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Gregório Graziosi
Irandhir Santos
Júlio Andrade
Lola Peploe
Marku Ribas
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Obra
Obra
Quando uma crítica começa elogiando um detalhe técnico de um filme, a tendência é pensar que o restante não seja tão bom. Não é o caso. Mas, não posso começar esse texto sem falar da fotografia de Obra, primeiro longa-metragem de Gregório Graziosi.
Totalmente filmado em scope e preto e branco, chama a atenção não apenas pela impressão da imagem em si. Mas, pela composição das cenas, pelos enquadramentos e pelas escolhas de planos parados e quase nenhum movimento de câmera. Tudo isso colabora para o efeito de opressão que a trama quer passar, da cidade de concreto que é São Paulo e o amor e ódio que isso instiga.
Já na primeira cena, vemos o arquiteto João Carlos interpretado por Irandhir Santos dando uma palestra sobre a topografia da cidade. O slide sobre o seu corpo dá um efeito de fusão entre aquele homem e aquela paisagem que se materializa ainda mais quando vemos o prédio que ele analisa ser implodido aos poucos, só restando fumaça. Acaba sendo uma metáfora incrível daquilo que irá acontecer com o protagonista.
Prestes a ser pai e iniciando um ambicioso projeto, o arquiteto irá sentir o baque de descobrir no terreno em que a obra se inicia, um cemitério clandestino. Pior. O terreno é de sua família, fazendo com que o peso daquela descoberta caia sobre seus ombros. Calado, mas sem esquecer o problema, João Carlos irá enfrentar a perseguição psicológica de seu mestre-de-obras interpretado por Júlio Andrade. O talento dos dois atores nos dará a possibilidade de cenas intensas.
Intensa, por sinal, é toda a projeção. Um suspense psicológico bem conduzido sempre com uma trilha incômoda que nos dá a sensação constante do perigo iminente. Sentimos a angústia do protagonista, seu peso na consciência, sua busca por compreender o que possa ser aquilo. Ao mesmo tempo, sua cumplicidade para proteger o pai e o avô é uma aceitação do fardo passado por cada geração. Não por acaso, os três homens tem problemas de coluna. O pai e o avô já foram operados e ele sofre crises terríveis durante a projeção. "Tomara que meu filho não tenha isso", diz João Carlos.
Voltando a fotografia, podemos destacar ainda a angústia criada com as penumbras e os contrastes de sombra e luz que vemos em diversas cenas, principalmente nas cenas da igreja, que pode trazer também o simbolismo da religiosidade e da culpa diante dos acontecimentos. Por fim, tem também os efeitos de janela, como quando vemos as cenas por uma fresta, tendo o restante da tela preta em uma composição instigante que nos dá a sensação de não ver o todo.
Obra é um filme que nos envolve com pouco. Ou melhor, com o muito que nos evoca diante daquelas imagens aparentemente simples. Tal qual a cidade de São Paulo, essa metrópole que fascina e assusta, encanta e irrita por todas as possibilidades e sufocamento que pode nos proporcionar.
Obra (Obra, 2014 / Brasil)
Direção: Gregório Graziosi
Roteiro: Gregório Graziosi
Com: Irandhir Santos, Júlio Andrade, Marku Ribas, Lola Peploe
Duração: 80 min.
Totalmente filmado em scope e preto e branco, chama a atenção não apenas pela impressão da imagem em si. Mas, pela composição das cenas, pelos enquadramentos e pelas escolhas de planos parados e quase nenhum movimento de câmera. Tudo isso colabora para o efeito de opressão que a trama quer passar, da cidade de concreto que é São Paulo e o amor e ódio que isso instiga.
Já na primeira cena, vemos o arquiteto João Carlos interpretado por Irandhir Santos dando uma palestra sobre a topografia da cidade. O slide sobre o seu corpo dá um efeito de fusão entre aquele homem e aquela paisagem que se materializa ainda mais quando vemos o prédio que ele analisa ser implodido aos poucos, só restando fumaça. Acaba sendo uma metáfora incrível daquilo que irá acontecer com o protagonista.
Prestes a ser pai e iniciando um ambicioso projeto, o arquiteto irá sentir o baque de descobrir no terreno em que a obra se inicia, um cemitério clandestino. Pior. O terreno é de sua família, fazendo com que o peso daquela descoberta caia sobre seus ombros. Calado, mas sem esquecer o problema, João Carlos irá enfrentar a perseguição psicológica de seu mestre-de-obras interpretado por Júlio Andrade. O talento dos dois atores nos dará a possibilidade de cenas intensas.
Intensa, por sinal, é toda a projeção. Um suspense psicológico bem conduzido sempre com uma trilha incômoda que nos dá a sensação constante do perigo iminente. Sentimos a angústia do protagonista, seu peso na consciência, sua busca por compreender o que possa ser aquilo. Ao mesmo tempo, sua cumplicidade para proteger o pai e o avô é uma aceitação do fardo passado por cada geração. Não por acaso, os três homens tem problemas de coluna. O pai e o avô já foram operados e ele sofre crises terríveis durante a projeção. "Tomara que meu filho não tenha isso", diz João Carlos.
Voltando a fotografia, podemos destacar ainda a angústia criada com as penumbras e os contrastes de sombra e luz que vemos em diversas cenas, principalmente nas cenas da igreja, que pode trazer também o simbolismo da religiosidade e da culpa diante dos acontecimentos. Por fim, tem também os efeitos de janela, como quando vemos as cenas por uma fresta, tendo o restante da tela preta em uma composição instigante que nos dá a sensação de não ver o todo.
Obra é um filme que nos envolve com pouco. Ou melhor, com o muito que nos evoca diante daquelas imagens aparentemente simples. Tal qual a cidade de São Paulo, essa metrópole que fascina e assusta, encanta e irrita por todas as possibilidades e sufocamento que pode nos proporcionar.
Obra (Obra, 2014 / Brasil)
Direção: Gregório Graziosi
Roteiro: Gregório Graziosi
Com: Irandhir Santos, Júlio Andrade, Marku Ribas, Lola Peploe
Duração: 80 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Obra
2015-08-12T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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