
Isabela Boscov fez uma matéria de oito páginas na Revista Veja enaltecendo o diretor, sua coragem e o resultado do filme. Realmente, é de se admirar o feito de Padilha em Hollywood. Ao contrário de Heitor Dhalia que fez um filme esquemático e frágil, o diretor de Tropa de Elite conseguiu impor seu estilo de uma maneira bastante interessante. Não apenas escolheu o filme, como impôs um diretor de fotografia desconhecido ao exterior e ainda levou o montador, que apesar de uma indicação ao Oscar e ter participado da equipe de Árvore da Vida, também não está instalado na indústria.
Padilha conseguiu algo mais significativo em termos comerciais que Fernando Meirelles também. O diretor de Cidade de Deus tem mais prestígio artístico, claro, já foi até indicado ao Oscar, mas seus filmes correm por fora na indústria, com produtoras independentes e menos cifrões.
Robocop não é um simples filme de ação, é um remake de um dos mais significativos filmes do final dos anos 80, dirigido por Paul Verhoeven. O diretor já tinha visto outro filme seu ser destruído em uma nova versão sem nenhum viés político. O remake de O Vingador do Futuro fica muito aquém do filme de 1990, se resumindo a uma ação pouco criativa.
O filme que José Padilha entrega ao mundo não é apenas um rascunho do seu antecessor, tem alma própria, com muitas pitadas do homem que vem questionando o papel da polícia, da política e da imprensa em seus filmes. O primeiro documentário de Padilha, Ônibus 174 já demonstrava isso. Entre outras coisas, ele questionou naquele episódio a função da mídia transmitindo ao vivo a operação e a decisão da polícia, sendo o erro do tiro do policial um ponto crítico na trama.
Com os dois Tropas de Elite ele foi além, expondo e chamando a população a pensar sobre a situação atual do nosso país, a corrupção na polícia e política, além de mostrar o poder manipulador da mídia. Não por acaso os dois filmes e o personagem Capitão Nascimento causaram tanto impacto no Brasil e no mundo. O primeiro filme foi o vencedor do Festival de Berlim, o segundo conseguiu bater um recorde de bilheteria que era sustentado por Dona Flor e Seus Dois Maridos há mais de vinte anos.
Em Robocop, Padilha continua colocando na berlinda a polícia, a política e a imprensa. Utilizando-se do argumento do homem máquina, ele constrói seu próprio mito e fala das escolhas norte-americanas. Mostra o imperialismo, mostra um âncora televisivo manipulador e sensacionalista, mostra os bastidores políticos e econômicos de escolhas frágeis. Mas, mostra também a luta de um homem dentro de uma máquina.
Alex Murphy aqui não é um robô, mas um homem dentro de um corpo mecânico sofrendo por sua condição. Isso incomodou a muitos fãs do original. Assim como o fato de um brasileiro expor os Estados Unidos pode não ter sido bem visto por sua população tão ufanista. O fato é que a crítica em geral tem sido pouco receptiva, no site Rotten Tomatoes a média da crítica está 49% e do público 66%. Já no IMDB está com 67%. Mas, isso não chega a ser uma rejeição total.
Há uma divisão clara. O New York Times elogiou o que chamou de um filme respeitável, onde a direção de atores se destaca. A Revista Variety achou o filme menos divertido que o original, mas que tem alma e é mais inteligente do que o esperado. Mas, teve crítico que disse que o filme era um crime ao cinema. Já a Rolling Stone acredita que o desespero de Padilha em tentar atualizar o filme de Paul Verhoeven é um gesto inútil.
De qualquer maneira, o filme segue disputando boas posições no ranking das bilheterias, tendo permanecido em terceiro, atrás de Uma Aventura Lego e Sobre Ontem à Noite, outro remake. Mas, a expectativa dos distribuidores é de que o filme vá melhor no mercado internacional. Pelo menos no Brasil, ele tem boas chances. Afinal, o diretor, o diretor de fotografia e montador são brasileiros e não é todo dia que vemos blockbusters Hollywoodianos assim tão próximos da nossa realidade.
Isabela Boscov fez uma matéria de oito páginas na Revista Veja enaltecendo o diretor, sua coragem e o resultado do filme. Realmente, é de se admirar o feito de Padilha em Hollywood. Ao contrário de Heitor Dhalia que fez um filme esquemático e frágil, o diretor de Tropa de Elite conseguiu impor seu estilo de uma maneira bastante interessante. Não apenas escolheu o filme, como impôs um diretor de fotografia desconhecido ao exterior e ainda levou o montador, que apesar de uma indicação ao Oscar e ter participado da equipe de Árvore da Vida, também não está instalado na indústria.
Padilha conseguiu algo mais significativo em termos comerciais que Fernando Meirelles também. O diretor de Cidade de Deus tem mais prestígio artístico, claro, já foi até indicado ao Oscar, mas seus filmes correm por fora na indústria, com produtoras independentes e menos cifrões.
Robocop não é um simples filme de ação, é um remake de um dos mais significativos filmes do final dos anos 80, dirigido por Paul Verhoeven. O diretor já tinha visto outro filme seu ser destruído em uma nova versão sem nenhum viés político. O remake de O Vingador do Futuro fica muito aquém do filme de 1990, se resumindo a uma ação pouco criativa.
O filme que José Padilha entrega ao mundo não é apenas um rascunho do seu antecessor, tem alma própria, com muitas pitadas do homem que vem questionando o papel da polícia, da política e da imprensa em seus filmes. O primeiro documentário de Padilha, Ônibus 174 já demonstrava isso. Entre outras coisas, ele questionou naquele episódio a função da mídia transmitindo ao vivo a operação e a decisão da polícia, sendo o erro do tiro do policial um ponto crítico na trama.
Com os dois Tropas de Elite ele foi além, expondo e chamando a população a pensar sobre a situação atual do nosso país, a corrupção na polícia e política, além de mostrar o poder manipulador da mídia. Não por acaso os dois filmes e o personagem Capitão Nascimento causaram tanto impacto no Brasil e no mundo. O primeiro filme foi o vencedor do Festival de Berlim, o segundo conseguiu bater um recorde de bilheteria que era sustentado por Dona Flor e Seus Dois Maridos há mais de vinte anos.
Em Robocop, Padilha continua colocando na berlinda a polícia, a política e a imprensa. Utilizando-se do argumento do homem máquina, ele constrói seu próprio mito e fala das escolhas norte-americanas. Mostra o imperialismo, mostra um âncora televisivo manipulador e sensacionalista, mostra os bastidores políticos e econômicos de escolhas frágeis. Mas, mostra também a luta de um homem dentro de uma máquina.
Alex Murphy aqui não é um robô, mas um homem dentro de um corpo mecânico sofrendo por sua condição. Isso incomodou a muitos fãs do original. Assim como o fato de um brasileiro expor os Estados Unidos pode não ter sido bem visto por sua população tão ufanista. O fato é que a crítica em geral tem sido pouco receptiva, no site Rotten Tomatoes a média da crítica está 49% e do público 66%. Já no IMDB está com 67%. Mas, isso não chega a ser uma rejeição total.
Há uma divisão clara. O New York Times elogiou o que chamou de um filme respeitável, onde a direção de atores se destaca. A Revista Variety achou o filme menos divertido que o original, mas que tem alma e é mais inteligente do que o esperado. Mas, teve crítico que disse que o filme era um crime ao cinema. Já a Rolling Stone acredita que o desespero de Padilha em tentar atualizar o filme de Paul Verhoeven é um gesto inútil.
De qualquer maneira, o filme segue disputando boas posições no ranking das bilheterias, tendo permanecido em terceiro, atrás de Uma Aventura Lego e Sobre Ontem à Noite, outro remake. Mas, a expectativa dos distribuidores é de que o filme vá melhor no mercado internacional. Pelo menos no Brasil, ele tem boas chances. Afinal, o diretor, o diretor de fotografia e montador são brasileiros e não é todo dia que vemos blockbusters Hollywoodianos assim tão próximos da nossa realidade.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Padilha, o homem que está mexendo com Hollywood
2014-02-17T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|grandes cineastas|materias|
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