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O Destino de Júpiter
O Destino de Júpiter
Quando Matrix estreou em 1999, o cinema industrial parecia ganhar novo fôlego. Era uma mistura inteligente de diversas filosofias, teorias e lendas misturadas com uma nova roupagem que envolvia e encantava visualmente. Ainda trazia um conceito transmidiático empolgante com séries em animação, games, revistas que expandiam o universo e nos davam uma sensação de participação. Parecia que era fundamental ficar de olho nos irmãos Wachowski e no que eles ainda tinham a nos dizer.
Dezesseis anos se passaram e é triste constatar que eles não disseram muito mais desde então. Mesmo as duas continuações da trilogia que os elevou ao estrelado não parecia ter algo de realmente interessante. Tirando o universo Matrix, eles dirigiram o longa de Speed Racer, A Viagem e agora, O Destino de Júpiter que mais parece uma colcha de retalhos indigesta com muita cena de ação e uma trama difícil de engolir.
Porque o absurdo não é o problema. Quando Morpheus explicou a Neo que o mundo em que ele vivia era uma ilusão criada por computador e que os seres humanos eram uma espécie de pilha para máquinas que dominavam o planeta, a gente comprou a ideia. Porque o roteiro construiu tudo isso de uma maneira crível, impressionantemente tudo fazia sentido naquela realidade, inclusive o fato dele ser O Escolhido e poder mudá-la. No caso de Júpiter não.
Ainda que tenha indícios interessantes em sua teoria, há algo que não parece se encaixar nesta realidade insólita, a começar pela natureza da garota. Uma imigrante russa morando em Chicago com sua família numerosa e que lava vasos sanitários como meio de vida, ser a reencarnação da matriarca da família mais poderosa do universo. Pior que isso, seus filhos estão atrás dela, porque deixou em seu testamento que poderia reivindicar de volta aquilo que em sua herança era seu bem mais precioso: o planeta Terra.
Incongruências já começam no próprio discurso. O personagem de Channing Tatum explica que os humanos que vivem na Terra são muito egocêntricos já que em um universo infinito não poderiam ser os únicos habitantes. Mas, é interessante que em todo o sistema solar não parece que há planetas povoados como o nosso pequeno planeta azul. Os três irmãos mesmo moram espalhados entre naves e estações espaciais. E a Terra é a mais preciosa por ser uma "fazenda", o local onde a colheita (ou seja, vidas) daria a eles o verdadeiro bem mais precioso: o tempo. Então, no final das contas, estamos ou não estamos sozinhos nessa?
E daí tudo se resume a brigar pela Terra. Balem Abrasax, o irmão que herdou a Terra quer matar a reencarnação da mãe para não perdê-la. E seus irmãos Titus e Kalique vão tentar protegê-la para tê-la ao seu lado e assim, quem sabe, conseguir o controle da Terra. É aí, que entra em ação todos os alienígenas que querem caçar a moça, enquanto que o guarda-costas Caine Wise tenta proteger a "gata borralheira" para que se torne novamente a rainha do universo.
E, costurando essa estranha trama cheia de incongruências, temos muita cena de ação envolvente. Disputas no ar, na terra, no espaço, em meio a engrenagens de naves. Tudo com um 3D bem construído que ajuda na imersão das imagens e o som impactante que nos coloca junto nas cenas, mas que se tornam repetitivas e vazias. Perde-se as contas de quantas vezes vemos Júpiter caindo e Caine surfando no ar em sua direção para salvá-la.
E fica mais estranho ainda que uma realidade fantástica, com tanta ação e seres poderosos tenha uma das sequências principais da história resolvida com uma espécie de sátira à burocracia humana e sua capacidade de corrupção. A estrutura me lembrou muito uma sequência do filme Super Xuxa Contra o Baixo Astral que terminava com a rainha dos baixinhos cantando uma música que tinha no refrão a singela frase "pega a burocracia e joga na bacia que eu faço um brinquedo de papel machê".
Nada contra a sátiras, só que elas funcionam muito bem em filmes que se assumem assim como Guardiões da Galáxia ou O Guia do Mochileiro das Galáxias. O Destino de Júpiter fica oscilando entre uma obra séria, uma aventura, uma trajetória de ascensão, uma história de amor e uma grande piada. Não se definir é outro ponto fundamental para o público não conseguir embarcar na trama e comprar a ideia do universo proposto.
Isso sem falar que os personagens são pouco desenvolvidos, é complicado compreender suas motivações e suas personalidades. O vilão Balem vivido por Eddie Redmayne é extremamente caricato e o ator acaba embarcando nessa armadilha, entregando uma atuação quase risível, o que chega a ser assustador em uma temporada que o mostra excepcional como Stephen Hawking. Mila Kunis também constrói uma Júpiter extremamente superficial, assim como Channing Tatum, que mesmo em seu drama de exilado não nos convence de sua dor, porque não a compreendemos completamente.
O Destino de Júpiter é um filme pretensioso que se mascara de descolado. Os absurdos, os clichês, as referências são tão explícitas que nos dá a pista de que os irmãos Wachowski não querem se levar à sério. Mas, ao inserir tantas referências filosóficas sobre a humanidade, sua formação e seu egoísmo, acaba construindo incongruências difíceis de aceitar tão facilmente. Uma pena que eles até hoje não parecem ter entendido a chave do sucesso de Matrix.
O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, 2015 / EUA)
Direção: Andy e Lana Wachowski (The Wachowskis)
Roteiro: Andy Wachowski e Lana Wachowski
Com: Channing Tatum, Mila Kunis, Eddie Redmayne, Sean Bean, Tuppence Middleton, Douglas Booth, Nikki Amuka-Bird
Duração: 127 min.
Dezesseis anos se passaram e é triste constatar que eles não disseram muito mais desde então. Mesmo as duas continuações da trilogia que os elevou ao estrelado não parecia ter algo de realmente interessante. Tirando o universo Matrix, eles dirigiram o longa de Speed Racer, A Viagem e agora, O Destino de Júpiter que mais parece uma colcha de retalhos indigesta com muita cena de ação e uma trama difícil de engolir.
Porque o absurdo não é o problema. Quando Morpheus explicou a Neo que o mundo em que ele vivia era uma ilusão criada por computador e que os seres humanos eram uma espécie de pilha para máquinas que dominavam o planeta, a gente comprou a ideia. Porque o roteiro construiu tudo isso de uma maneira crível, impressionantemente tudo fazia sentido naquela realidade, inclusive o fato dele ser O Escolhido e poder mudá-la. No caso de Júpiter não.
Ainda que tenha indícios interessantes em sua teoria, há algo que não parece se encaixar nesta realidade insólita, a começar pela natureza da garota. Uma imigrante russa morando em Chicago com sua família numerosa e que lava vasos sanitários como meio de vida, ser a reencarnação da matriarca da família mais poderosa do universo. Pior que isso, seus filhos estão atrás dela, porque deixou em seu testamento que poderia reivindicar de volta aquilo que em sua herança era seu bem mais precioso: o planeta Terra.
Incongruências já começam no próprio discurso. O personagem de Channing Tatum explica que os humanos que vivem na Terra são muito egocêntricos já que em um universo infinito não poderiam ser os únicos habitantes. Mas, é interessante que em todo o sistema solar não parece que há planetas povoados como o nosso pequeno planeta azul. Os três irmãos mesmo moram espalhados entre naves e estações espaciais. E a Terra é a mais preciosa por ser uma "fazenda", o local onde a colheita (ou seja, vidas) daria a eles o verdadeiro bem mais precioso: o tempo. Então, no final das contas, estamos ou não estamos sozinhos nessa?
E daí tudo se resume a brigar pela Terra. Balem Abrasax, o irmão que herdou a Terra quer matar a reencarnação da mãe para não perdê-la. E seus irmãos Titus e Kalique vão tentar protegê-la para tê-la ao seu lado e assim, quem sabe, conseguir o controle da Terra. É aí, que entra em ação todos os alienígenas que querem caçar a moça, enquanto que o guarda-costas Caine Wise tenta proteger a "gata borralheira" para que se torne novamente a rainha do universo.
E, costurando essa estranha trama cheia de incongruências, temos muita cena de ação envolvente. Disputas no ar, na terra, no espaço, em meio a engrenagens de naves. Tudo com um 3D bem construído que ajuda na imersão das imagens e o som impactante que nos coloca junto nas cenas, mas que se tornam repetitivas e vazias. Perde-se as contas de quantas vezes vemos Júpiter caindo e Caine surfando no ar em sua direção para salvá-la.
E fica mais estranho ainda que uma realidade fantástica, com tanta ação e seres poderosos tenha uma das sequências principais da história resolvida com uma espécie de sátira à burocracia humana e sua capacidade de corrupção. A estrutura me lembrou muito uma sequência do filme Super Xuxa Contra o Baixo Astral que terminava com a rainha dos baixinhos cantando uma música que tinha no refrão a singela frase "pega a burocracia e joga na bacia que eu faço um brinquedo de papel machê".
Nada contra a sátiras, só que elas funcionam muito bem em filmes que se assumem assim como Guardiões da Galáxia ou O Guia do Mochileiro das Galáxias. O Destino de Júpiter fica oscilando entre uma obra séria, uma aventura, uma trajetória de ascensão, uma história de amor e uma grande piada. Não se definir é outro ponto fundamental para o público não conseguir embarcar na trama e comprar a ideia do universo proposto.
Isso sem falar que os personagens são pouco desenvolvidos, é complicado compreender suas motivações e suas personalidades. O vilão Balem vivido por Eddie Redmayne é extremamente caricato e o ator acaba embarcando nessa armadilha, entregando uma atuação quase risível, o que chega a ser assustador em uma temporada que o mostra excepcional como Stephen Hawking. Mila Kunis também constrói uma Júpiter extremamente superficial, assim como Channing Tatum, que mesmo em seu drama de exilado não nos convence de sua dor, porque não a compreendemos completamente.
O Destino de Júpiter é um filme pretensioso que se mascara de descolado. Os absurdos, os clichês, as referências são tão explícitas que nos dá a pista de que os irmãos Wachowski não querem se levar à sério. Mas, ao inserir tantas referências filosóficas sobre a humanidade, sua formação e seu egoísmo, acaba construindo incongruências difíceis de aceitar tão facilmente. Uma pena que eles até hoje não parecem ter entendido a chave do sucesso de Matrix.
O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, 2015 / EUA)
Direção: Andy e Lana Wachowski (The Wachowskis)
Roteiro: Andy Wachowski e Lana Wachowski
Com: Channing Tatum, Mila Kunis, Eddie Redmayne, Sean Bean, Tuppence Middleton, Douglas Booth, Nikki Amuka-Bird
Duração: 127 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Destino de Júpiter
2015-02-11T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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