Antes de Dormir
Baseado no livro de S.J. Watson, Antes de Dormir traz elementos de muitas histórias de suspense familiar conhecidas e também de outros gêneros. Não dá para não comparar como a comédia Como se Fosse a Primeira Vez, por exemplo. De qualquer maneira, o resultado transita entre questões interessantes de suspense e surpresa, com um certo absurdo na trama.
Christine Lucas é uma mulher sem passado. Pelo menos em sua memória. Todos os dias ela acorda não se lembrando de acontecimentos de sua vida, e cabe a seu marido Ben relembrá-la seu nome, seus gostos, suas necessidades. Todos os dias, ela também é lembrada pelo dr. Nasch de seu tratamento psiquiátrico sigiloso onde utiliza uma câmera fotográfica como agenda e, aos poucos, lampejos de seu passado vão demonstrando que nem tudo é como parece.
Há incongruências na história de Christine, e elas só vão piorando à medida que a história avança e vamos descobrindo a verdade sobre os acontecimentos. A começar pelo o que ela lembra. É curioso que ela não lembre de acontecimentos mesmo anteriores ao seu acidente e não fica claro o ponto exato de onde ela lembra, muito menos o porquê desse ponto. Mais do que isso, em nenhum momento ela esboça qualquer lembrança ou reconhecimento de amigos e familiares, como se fosse realmente um livro em branco.
Essas incongruências só vão aumentando à medida que ela vai tendo seus relâmpagos de memória. E o resultado final, apesar de uma boa virada na trama e uma construção surpreendente, traz muitas incoerências. Inclusive a questão das crises "violentas" dela, já que não demonstra nenhum traço de violência. O seu acidente, que na verdade logo se revela um ataque, também tem diversas pontas soltas, vide o próprio hotel que parece sempre estar vazio. Fora os demais detalhes que são revelados no final e que fica difícil de comprar a ideia de que fosse possível.
Isso é uma das piores coisas que podem acontecer com um filme: a suspensão da realidade na descrença do espectador. Se ele não compra a verossimilhança da trama, começa a questionar tudo e não embarca no filme deixando que a programação de efeitos funcione a contento. Fica frágil, e Antes de Dormir acaba ficando frágil em uma análise apesar de uma boa condução durante o processo.
Dois motivos são fundamentais para essa condução, o tema realmente instiga, nos deixando curiosos sobre o passado da protagonista. E os atores, que apesar de personagens mal construídos sem nenhum aprofundamento que justifique suas atitudes, são interpretados com entrega pelo trio principal. Nicole Kidman consegue nos passar toda a angústia de Christine e sua dor a cada descoberta. Colin Firth é impressionante em sua composição dúbia de Ben, inclusive na virada mirabolante. E Mark Strong também consegue nos deixar em dúvida em relação às intenções de seu personagem.
A forma como o passado vai sendo revelado, as pistas que vão sendo apresentadas, nos fazendo ir juntando as peças é interessante. Principalmente, porque apesar de nosso raciocínio seguir pelo caminho correto, há uma surpresa. Mas, quando percebemos as atitudes dos personagens ficam perguntas demais não respondidas, principalmente do porquê de suas ações, não parece fazer muito sentido e isso é resultado de uma construção pouco aprofundada.
De qualquer maneira, Antes de Dormir não chega a ser um filme ruim. É frágil e poderia caminhar por escolhas muito melhores. Mas, enquanto estamos ali, ele traz bons momentos de tensão e surpresa que nos fazem embarcar e manter atentos por toda a projeção. Pena que logo depois já seja esquecível.
Antes de Dormir (Before I Go to Sleep, 2014 / Reino Unido)
Direção: Rowan Joffe
Roteiro: Rowan Joffe
Com: Nicole Kidman, Colin Firth, Mark Strong
Duração: 92 min.
Christine Lucas é uma mulher sem passado. Pelo menos em sua memória. Todos os dias ela acorda não se lembrando de acontecimentos de sua vida, e cabe a seu marido Ben relembrá-la seu nome, seus gostos, suas necessidades. Todos os dias, ela também é lembrada pelo dr. Nasch de seu tratamento psiquiátrico sigiloso onde utiliza uma câmera fotográfica como agenda e, aos poucos, lampejos de seu passado vão demonstrando que nem tudo é como parece.
Há incongruências na história de Christine, e elas só vão piorando à medida que a história avança e vamos descobrindo a verdade sobre os acontecimentos. A começar pelo o que ela lembra. É curioso que ela não lembre de acontecimentos mesmo anteriores ao seu acidente e não fica claro o ponto exato de onde ela lembra, muito menos o porquê desse ponto. Mais do que isso, em nenhum momento ela esboça qualquer lembrança ou reconhecimento de amigos e familiares, como se fosse realmente um livro em branco.
Essas incongruências só vão aumentando à medida que ela vai tendo seus relâmpagos de memória. E o resultado final, apesar de uma boa virada na trama e uma construção surpreendente, traz muitas incoerências. Inclusive a questão das crises "violentas" dela, já que não demonstra nenhum traço de violência. O seu acidente, que na verdade logo se revela um ataque, também tem diversas pontas soltas, vide o próprio hotel que parece sempre estar vazio. Fora os demais detalhes que são revelados no final e que fica difícil de comprar a ideia de que fosse possível.
Isso é uma das piores coisas que podem acontecer com um filme: a suspensão da realidade na descrença do espectador. Se ele não compra a verossimilhança da trama, começa a questionar tudo e não embarca no filme deixando que a programação de efeitos funcione a contento. Fica frágil, e Antes de Dormir acaba ficando frágil em uma análise apesar de uma boa condução durante o processo.
Dois motivos são fundamentais para essa condução, o tema realmente instiga, nos deixando curiosos sobre o passado da protagonista. E os atores, que apesar de personagens mal construídos sem nenhum aprofundamento que justifique suas atitudes, são interpretados com entrega pelo trio principal. Nicole Kidman consegue nos passar toda a angústia de Christine e sua dor a cada descoberta. Colin Firth é impressionante em sua composição dúbia de Ben, inclusive na virada mirabolante. E Mark Strong também consegue nos deixar em dúvida em relação às intenções de seu personagem.
A forma como o passado vai sendo revelado, as pistas que vão sendo apresentadas, nos fazendo ir juntando as peças é interessante. Principalmente, porque apesar de nosso raciocínio seguir pelo caminho correto, há uma surpresa. Mas, quando percebemos as atitudes dos personagens ficam perguntas demais não respondidas, principalmente do porquê de suas ações, não parece fazer muito sentido e isso é resultado de uma construção pouco aprofundada.
De qualquer maneira, Antes de Dormir não chega a ser um filme ruim. É frágil e poderia caminhar por escolhas muito melhores. Mas, enquanto estamos ali, ele traz bons momentos de tensão e surpresa que nos fazem embarcar e manter atentos por toda a projeção. Pena que logo depois já seja esquecível.
Antes de Dormir (Before I Go to Sleep, 2014 / Reino Unido)
Direção: Rowan Joffe
Roteiro: Rowan Joffe
Com: Nicole Kidman, Colin Firth, Mark Strong
Duração: 92 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Antes de Dormir
2015-02-25T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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