
A história é baseada na fórmula das aparências que enganam. Vincent é um retrato de homem fracassado. Sua casa é uma sujeira só, sua alimentação descontrolada e vive bebendo. Ele ainda tem uma relação com uma prostituta grávida, está cheio de dívidas e é viciado em corridas de cavalo. Apesar de tudo isso, ele se torna a "babá" perfeita para um garoto recém chegado na cidade, com pais separados e dificuldades de se relacionar no colégio. Surgindo uma bela amizade.

Da mesma maneira, o garotinho Oliver é o estereótipo do novato fragilizado que encontra uma gangue para persegui-lo. Mas, o pequeno ator Jaeden Lieberher ajuda a compor um personagem mais complexo com pequenas camadas em sua personalidade, a começar por uma maturidade impressionante. Até na hora de dormir é ele quem lê uma história para mãe e não o contrário. São vários comentários que vão nos mostrando mais do que a fragilidade aparente que culminam na resolução da trama.

Porém, nem tudo são flores na obra. A direção de Theodore Melfi tende a certos exageros. Força a situação absurda em que vive Vincent, vide uma das cenas iniciais em casa quando tenta pegar umas pedras de gelo. Força na carga melodramática de algumas situações. Constrói uma atmosfera estranha onde drama e comédia se misturam e acaba se perdendo no tom. Ainda que nada impeça de um filme não se definir entre um dos gêneros.
Um Santo Vizinho pode não ser daquelas obras arrebatadoras, extremamente criativas ou surpreendentes. Mas, em sua simplicidade consegue aprofundar temas e apresentar suas lições de vida de uma maneira honesta e envolvente. E acaba criando uma experiência interessante.
Um Santo Vizinho (St. Vincent, 2014 / EUA)
Direção: Theodore Melfi
Roteiro: Theodore Melfi
Com: Bill Murray, Melissa McCarthy, Naomi Watts, Jaeden Lieberher
Duração: 102 min.