
O eterno dilema entre família e trabalho que as mulheres passaram a ter quando conquistaram seu espaço no mundo executivo é maximizado aqui, trazendo Juliette Binoche em grande performance. Ela encarna o dilema de Rebecca com uma sensibilidade ímpar. Dá para perceber a vontade daquela mulher de salvar seu casamento e dar um pouco de estabilidade emocional à suas filhas. Mas, o seu trabalho também é de extrema importância.

Ao mesmo tempo, há uma questão ética latente que vem desde a primeira cena e é um dos motivos dela quase ter morrido em um atentado terrorista. Rebecca estava fotografando um ritual de uma mulher bomba, ela sabia que aquela moça iria explodir levando diversas pessoas inocentes com ela. Como não avisar? Como dar as costas para se proteger, enquanto velhos e crianças iam para os ares. E, ao mesmo tempo, como fotografar isso após todo o terror?

Um jogo de culpa, incompreensão e exaltação ao mesmo tempo em um trabalho ingrato e árduo, porém necessário. Adoramos admirar mártires e heróis, mas não queremos que eles sejam nossos parentes, para que não soframos as consequências que aquelas escolhas trazem. É lindo admirar alguém que arrisca a própria vida para salvar outra, mas se essa pessoa é sua mãe ou sua mulher, nos sentimos frágeis e assustados.

Outra construção extremamente poética é vista nas imagens, bem naturais vindas de um diretor fotógrafo. Há momentos belíssimos como as diversas cenas com lençóis brancos no jardim e uma mão passando, ou no banheiro também todo branco, com a mão dela no box. Há ainda a divagação após o atentado que faz a montagem dela no chão, sua imaginação e ela deitada no hospital. Por fim, as cenas dela e o marido brincando na praia. Tudo isso traz momentos de leveza a um tema tão pesado.
Mil Vezes Boa Noite é um filme emocionante e verdadeiro em seus questionamentos. Mostra uma mulher dividida, mas que, no fundo, sabe exatamente o que a mantém viva. E nos leva junto em suas emoções.
Mil Vezes Boa Noite (Tusen ganger god natt, 2014 / Noruega)
Direção: Erik Poppe
Roteiro: Erik Poppe, Harald Rosenløw-Eeg
Com: Nikolaj Coster-Waldau, Juliette Binoche, Maria Doyle Kennedy
Duração: 117 min.