Ponte dos Espiões
Você sabe o que esperar de um filme de Steven Spielberg. Seja sobre um ser extraterrestre, um imenso tubarão, uma guerra ou simplesmente um estrangeiro em um terminal de aeroporto. Ele sempre foca em pessoas e suas emoções. É isso que o interessa e aqui não é diferente.
Ponte dos Espiões ocorre em plena Guerra Fria. Um espião russo é preso nos Estados Unidos e para demonstrar a tão pregada justiça norte-americana, um tribunal é formado e cabe ao advogado James B. Donovan defendê-lo. Porém, Donavan não aceita fazer apenas uma encenação e acaba se envolvendo mais no caso do que imaginava a ponto de ter que ir a Berlim negociar uma certa troca.
O filme é baseado no real, os acontecimentos realmente existiram, mas a trama busca ficcionalizar o momento histórico pelo viés humano, construindo a figura do advogado como o verdadeiro símbolo do espírito norte-americano. Curiosamente, apesar de impregnado por esse senso de justiça e liberdade, Spielberg não constrói uma obra exageradamente ufanista. Os russos, inclusive, são retratados de maneira humana, tal qual os americanos e os alemães. Cada um apenas defendendo o seu ponto de vista.
E nesse ponto, o grande destaque acaba sendo Mark Rylance como o personagem Rudolf Abel. O filme não nos deixa dúvidas em relação a ele, já o vemos recebendo uma informação de maneira escusa no início da obra, logo, quando é preso sabemos ser verdade. Ele é um espião. O que ele recebeu pouco importa. Mas, sua fleuma chama a atenção. Tranquilo, simpático e insistindo em não se preocupar porque não ajuda em nada, ele nos mostra que o bicho pintado pela imprensa e pela opinião pública é simplesmente um homem.
Aliás, a manipulação da imprensa é outro ponto bem construído na trama. Assim como a postura e julgamento do povo norte-americano em relação ao caso. E o grande trunfo do roteiro escrito pelos irmãos Coen e Matt Charman é exatamente construir paralelos. Seja entre russos e americanos, ou entre uma escola infantil e o tribunal. Às vezes de maneira explícita com uma montagem e raccord, as vezes de maneira sutil como um olhar de um trem. O jogo está exposto e Spielberg sabe exatamente o que quer passar.
É interessante também como ele joga o tempo todo com a ideia do certo e do meio do caminho. Não basta James B. Donovan ser um homem íntegro e cumprir o seu papel. Ele defende o que é certo, mesmo quando poderia parar, seja nos tribunais ou em Berlim. A gente chega a achar que ele está exagerando em algumas cenas, quando tudo o que ele quer é fazer o que é certo, o que é verdadeiramente justo. E nesse ponto vale até citar a Constituição norte-americana na cena mais ufanista da obra ainda que contextualizada, o que acaba ganhando nossa empatia.
Talvez porque John Williams não esteja por trás da trilha sonora, ou simplesmente porque o tema não cabia, ou ainda porque o melodrama está presente, mas não há de fato algo extremo, esse não é daqueles filmes que fazem chorar. E Spielberg sabiamente não nos tenta forçar a isso como em Cavalo de Guerra, por exemplo. E isso acaba contando muito para o filme, que nos faz acompanhar aqueles curiosos acontecimentos com interesse.
Ponte dos Espiões é isso, uma história real floreada pelos artifícios da ficção, mas que conta bem uma história e aponta suas críticas, ainda que sutis, à guerra e à hipocrisia humana.
Ponte dos Espiões (Bridge of Spies, 2015 / EUA)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Matt Charman, Ethan Coen, Joel Coen
Com: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda
Duração: 141 min.
Ponte dos Espiões ocorre em plena Guerra Fria. Um espião russo é preso nos Estados Unidos e para demonstrar a tão pregada justiça norte-americana, um tribunal é formado e cabe ao advogado James B. Donovan defendê-lo. Porém, Donavan não aceita fazer apenas uma encenação e acaba se envolvendo mais no caso do que imaginava a ponto de ter que ir a Berlim negociar uma certa troca.
O filme é baseado no real, os acontecimentos realmente existiram, mas a trama busca ficcionalizar o momento histórico pelo viés humano, construindo a figura do advogado como o verdadeiro símbolo do espírito norte-americano. Curiosamente, apesar de impregnado por esse senso de justiça e liberdade, Spielberg não constrói uma obra exageradamente ufanista. Os russos, inclusive, são retratados de maneira humana, tal qual os americanos e os alemães. Cada um apenas defendendo o seu ponto de vista.
E nesse ponto, o grande destaque acaba sendo Mark Rylance como o personagem Rudolf Abel. O filme não nos deixa dúvidas em relação a ele, já o vemos recebendo uma informação de maneira escusa no início da obra, logo, quando é preso sabemos ser verdade. Ele é um espião. O que ele recebeu pouco importa. Mas, sua fleuma chama a atenção. Tranquilo, simpático e insistindo em não se preocupar porque não ajuda em nada, ele nos mostra que o bicho pintado pela imprensa e pela opinião pública é simplesmente um homem.
Aliás, a manipulação da imprensa é outro ponto bem construído na trama. Assim como a postura e julgamento do povo norte-americano em relação ao caso. E o grande trunfo do roteiro escrito pelos irmãos Coen e Matt Charman é exatamente construir paralelos. Seja entre russos e americanos, ou entre uma escola infantil e o tribunal. Às vezes de maneira explícita com uma montagem e raccord, as vezes de maneira sutil como um olhar de um trem. O jogo está exposto e Spielberg sabe exatamente o que quer passar.
É interessante também como ele joga o tempo todo com a ideia do certo e do meio do caminho. Não basta James B. Donovan ser um homem íntegro e cumprir o seu papel. Ele defende o que é certo, mesmo quando poderia parar, seja nos tribunais ou em Berlim. A gente chega a achar que ele está exagerando em algumas cenas, quando tudo o que ele quer é fazer o que é certo, o que é verdadeiramente justo. E nesse ponto vale até citar a Constituição norte-americana na cena mais ufanista da obra ainda que contextualizada, o que acaba ganhando nossa empatia.
Talvez porque John Williams não esteja por trás da trilha sonora, ou simplesmente porque o tema não cabia, ou ainda porque o melodrama está presente, mas não há de fato algo extremo, esse não é daqueles filmes que fazem chorar. E Spielberg sabiamente não nos tenta forçar a isso como em Cavalo de Guerra, por exemplo. E isso acaba contando muito para o filme, que nos faz acompanhar aqueles curiosos acontecimentos com interesse.
Ponte dos Espiões é isso, uma história real floreada pelos artifícios da ficção, mas que conta bem uma história e aponta suas críticas, ainda que sutis, à guerra e à hipocrisia humana.
Ponte dos Espiões (Bridge of Spies, 2015 / EUA)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Matt Charman, Ethan Coen, Joel Coen
Com: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda
Duração: 141 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Ponte dos Espiões
2015-11-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Alan Alda|critica|drama|Mark Rylance|oscar 2016|Steven Spielberg|Tom Hanks|
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