Menina Má.com
Um homem de trinta e poucos anos, uma garotinha de catorze. Conversas pela internet, um encontro, um convite à casa do rapaz para uma sessão de fotos sensuais. Ao ler essa descrição, poderíamos tirar conclusões precipitadas sobre vítima e algoz, mas Menina Má.com quer misturar um pouco esses estereótipos.
Na verdade, a personagem de Ellen Page, Hayley é uma garota aparentemente ingênua, que tem um plano em mente. Fisgar o suposto pedófilo Jeff, vivido por Patrick Wilson para descobrir se ele está por trás do sumiço da garota Dona Mauer. Tudo é pensado para envolver o rapaz, dopá-lo e prendê-lo em sua própria casa enquanto ela procura as provas. Quando a situação começa a se complicar, ela inicia o doentio plano de tortura para conseguir o que quer.
Menina Má.com é um suspense competente. Trata de um tempo delicado, mexendo com as expectativas e jogando com estereótipos. Afinal, quem é vítima e quem é vilão nessa trama? Até que ponto podemos desculpar a menina que tortura, ou mesmo o cara que tentava seduzir garotinhas? Nada está mesmo dentro do padrão construído, tudo pode ser discutido e explorado. Há um jogo psicológico intenso, doentio até, dela em relação a ele, a cada novo ato e ficamos ali observando tudo.
A construção da tensão é muito bem feita, principalmente ao contar praticamente apenas com os dois atores e uma casa. Além deles apenas dois outros personagens interagem em cena, tudo fica concentrado ali, neles, no diálogo intenso, nas atitudes pensadas tal qual um tabuleiro de xadrez, onde ela parece ter tudo planejado, e ele segue apenas seu instinto de sobrevivência.
O jogo de câmeras é ágil em nos envolver na expectativa de cada passo. Sempre com planos muito fechados, nos dando pouca informação sobre o ambiente ou mesmo sobre a disposição dos personagens. Em uma sequência especialmente tensa, somos jogados junto com Jeff no plano de Hayley, acreditando em cada coisa que ela diz estar fazendo. Sentindo o medo e angústia junto a ele. Só saímos do ponto de vista dos dois personagens em uma cena em que a garota anda pelo telhado e vemos a personagem de Sandra Oh observando a cena.
A vizinha, no entanto, acaba tendo pouca participação na narrativa. Gerando pequenas falsas expectativas, mas que também não interferem muito no contexto. O que nos deixa presos é mesmo a atuação de Patrick Wilson em seu constante pavor e, principalmente, de Ellen Page que domina a cena com sua postura sádica e ao mesmo tempo ingênua. Talvez por isso, o título em português tenha pendido para o estereótipo da "menina má". O que não chega a ser uma defesa direta do filme, já que apresenta seus motivos e os defeitos também do rapaz.
O problema é que o filme apresenta isso de uma maneira muito superficial. Ao focar no jogo cênico da tensão e do suspense, o roteiro acaba não aprofundando no tema. Ao não expor julgamentos diretos sobre as atitudes de nenhum dos dois personagens, preferindo apenas a ação contínua, acaba deixando de discutir algo delicado e extremamente sério em nossa sociedade que é a pedofilia. E também, por que não, a questão da justiça pelas próprias mãos. Temas delicados que não poderiam ficar expostos de uma maneira leviana.
De qualquer maneira, Menina Má.com acaba cumprindo o seu principal objetivo que é construir um suspense intenso, onde não há mocinhos nem bandidos definitivos. O monstro pode ser a real vítima, e com algumas surpresas. Uma obra que marcou a jovem carreira de Ellen Page, que ainda viria a nos surpreender em outras belas obras.
Menina Má.com (Hard Candy, 2005 / EUA)
Direção: David Slade
Roteiro: Brian Nelson
Com: Patrick Wilson, Ellen Page, Sandra Oh
Duração: 104 min.
Na verdade, a personagem de Ellen Page, Hayley é uma garota aparentemente ingênua, que tem um plano em mente. Fisgar o suposto pedófilo Jeff, vivido por Patrick Wilson para descobrir se ele está por trás do sumiço da garota Dona Mauer. Tudo é pensado para envolver o rapaz, dopá-lo e prendê-lo em sua própria casa enquanto ela procura as provas. Quando a situação começa a se complicar, ela inicia o doentio plano de tortura para conseguir o que quer.
Menina Má.com é um suspense competente. Trata de um tempo delicado, mexendo com as expectativas e jogando com estereótipos. Afinal, quem é vítima e quem é vilão nessa trama? Até que ponto podemos desculpar a menina que tortura, ou mesmo o cara que tentava seduzir garotinhas? Nada está mesmo dentro do padrão construído, tudo pode ser discutido e explorado. Há um jogo psicológico intenso, doentio até, dela em relação a ele, a cada novo ato e ficamos ali observando tudo.
A construção da tensão é muito bem feita, principalmente ao contar praticamente apenas com os dois atores e uma casa. Além deles apenas dois outros personagens interagem em cena, tudo fica concentrado ali, neles, no diálogo intenso, nas atitudes pensadas tal qual um tabuleiro de xadrez, onde ela parece ter tudo planejado, e ele segue apenas seu instinto de sobrevivência.
O jogo de câmeras é ágil em nos envolver na expectativa de cada passo. Sempre com planos muito fechados, nos dando pouca informação sobre o ambiente ou mesmo sobre a disposição dos personagens. Em uma sequência especialmente tensa, somos jogados junto com Jeff no plano de Hayley, acreditando em cada coisa que ela diz estar fazendo. Sentindo o medo e angústia junto a ele. Só saímos do ponto de vista dos dois personagens em uma cena em que a garota anda pelo telhado e vemos a personagem de Sandra Oh observando a cena.
A vizinha, no entanto, acaba tendo pouca participação na narrativa. Gerando pequenas falsas expectativas, mas que também não interferem muito no contexto. O que nos deixa presos é mesmo a atuação de Patrick Wilson em seu constante pavor e, principalmente, de Ellen Page que domina a cena com sua postura sádica e ao mesmo tempo ingênua. Talvez por isso, o título em português tenha pendido para o estereótipo da "menina má". O que não chega a ser uma defesa direta do filme, já que apresenta seus motivos e os defeitos também do rapaz.
O problema é que o filme apresenta isso de uma maneira muito superficial. Ao focar no jogo cênico da tensão e do suspense, o roteiro acaba não aprofundando no tema. Ao não expor julgamentos diretos sobre as atitudes de nenhum dos dois personagens, preferindo apenas a ação contínua, acaba deixando de discutir algo delicado e extremamente sério em nossa sociedade que é a pedofilia. E também, por que não, a questão da justiça pelas próprias mãos. Temas delicados que não poderiam ficar expostos de uma maneira leviana.
De qualquer maneira, Menina Má.com acaba cumprindo o seu principal objetivo que é construir um suspense intenso, onde não há mocinhos nem bandidos definitivos. O monstro pode ser a real vítima, e com algumas surpresas. Uma obra que marcou a jovem carreira de Ellen Page, que ainda viria a nos surpreender em outras belas obras.
Menina Má.com (Hard Candy, 2005 / EUA)
Direção: David Slade
Roteiro: Brian Nelson
Com: Patrick Wilson, Ellen Page, Sandra Oh
Duração: 104 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Menina Má.com
2014-04-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
critica|David Slade|Ellen Page|Patrick Wilson|Sandra Oh|suspense|
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