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Theodore Melfi
Um Santo Vizinho
Um Santo Vizinho
O título é de um daqueles filmes que passa à tarde na televisão, sem maiores compromissos. A estrutura, também. Ainda assim, Um Santo Vizinho é bem conduzido, principalmente por seu elenco afinado encabeçado por Bill Murray.
A história é baseada na fórmula das aparências que enganam. Vincent é um retrato de homem fracassado. Sua casa é uma sujeira só, sua alimentação descontrolada e vive bebendo. Ele ainda tem uma relação com uma prostituta grávida, está cheio de dívidas e é viciado em corridas de cavalo. Apesar de tudo isso, ele se torna a "babá" perfeita para um garoto recém chegado na cidade, com pais separados e dificuldades de se relacionar no colégio. Surgindo uma bela amizade.
A estrutura é básica, a construção dramática clichê e tudo parece muito previsível. Mas, o roteiro de Theodore Melfi consegue brincar com os estereótipos, aprofundando os seus personagens, principalmente Vincent, que vai sendo revelado para nós aos poucos. É só graças ao talento e carisma de Bill Murray que não conseguimos antipatizar com ele nos primeiros momentos, mas à medida que vamos conhecendo suas dores e, principalmente, um fato em especial, o personagem cresce a nossos olhos se tornando mais interessante.
Da mesma maneira, o garotinho Oliver é o estereótipo do novato fragilizado que encontra uma gangue para persegui-lo. Mas, o pequeno ator Jaeden Lieberher ajuda a compor um personagem mais complexo com pequenas camadas em sua personalidade, a começar por uma maturidade impressionante. Até na hora de dormir é ele quem lê uma história para mãe e não o contrário. São vários comentários que vão nos mostrando mais do que a fragilidade aparente que culminam na resolução da trama.
É ainda o típico filme de confronto de gerações. Há uma cena em que a trama nos lembra Daniel San e Sr. Miyagi em seus ensinamentos para a vida. Sendo que aqui, os ensinamentos de Vincent não são tão sábios, apesar de funcionar perfeitamente. Aliás, no reverso da expectativa é Oliver que acaba dando um ensinamento para a vida. E ainda que tudo pareça um grande déjà vù, funciona pela entrega dos envolvidos no processo.
Porém, nem tudo são flores na obra. A direção de Theodore Melfi tende a certos exageros. Força a situação absurda em que vive Vincent, vide uma das cenas iniciais em casa quando tenta pegar umas pedras de gelo. Força na carga melodramática de algumas situações. Constrói uma atmosfera estranha onde drama e comédia se misturam e acaba se perdendo no tom. Ainda que nada impeça de um filme não se definir entre um dos gêneros.
Um Santo Vizinho pode não ser daquelas obras arrebatadoras, extremamente criativas ou surpreendentes. Mas, em sua simplicidade consegue aprofundar temas e apresentar suas lições de vida de uma maneira honesta e envolvente. E acaba criando uma experiência interessante.
Um Santo Vizinho (St. Vincent, 2014 / EUA)
Direção: Theodore Melfi
Roteiro: Theodore Melfi
Com: Bill Murray, Melissa McCarthy, Naomi Watts, Jaeden Lieberher
Duração: 102 min.
A história é baseada na fórmula das aparências que enganam. Vincent é um retrato de homem fracassado. Sua casa é uma sujeira só, sua alimentação descontrolada e vive bebendo. Ele ainda tem uma relação com uma prostituta grávida, está cheio de dívidas e é viciado em corridas de cavalo. Apesar de tudo isso, ele se torna a "babá" perfeita para um garoto recém chegado na cidade, com pais separados e dificuldades de se relacionar no colégio. Surgindo uma bela amizade.
A estrutura é básica, a construção dramática clichê e tudo parece muito previsível. Mas, o roteiro de Theodore Melfi consegue brincar com os estereótipos, aprofundando os seus personagens, principalmente Vincent, que vai sendo revelado para nós aos poucos. É só graças ao talento e carisma de Bill Murray que não conseguimos antipatizar com ele nos primeiros momentos, mas à medida que vamos conhecendo suas dores e, principalmente, um fato em especial, o personagem cresce a nossos olhos se tornando mais interessante.
Da mesma maneira, o garotinho Oliver é o estereótipo do novato fragilizado que encontra uma gangue para persegui-lo. Mas, o pequeno ator Jaeden Lieberher ajuda a compor um personagem mais complexo com pequenas camadas em sua personalidade, a começar por uma maturidade impressionante. Até na hora de dormir é ele quem lê uma história para mãe e não o contrário. São vários comentários que vão nos mostrando mais do que a fragilidade aparente que culminam na resolução da trama.
É ainda o típico filme de confronto de gerações. Há uma cena em que a trama nos lembra Daniel San e Sr. Miyagi em seus ensinamentos para a vida. Sendo que aqui, os ensinamentos de Vincent não são tão sábios, apesar de funcionar perfeitamente. Aliás, no reverso da expectativa é Oliver que acaba dando um ensinamento para a vida. E ainda que tudo pareça um grande déjà vù, funciona pela entrega dos envolvidos no processo.
Porém, nem tudo são flores na obra. A direção de Theodore Melfi tende a certos exageros. Força a situação absurda em que vive Vincent, vide uma das cenas iniciais em casa quando tenta pegar umas pedras de gelo. Força na carga melodramática de algumas situações. Constrói uma atmosfera estranha onde drama e comédia se misturam e acaba se perdendo no tom. Ainda que nada impeça de um filme não se definir entre um dos gêneros.
Um Santo Vizinho pode não ser daquelas obras arrebatadoras, extremamente criativas ou surpreendentes. Mas, em sua simplicidade consegue aprofundar temas e apresentar suas lições de vida de uma maneira honesta e envolvente. E acaba criando uma experiência interessante.
Um Santo Vizinho (St. Vincent, 2014 / EUA)
Direção: Theodore Melfi
Roteiro: Theodore Melfi
Com: Bill Murray, Melissa McCarthy, Naomi Watts, Jaeden Lieberher
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Um Santo Vizinho
2015-02-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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