
Desde o
reboot de
O Planeta dos Macacos a sensação é de que o
filme clássico de
Franklin J. Schaffner finalmente teria um desenvolvimento à altura, já que os
filmes da década de 70 deixam muito à desejar. Em
A Origem, adaptações foram feitas, mudanças significativas nos motivos e na realidade mundial, mas houve coerência, inclusive ao vermos uma nave ser enviada ao espaço de maneira quase despercebida. Essa coerência se mantem em
O Confronto, nos dando um
filme ainda melhor que o de 2011.
Dez anos se passaram desde que
Caesar fugiu para a floresta. A humanidade está praticamente dizimada com o ataque de um vírus apelidado de símio. Os
macacos nem mesmo sabem se ainda existe algum da espécie, até que um pequeno grupo aparece no local e atira em um deles. Caesar os manda correr, mas eles terão que voltar, pois ali está escondida uma represa que pode devolver a energia elétrica ao posto de resistência humana. Desse novo encontro, inicia-se um confronto que dividirá
macacos e humanos entre os que querem manter a paz e os que preferem ir à
guerra.

A relação de amor e ódio entre humanos e
macacos já abordada no primeiro
filme, se mantem aqui. Agora, Caesar irá se aproximar da família de Malcolm, interpretado por
Jason Clarke, que lidera a expedição em busca da represa. Ele, sua esposa, seu filho e outros percebem que é melhor criar vínculos com os
macacos em uma ajuda mútua, ao contrário de Dreyfus, personagem de
Gary Oldman que acredita que os bichos sejam perigosos. Na aldeia dos
macacos, a divisão também se faz, principalmente entre o líder Caesar e o
macaco Koba, que tem traumas da época em que foi cobaia e não confia nos humanos, por só ver seu lado ruim.
Essa máxima, aliás, vem desde o livro de
Pierre Boulle e da saga original. Não dá para dizer que
macacos são bons e humanos são maus. Ou vice-versa. Essa natureza competitiva e até mesmo de auto-defesa ou instinto de sobrevivência permeia ambas as raças. Mas, é interessante ver como as leis que conhecemos de outros
filmes ressurgem aqui como o "primeiro mandamento":
Macaco não mata
macaco, que também encontra eco em
A Revolução dos Bichos. E aqui tudo isso ganha dimensões ainda mais dramáticas.

O roteiro constrói bem o dilema de Caesar em busca da justiça e da paz. É um personagem extremamente bem construído em suas nuanças, e por isso, tudo funciona tão bem. É possível entender o desespero dos humanos acuados em um mundo hostil. De Caesar, que quer manter sua família segura, mas tem lembranças boas de alguns humanos. E de Koba, que só conheceu a dor e o desespero daquelas pessoas. É interessante perceber também o quanto os
macacos parecem mais unidos que os humanos. A liderança de Caesar é visível, ele fala, os
macacos se abaixam e respeitam. Enquanto que no lado humano, mesmo com um megafone nas mãos, o personagem de
Gary Oldman tem dificuldade de se fazer ouvido.

Chama a atenção em
Planeta dos Macacos: O Confronto também a qualidade da produção. Ainda melhor que em A Origem, os
macacos surgem em nossa tela como reais. A interação com os atores humanos em cena é impressionante. O realismo dos personagens
macacos, que se traduz não apenas nas expressões faciais, mas em toda a composição corporal, é completamente crível.
Andy Serkis mais uma vez nos entrega uma interpretação admirável como o
macaco Caesar, mas desta vez, está acompanhado de um excelente elenco que ajuda a compor sua família. Não há dúvidas de que eles roubam a cena. Com destaque para
Toby Kebbell como Koba,
Nick Thurston como Olhos Azuis e
Karin Konoval como Maurice.
Matt Reeves é bastante feliz também no comando da trama, que tem ritmo em uma montagem que não precisa ser frenética o tempo todo, intercalando os momentos tensos com os de contemplação de Caesar e os
macacos em sua rotina na aldeia. A cena inicial, por exemplo, é muito boa. A construção da ambiência, a quebra da expectativa, toda a
mise-en-scène é cuidadosa, nos colocando naquele mundo de uma maneira especial. É interessante também, como o ponto de vista dos
macacos, em especial Caesar que é o protagonista, nos leva a tomar partido, ainda que no fundo torçamos pela paz e saibamos como tudo termina.
Planeta dos Macacos: O Confronto é um
filme que cumpre suas expectativas. Bem construído, com efeitos especiais e atuações que merecem destaque, traz também uma história coerente que aprofunda o tema já conhecido. É gratificante também perceber o cuidado coma coerência de tudo que já foi construído e dito sobre essa saga que nos fascina. Exceto, é claro, o erro dirigido por
Tim Burton que é melhor mesmo ser esquecido.
Planeta dos Macacos: O Confronto (Dawn of the Planet of the Apes, 2014 / EUA)
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Mark Bomback, Rick Jaffa
Com: Gary Oldman, Jason Clarke, Keri Russell, Andy Serkis
Duração: 130 min.