
Dezesseis anos se passaram e é triste constatar que eles não disseram muito mais desde então. Mesmo as duas continuações da trilogia que os elevou ao estrelado não parecia ter algo de realmente interessante. Tirando o universo Matrix, eles dirigiram o longa de Speed Racer, A Viagem e agora, O Destino de Júpiter que mais parece uma colcha de retalhos indigesta com muita cena de ação e uma trama difícil de engolir.

Ainda que tenha indícios interessantes em sua teoria, há algo que não parece se encaixar nesta realidade insólita, a começar pela natureza da garota. Uma imigrante russa morando em Chicago com sua família numerosa e que lava vasos sanitários como meio de vida, ser a reencarnação da matriarca da família mais poderosa do universo. Pior que isso, seus filhos estão atrás dela, porque deixou em seu testamento que poderia reivindicar de volta aquilo que em sua herança era seu bem mais precioso: o planeta Terra.

E daí tudo se resume a brigar pela Terra. Balem Abrasax, o irmão que herdou a Terra quer matar a reencarnação da mãe para não perdê-la. E seus irmãos Titus e Kalique vão tentar protegê-la para tê-la ao seu lado e assim, quem sabe, conseguir o controle da Terra. É aí, que entra em ação todos os alienígenas que querem caçar a moça, enquanto que o guarda-costas Caine Wise tenta proteger a "gata borralheira" para que se torne novamente a rainha do universo.

E fica mais estranho ainda que uma realidade fantástica, com tanta ação e seres poderosos tenha uma das sequências principais da história resolvida com uma espécie de sátira à burocracia humana e sua capacidade de corrupção. A estrutura me lembrou muito uma sequência do filme Super Xuxa Contra o Baixo Astral que terminava com a rainha dos baixinhos cantando uma música que tinha no refrão a singela frase "pega a burocracia e joga na bacia que eu faço um brinquedo de papel machê".

Isso sem falar que os personagens são pouco desenvolvidos, é complicado compreender suas motivações e suas personalidades. O vilão Balem vivido por Eddie Redmayne é extremamente caricato e o ator acaba embarcando nessa armadilha, entregando uma atuação quase risível, o que chega a ser assustador em uma temporada que o mostra excepcional como Stephen Hawking. Mila Kunis também constrói uma Júpiter extremamente superficial, assim como Channing Tatum, que mesmo em seu drama de exilado não nos convence de sua dor, porque não a compreendemos completamente.
O Destino de Júpiter é um filme pretensioso que se mascara de descolado. Os absurdos, os clichês, as referências são tão explícitas que nos dá a pista de que os irmãos Wachowski não querem se levar à sério. Mas, ao inserir tantas referências filosóficas sobre a humanidade, sua formação e seu egoísmo, acaba construindo incongruências difíceis de aceitar tão facilmente. Uma pena que eles até hoje não parecem ter entendido a chave do sucesso de Matrix.
O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, 2015 / EUA)
Direção: Andy e Lana Wachowski (The Wachowskis)
Roteiro: Andy Wachowski e Lana Wachowski
Com: Channing Tatum, Mila Kunis, Eddie Redmayne, Sean Bean, Tuppence Middleton, Douglas Booth, Nikki Amuka-Bird
Duração: 127 min.