Fargo
Da época em que Hollywood ainda não deixava os dois irmãos assinarem o mesmo filme, Fargo acabou sendo creditado como um filme de Joel Coen. Porém, como sempre, ambos dividiram a direção, o roteiro e a montagem, esta com o codinome de Roderick Jaynes. Fargo se tornou uma das referências de sua filmografia, e agora, vai virar série que deve estrear em abril nos Estados Unidos.
Na trama, um homem falido pensa um golpe perfeito. Simular o sequestro de sua esposa, para que o sogro rico pague o resgate que será dividido entre ele e os bandidos contratados. O problema é que nada sai como o planejado, envolvendo assassinatos e a investigação de uma delegada bem incomum, que ainda está grávida.
Marge Gunderson, interpretada por Frances McDormand, é a melhor coisa do filme. O que não é pouco, em uma obra como essa. Não por acaso deu o Oscar de melhor atriz para McDormand. A personagem, em sua estranheza, é extremamente cativante e divertida. É o mais próximo de empatia que criamos com a trama, que foi feita para gerar estranhamento mesmo e nos deixar "vendo" de fora, os acontecimentos.
Jerry Lundegaard, vivido por William H. Macy, é um tolo. Toda a sua trama é tola, todas as confusões que vai criando com seu plano mirabolante são tolas e ficamos mais incomodados com ele do que torcendo por seu sucesso. Principalmente quando as coisas começam a piorar e o final trágico vai se desenrolando.
Um dos pontos controversos de Fargo é a mentira dita no início, de que seria baseado em uma história real, que por respeito aos vivos teve os nomes trocados e por respeito aos mortos, a trama mantida. Na verdade, foi uma piada, talvez de mal gosto, dos irmãos Coen, já que é uma história inventada. Mas, faz parte do próprio humor irônico da dupla, que está sempre subvertendo o politicamente correto.
E é no roteiro o outro grande trunfo de Fargo. Não apenas pela história mirabolante que vai se complicando a cada passo, mas principalmente pelos diálogos ágeis. Cada cena é uma espécie de duelo verbal instigante, com diversas construções memoráveis. É gostoso acompanhar todo o processo, principalmente com atores tão bem dirigidos, nos envolvendo naquele texto.
A direção também é cuidadosa, nos dando alguns momentos incríveis como a primeira cena do cativeiro, onde Jean está amarrada e vendada, um dos bandidos está sentado quase catatônico, enquanto o outro bate na televisão que não pega nenhuma imagem. Toda a mise-en-scène ali ajuda no efeito de estranhamento e envolvimento ao mesmo tempo. Ainda mais quando a montagem nos leva para a televisão de Marge e seu marido no quarto.
Temos também algumas inserções estranhas que provavelmente ajudarão a dar continuidade ao universo em uma série, como o encontro de Marge com o ex-colega Mike. Todo a trama fica a parte da trama principal, e seria até mesmo desnecessária. Só vale para aumentar o estranhamento do universo e nos mostrar um pouco mais da personagem.
Fargo já se tornou uma espécie de clássico moderno. Ajudando na fama dos irmãos Coen, já que este era apenas o quinto filme da dupla e nos dando um vislumbre do que ainda viria por aí. Vamos torcer para a série ser tão boa quanto, se tornando, quem sabe, uma experiência próxima a Twin Peaks de David Lynch (com a diferença que, neste caso, a série veio antes).
Fargo (Fargo, 1996 / EUA)
Direção: Joel Coen, (Ethan Coen)
Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen
Com: William H. Macy, Frances McDormand, Steve Buscemi
Duração: 98 min.
Na trama, um homem falido pensa um golpe perfeito. Simular o sequestro de sua esposa, para que o sogro rico pague o resgate que será dividido entre ele e os bandidos contratados. O problema é que nada sai como o planejado, envolvendo assassinatos e a investigação de uma delegada bem incomum, que ainda está grávida.
Marge Gunderson, interpretada por Frances McDormand, é a melhor coisa do filme. O que não é pouco, em uma obra como essa. Não por acaso deu o Oscar de melhor atriz para McDormand. A personagem, em sua estranheza, é extremamente cativante e divertida. É o mais próximo de empatia que criamos com a trama, que foi feita para gerar estranhamento mesmo e nos deixar "vendo" de fora, os acontecimentos.
Jerry Lundegaard, vivido por William H. Macy, é um tolo. Toda a sua trama é tola, todas as confusões que vai criando com seu plano mirabolante são tolas e ficamos mais incomodados com ele do que torcendo por seu sucesso. Principalmente quando as coisas começam a piorar e o final trágico vai se desenrolando.
Um dos pontos controversos de Fargo é a mentira dita no início, de que seria baseado em uma história real, que por respeito aos vivos teve os nomes trocados e por respeito aos mortos, a trama mantida. Na verdade, foi uma piada, talvez de mal gosto, dos irmãos Coen, já que é uma história inventada. Mas, faz parte do próprio humor irônico da dupla, que está sempre subvertendo o politicamente correto.
E é no roteiro o outro grande trunfo de Fargo. Não apenas pela história mirabolante que vai se complicando a cada passo, mas principalmente pelos diálogos ágeis. Cada cena é uma espécie de duelo verbal instigante, com diversas construções memoráveis. É gostoso acompanhar todo o processo, principalmente com atores tão bem dirigidos, nos envolvendo naquele texto.
A direção também é cuidadosa, nos dando alguns momentos incríveis como a primeira cena do cativeiro, onde Jean está amarrada e vendada, um dos bandidos está sentado quase catatônico, enquanto o outro bate na televisão que não pega nenhuma imagem. Toda a mise-en-scène ali ajuda no efeito de estranhamento e envolvimento ao mesmo tempo. Ainda mais quando a montagem nos leva para a televisão de Marge e seu marido no quarto.
Temos também algumas inserções estranhas que provavelmente ajudarão a dar continuidade ao universo em uma série, como o encontro de Marge com o ex-colega Mike. Todo a trama fica a parte da trama principal, e seria até mesmo desnecessária. Só vale para aumentar o estranhamento do universo e nos mostrar um pouco mais da personagem.
Fargo já se tornou uma espécie de clássico moderno. Ajudando na fama dos irmãos Coen, já que este era apenas o quinto filme da dupla e nos dando um vislumbre do que ainda viria por aí. Vamos torcer para a série ser tão boa quanto, se tornando, quem sabe, uma experiência próxima a Twin Peaks de David Lynch (com a diferença que, neste caso, a série veio antes).
Fargo (Fargo, 1996 / EUA)
Direção: Joel Coen, (Ethan Coen)
Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen
Com: William H. Macy, Frances McDormand, Steve Buscemi
Duração: 98 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Fargo
2014-03-21T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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