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Entrando Numa Roubada
Entrando Numa Roubada
Primeiro longametragem de André Moraes, Entrando Numa Roubada já começa com um ponto positivo, arriscar um pouco mais em filme de gênero no país, fugindo da comédia pastelão. Não chega a ser um Dois Coelhos, mas seu roteiro inventivo e cheio de mentiras acaba construindo uma ação divertida.
A trama gira em torno de um grupo de amigos que anos antes fez um filme de sucesso, mas não conseguiu manter no topo. Hoje estão todos decadentes e longe da verdadeira profissão. O ator é muambeiro, a atriz anima festas infantis, o diretor está com depressão vivendo de bicos e o roteirista, que também é ator, trabalha em uma loja de pneus. Mas, é ele quem traz uma luz ao grupo ao ganhar um concurso de roteiro que lhe dá cem mil para fazer um filme. O que ele não sabe é que tudo isso envolve um plano maior de vingança do ator que os leva para uma jornada de assaltos reais enquanto pensam estar gravando o filme.
Apesar de não parecer, o filme possui uma lógica interna que pede ao espectador uma certa suspensão da descrença. Mas, quantos filmes de ação não pedem isso? Aliás, a crença é o ingrediente principal para que o filme funcione. Aquelas pessoas encontram-se tão no fundo do poço que mesmo a mais mirabolante história os convence, tudo o que eles querem é acreditar na nova chance, é mostrar seus talentos e sair daquela vida miserável.
Então, a ideia de fazer um filme com uma técnica que ninguém conhece e que não adianta procurar no Google, pois é muito rara mesmo, se torna algo natural para eles. Eles querem se enganar e sonhar com o estrelato. Já o diretor está tão doente psicologicamente que pouco raciocina sobre a proposta do amigo, que por sua vez está cego de raiva e focado em sua vingança. E se alguém se perguntar sobre os assaltos e a falta de notícias deles, o filme resolve com um carro de polícia em uma perseguição bem encenada.
Porque apesar do efeito especial ruim em uma explosão, no geral, o filme constrói um bom timming de ação. É ágil, divertido, repleto de cenas com adrenalina alta e muita piada de humor politicamente incorreto. Há muitas viradas na trama também que deixariam Syd Field feliz. E isso acaba fazendo o tempo passar de maneira tão tranquila que fica uma sensação boa ao final. Ainda que a resolução force ainda mais com alguns exageros desnecessários e incoerências ainda maiores.
Um dos pontos positivos para isso é o elenco. Nem posso citar a micro participação de Jose Mojica Marins (o eterno Zé do Caixão) que faz uma aparição de segundos em tela que você já viu no trailer. Mas, todo o elenco está bem. Deborah Secco como atriz decadente consegue bons momentos, Bruno Torres como o roteirista e ator, também, assim como sua colega e estagiária no filme vivida por Ana Carolina Machado. Há ainda participações especiais como a de Tonico Pereira e Aramis Trindade em ótimos momentos.
Mas, o filme é mesmo de Lúcio Mauro Filho e Júlio Andrade. O primeiro é o alívio cômico com seu diretor atrapalhado e com diversas alucinações que pontuam a trama. Deve agradar ao público em geral. O segundo é o contra-ponto do filme, o cabeça do plano mirabolante e narrador. Talvez Júlio Andrade seja um dos melhores atores que temos na atualidade, sempre nos entregando interpretações densas e marcantes. O Eric aqui não fica atrás.
E tem ainda o Marcos Veras, como o pastor Alex, em uma clara alusão a Edir Macedo, com críticas pesadas à indústria da fé e à possibilidade de comprar um canal de televisão para "colocar o que quiser". O ator mantém o seu mesmo estilo exagerado com caras e bocas, mas traz momentos interessantes quando focado na crítica, a junção das duas tramas é que resulta na resolução pouco convincente já citada.
Entrando Numa Roubada, então, não é uma roubada para o espectador, com o perdão do trocadilho. Não é também um grande filme de ação com um roteiro inteligente que nos surpreende e faz pensar. Mas, cumpre o seu papel de diversão, sem maiores explicações ou mesmo buscas por coerência com a realidade. E no final, ainda ficamos nos perguntando se o tal prêmio existia mesmo ou já era parte do plano de Eric.
Entrando numa roubada (Entrando numa roubada, 2015 / Brasil)
Direção: André Moraes
Roteiro: André Moraes
Com: Deborah Secco, Bruno Torres, Júlio Andrade, Lúcio Mauro Filho, Marcos Veras, Ana Carolina Machado
Duração: 78 min.
A trama gira em torno de um grupo de amigos que anos antes fez um filme de sucesso, mas não conseguiu manter no topo. Hoje estão todos decadentes e longe da verdadeira profissão. O ator é muambeiro, a atriz anima festas infantis, o diretor está com depressão vivendo de bicos e o roteirista, que também é ator, trabalha em uma loja de pneus. Mas, é ele quem traz uma luz ao grupo ao ganhar um concurso de roteiro que lhe dá cem mil para fazer um filme. O que ele não sabe é que tudo isso envolve um plano maior de vingança do ator que os leva para uma jornada de assaltos reais enquanto pensam estar gravando o filme.
Apesar de não parecer, o filme possui uma lógica interna que pede ao espectador uma certa suspensão da descrença. Mas, quantos filmes de ação não pedem isso? Aliás, a crença é o ingrediente principal para que o filme funcione. Aquelas pessoas encontram-se tão no fundo do poço que mesmo a mais mirabolante história os convence, tudo o que eles querem é acreditar na nova chance, é mostrar seus talentos e sair daquela vida miserável.
Então, a ideia de fazer um filme com uma técnica que ninguém conhece e que não adianta procurar no Google, pois é muito rara mesmo, se torna algo natural para eles. Eles querem se enganar e sonhar com o estrelato. Já o diretor está tão doente psicologicamente que pouco raciocina sobre a proposta do amigo, que por sua vez está cego de raiva e focado em sua vingança. E se alguém se perguntar sobre os assaltos e a falta de notícias deles, o filme resolve com um carro de polícia em uma perseguição bem encenada.
Porque apesar do efeito especial ruim em uma explosão, no geral, o filme constrói um bom timming de ação. É ágil, divertido, repleto de cenas com adrenalina alta e muita piada de humor politicamente incorreto. Há muitas viradas na trama também que deixariam Syd Field feliz. E isso acaba fazendo o tempo passar de maneira tão tranquila que fica uma sensação boa ao final. Ainda que a resolução force ainda mais com alguns exageros desnecessários e incoerências ainda maiores.
Um dos pontos positivos para isso é o elenco. Nem posso citar a micro participação de Jose Mojica Marins (o eterno Zé do Caixão) que faz uma aparição de segundos em tela que você já viu no trailer. Mas, todo o elenco está bem. Deborah Secco como atriz decadente consegue bons momentos, Bruno Torres como o roteirista e ator, também, assim como sua colega e estagiária no filme vivida por Ana Carolina Machado. Há ainda participações especiais como a de Tonico Pereira e Aramis Trindade em ótimos momentos.
Mas, o filme é mesmo de Lúcio Mauro Filho e Júlio Andrade. O primeiro é o alívio cômico com seu diretor atrapalhado e com diversas alucinações que pontuam a trama. Deve agradar ao público em geral. O segundo é o contra-ponto do filme, o cabeça do plano mirabolante e narrador. Talvez Júlio Andrade seja um dos melhores atores que temos na atualidade, sempre nos entregando interpretações densas e marcantes. O Eric aqui não fica atrás.
E tem ainda o Marcos Veras, como o pastor Alex, em uma clara alusão a Edir Macedo, com críticas pesadas à indústria da fé e à possibilidade de comprar um canal de televisão para "colocar o que quiser". O ator mantém o seu mesmo estilo exagerado com caras e bocas, mas traz momentos interessantes quando focado na crítica, a junção das duas tramas é que resulta na resolução pouco convincente já citada.
Entrando Numa Roubada, então, não é uma roubada para o espectador, com o perdão do trocadilho. Não é também um grande filme de ação com um roteiro inteligente que nos surpreende e faz pensar. Mas, cumpre o seu papel de diversão, sem maiores explicações ou mesmo buscas por coerência com a realidade. E no final, ainda ficamos nos perguntando se o tal prêmio existia mesmo ou já era parte do plano de Eric.
Entrando numa roubada (Entrando numa roubada, 2015 / Brasil)
Direção: André Moraes
Roteiro: André Moraes
Com: Deborah Secco, Bruno Torres, Júlio Andrade, Lúcio Mauro Filho, Marcos Veras, Ana Carolina Machado
Duração: 78 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Entrando Numa Roubada
2015-09-07T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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