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Chico - Artista Brasileiro
Chico - Artista Brasileiro
O seu pai era paulista, o seu avô pernambucano, o bisavô mineiro, o tataravô baiano. Sim, Chico Buarque de Holanda é um artista brasileiro. Ele mesmo se definiu assim em sua canção e Miguel Faria Jr. é feliz em resumir isso no título do documentário sobre o escritor, cantor e compositor. Uma obra intimista que nos coloca de frente para Chico ouvindo ele nos contar suas histórias.
A essência do documentário é essa. Esse bate-papo entre nós e ele, já que não ouvimos as perguntas do diretor e ele está sempre olhando para a câmera com aqueles belos olhos verdes azulados, ou azuis esverdeados, quem sabe, rs. Mas, é isso. É essa intimidade que nos envolve e encanta, principalmente pela riqueza da conversa, das experiências daquela figura pública tão importante para a cultura brasileira. Homem que tão bem falou da alma feminina, atuante político durante a ditadura militar e eterno poeta. Tanto que ele mesmo admite que se sente mais escritor que compositor, já que domina melhor as palavras que as melodias.
Miguel Faria Jr. utiliza de um recurso que já tinha usado no documentário sobre Vinícius de Morais, uma espécie de show exclusivo para o documentário, só que agora sem palco, em um cenário que tem formato mais de estúdio, onde artistas diversos se revezam interpretando grandes canções do compositor. E traz ainda alguns poucos depoimentos como de Edu Lobo, Maria Bethânia e a irmã de Chico, Miúcha. Tem ainda a voz de Marília Pêra narrando o livro que Chico está escrevendo sobre a busca do seu irmão alemão, que ele mesmo explica ter começado como ficção, mas se tornou documental.
Isso sem falar das imagens de arquivo, claro. Mas, é a história de Chico que nos prende. Até porque todos esses recursos citados não são novos e já foram utilizados de maneira até mais instigante em outras obras como no filme sobre a Tropicália, "Futuro do pretérito: Tropicalismo now". O que não chega a ser um demérito. Nem todo filme precisa redescobrir a roda ou nos surpreender completamente em sua forma. Uma repetição bem feita já pode ser o suficiente.
Chico é o filme, e o maior mérito de Miguel Faria Jr. é perceber isso. A força e a simplicidade do artista é que nos cativa. Cantamos juntos cada verso exposto, damos risada com os casos engraçados, nos emocionamos com as passagens difíceis ou sensíveis. Há uma cena mesmo de visita dos netos que nos emociona pela simplicidade da situação e talento dos jovens.
Confesso que o filme me toca também pela experiência pessoal. E imagino que cada espectador também tenha a sua própria lembrança e envolvimento com alguma música de Chico Buarque. A minha principal é minha mãe, que sempre foi uma fã calorosa do artista. Não tinha como não lembrar dela ou dos momentos que vivemos com cada uma de suas músicas. As trocas de experiências, o aprendizado, as brincadeiras.
Mas, também me toca sua força poética ou política. Como no trecho sobre Sabiá que me veio a mente logo a disputa com a música de Vandré, tão bem retratada na cena da minissérie Anos Rebeldes. Ou o desligar do microfone dele durante a apresentação no Teatro Castro Alves (que minha mãe estava presente e recontava o caso diversas vezes). Ou ainda a passeata dos cem mil do Rio onde ele foi preso e, de maneira irônica, respondeu à televisão italiana "Não é possível que existam cem mil extremistas no Rio de Janeiro".
O documentário de Chico nos ajuda também a entender um pouco mais o país, não apenas da época da ditadura, mas atual. Como quando ele fala sobre a questão da música popular brasileira ter ficado melhor ou não. E ainda sobre a postura da imprensa que hoje é livre, mas continua formando manchetes parecidas ao falar de movimentos sociais. Um filme gostoso de acompanhar e que merece ser reconhecido pelo grande público.
Chico - Artista Brasileiro (2015 / Brasil)
Direção: Miguel Faria Jr.
Roteiro: Miguel Faria Jr., Diana Vasconcellos
Duração: 110 min.
A essência do documentário é essa. Esse bate-papo entre nós e ele, já que não ouvimos as perguntas do diretor e ele está sempre olhando para a câmera com aqueles belos olhos verdes azulados, ou azuis esverdeados, quem sabe, rs. Mas, é isso. É essa intimidade que nos envolve e encanta, principalmente pela riqueza da conversa, das experiências daquela figura pública tão importante para a cultura brasileira. Homem que tão bem falou da alma feminina, atuante político durante a ditadura militar e eterno poeta. Tanto que ele mesmo admite que se sente mais escritor que compositor, já que domina melhor as palavras que as melodias.
Miguel Faria Jr. utiliza de um recurso que já tinha usado no documentário sobre Vinícius de Morais, uma espécie de show exclusivo para o documentário, só que agora sem palco, em um cenário que tem formato mais de estúdio, onde artistas diversos se revezam interpretando grandes canções do compositor. E traz ainda alguns poucos depoimentos como de Edu Lobo, Maria Bethânia e a irmã de Chico, Miúcha. Tem ainda a voz de Marília Pêra narrando o livro que Chico está escrevendo sobre a busca do seu irmão alemão, que ele mesmo explica ter começado como ficção, mas se tornou documental.
Isso sem falar das imagens de arquivo, claro. Mas, é a história de Chico que nos prende. Até porque todos esses recursos citados não são novos e já foram utilizados de maneira até mais instigante em outras obras como no filme sobre a Tropicália, "Futuro do pretérito: Tropicalismo now". O que não chega a ser um demérito. Nem todo filme precisa redescobrir a roda ou nos surpreender completamente em sua forma. Uma repetição bem feita já pode ser o suficiente.
Chico é o filme, e o maior mérito de Miguel Faria Jr. é perceber isso. A força e a simplicidade do artista é que nos cativa. Cantamos juntos cada verso exposto, damos risada com os casos engraçados, nos emocionamos com as passagens difíceis ou sensíveis. Há uma cena mesmo de visita dos netos que nos emociona pela simplicidade da situação e talento dos jovens.
Confesso que o filme me toca também pela experiência pessoal. E imagino que cada espectador também tenha a sua própria lembrança e envolvimento com alguma música de Chico Buarque. A minha principal é minha mãe, que sempre foi uma fã calorosa do artista. Não tinha como não lembrar dela ou dos momentos que vivemos com cada uma de suas músicas. As trocas de experiências, o aprendizado, as brincadeiras.
Mas, também me toca sua força poética ou política. Como no trecho sobre Sabiá que me veio a mente logo a disputa com a música de Vandré, tão bem retratada na cena da minissérie Anos Rebeldes. Ou o desligar do microfone dele durante a apresentação no Teatro Castro Alves (que minha mãe estava presente e recontava o caso diversas vezes). Ou ainda a passeata dos cem mil do Rio onde ele foi preso e, de maneira irônica, respondeu à televisão italiana "Não é possível que existam cem mil extremistas no Rio de Janeiro".
O documentário de Chico nos ajuda também a entender um pouco mais o país, não apenas da época da ditadura, mas atual. Como quando ele fala sobre a questão da música popular brasileira ter ficado melhor ou não. E ainda sobre a postura da imprensa que hoje é livre, mas continua formando manchetes parecidas ao falar de movimentos sociais. Um filme gostoso de acompanhar e que merece ser reconhecido pelo grande público.
Chico - Artista Brasileiro (2015 / Brasil)
Direção: Miguel Faria Jr.
Roteiro: Miguel Faria Jr., Diana Vasconcellos
Duração: 110 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Chico - Artista Brasileiro
2015-11-30T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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