A Canção do Oceano
Não é a primeira vez que a distribuição brasileira ignora uma bela animação de Tomm Moore. Mesmo ambas tendo sido indicadas ao Oscar. E mais uma vez é o FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil que dá aos brasileiros a oportunidade de ver essas belas fábulas na tela grande. Primeiro foi com The Secret of Kells, lançado em 2009 e que concorreu ao Oscar de melhor animação em 2010. Só anos depois, ele foi lançado aqui diretamente em homevideo com o nome de "Uma Viagem ao Mundo das Fábulas". Agora é a vez de A Canção do Oceano que foi candidata ao Oscar esse ano e ainda não tem data de lançamento no país.
É interessante perceber que o estilo e a temática se assemelham ainda que com diferenças. Temos os mesmos traços que enchem nossos olhos, em um 2D estilizado, mas com texturas e detalhes belos que dão um visual único à animação. Segundo, temos as lendas irlandesas como pano de fundo, antes os celtas, agora fadas, mas todos envolvendo elementos mágicos e a força do feminino. E tendo um garotinho que irá descobrir e se encantar por esse mundo mágico. Só que agora, com o acréscimo do aprendizado da dor da perda da mãe.
Ben é um garotinho meigo que sempre ouviu sua mãe contar histórias fantásticas, mas quando ela morre dando à luz sua irmãzinha ele se torna um pouco amargo e não tem paciência para a pequena criança que no fundo culpa por sua perda. Porém, alguns acontecimentos irão mostrar que as histórias de sua mãe não são apenas histórias e que sua irmãzinha Saoirse é na verdade uma selkie e sua missão é libertar as criaturas mágicas que estão em perigo.
Não conheço as lendas irlandesas, mas o filme nos mostra um mundo mágico encantador que é fácil de embarcar e compreender mesmo sem muitas referências. Mas, o mais interessante de A Canção do Oceano é mesmo perceber as metáforas dessa lenda com a própria história do garoto que perde a mãe. A própria coruja acaba tendo muito da avó que os tira de seu habitat acreditando está fazendo o melhor para ela. Fala muito da importância de viver o luto e encarar nossas emoções sem tentar fugir delas.
O elemento do cãozinho da família também é outro ponto importante, esse elo de emoção que não deixa Ben se perder na falta de esperança que os seres mágicos citam. A pureza do animal acaba sendo um guia, tal qual as focas são para Saoirse. Traz também o instinto e as emoções puras que nós tanto complicamos.
O traço da animação apesar de simples, com perspectivas distorcidas traz uma riqueza nos detalhes. Desde as cores e os objetos em cena à textura que cada elemento em cena traz. Não há cores chapadas, tudo traz um detalhe que dá volume e ajuda a compor essa atmosfera mágica da obra, enriquecendo a narrativa. Percebe-se um avanço inclusive em relação ao primeiro filme, nos dando uma animação ainda mais fluida com um ritmo envolvente.
Ainda que trate de um tema doloroso como a perda da mãe, a animação consegue falar a todos usando os elementos da fábula e a música para passar sua mensagem sendo capaz de encantar a todos. Não por acaso fez o sucesso internacional que fez e chegou ao Oscar. Vamos torcer para estrear também oficialmente no Brasil. Enquanto isso, aproveitem no FICI, que nesta edição está reprisando também "Uma Viagem ao Mundo das Fábulas", que a organização do evento manteve a tradução literal que utilizou desde a edição de 2009: "O Segredo de Kells".
Filme visto no FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil - 2015
A Canção do Oceano (Song of the Sea, 2014 / Irlanda)
Direção: Tomm Moore
Roteiro: Tomm Moore e Will Collins
Duração: 93 min.
É interessante perceber que o estilo e a temática se assemelham ainda que com diferenças. Temos os mesmos traços que enchem nossos olhos, em um 2D estilizado, mas com texturas e detalhes belos que dão um visual único à animação. Segundo, temos as lendas irlandesas como pano de fundo, antes os celtas, agora fadas, mas todos envolvendo elementos mágicos e a força do feminino. E tendo um garotinho que irá descobrir e se encantar por esse mundo mágico. Só que agora, com o acréscimo do aprendizado da dor da perda da mãe.
Ben é um garotinho meigo que sempre ouviu sua mãe contar histórias fantásticas, mas quando ela morre dando à luz sua irmãzinha ele se torna um pouco amargo e não tem paciência para a pequena criança que no fundo culpa por sua perda. Porém, alguns acontecimentos irão mostrar que as histórias de sua mãe não são apenas histórias e que sua irmãzinha Saoirse é na verdade uma selkie e sua missão é libertar as criaturas mágicas que estão em perigo.
Não conheço as lendas irlandesas, mas o filme nos mostra um mundo mágico encantador que é fácil de embarcar e compreender mesmo sem muitas referências. Mas, o mais interessante de A Canção do Oceano é mesmo perceber as metáforas dessa lenda com a própria história do garoto que perde a mãe. A própria coruja acaba tendo muito da avó que os tira de seu habitat acreditando está fazendo o melhor para ela. Fala muito da importância de viver o luto e encarar nossas emoções sem tentar fugir delas.
O elemento do cãozinho da família também é outro ponto importante, esse elo de emoção que não deixa Ben se perder na falta de esperança que os seres mágicos citam. A pureza do animal acaba sendo um guia, tal qual as focas são para Saoirse. Traz também o instinto e as emoções puras que nós tanto complicamos.
O traço da animação apesar de simples, com perspectivas distorcidas traz uma riqueza nos detalhes. Desde as cores e os objetos em cena à textura que cada elemento em cena traz. Não há cores chapadas, tudo traz um detalhe que dá volume e ajuda a compor essa atmosfera mágica da obra, enriquecendo a narrativa. Percebe-se um avanço inclusive em relação ao primeiro filme, nos dando uma animação ainda mais fluida com um ritmo envolvente.
Ainda que trate de um tema doloroso como a perda da mãe, a animação consegue falar a todos usando os elementos da fábula e a música para passar sua mensagem sendo capaz de encantar a todos. Não por acaso fez o sucesso internacional que fez e chegou ao Oscar. Vamos torcer para estrear também oficialmente no Brasil. Enquanto isso, aproveitem no FICI, que nesta edição está reprisando também "Uma Viagem ao Mundo das Fábulas", que a organização do evento manteve a tradução literal que utilizou desde a edição de 2009: "O Segredo de Kells".
Filme visto no FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil - 2015
A Canção do Oceano (Song of the Sea, 2014 / Irlanda)
Direção: Tomm Moore
Roteiro: Tomm Moore e Will Collins
Duração: 93 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Canção do Oceano
2015-10-17T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|aventura|cinema europeu|critica|fici2015|infantil|Tomm Moore|
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