Home
cinema brasileiro
Cláudio Assis
critica
drama
filme brasileiro
Marcelia Cartaxo
Matheus Nachtergaele
panorama2015
Rafael Nicácio
Big Jato
Big Jato
Grande Vencedor do Festival de Cinema de Brasília, Big Jato é o filme mais sereno de Cláudio Assis. Sempre polêmico e intenso, o diretor de A Febre do Rato, Baixio das Bestas e Amarelo Manga nos fala dos sonhos de um menino divididos em dois exemplos aparentemente opostos, seu pai e seu tio.
Baseado no livro homônimo de Xico Sá, Big Jato acompanha a trajetória de Chico, um garoto simples que vive no Vale do Cariri. Seu pai é o dono do caminhão de fossa Big Jato, a quem ele acompanha na estrada ajudando no duro trabalho. Mas, Chico também adora visitar o seu tio na rádio onde é locutor e sonha em ser poeta, coisa que seu pai nem pode ouvir falar. Mas, o que todos ouvem mesmo são Os Betos, banda de rock que segundo eles, inspirou os Beatles.
Há muitas histórias e muitas referências na obra, que, apesar de mais leve, traz os questionamentos e o viés do interior sempre presentes na obra do diretor. Através do olhar de Chico temos os contrastes do sonho e da realidade. A vida tornou Francisco um homem duro, focado no trabalho, mas que precisa da cachaça para se entorpecer e não pensar em sua realidade. O amor pelos Betos, guardando seus vinis como tesouro é uma prova de que no fundo tudo o que ele queria era ser como seu irmão Nelson, a quem por fora despreza chamando de vagabundo.
O fato de Matheus Nachtergaele interpretar os dois atores acaba deixando ainda mais claro que ambos são dois lados de uma mesma moeda, os extremos da vida, enquanto que Chico é o equilíbrio entre eles. Ainda que aparentemente mais frágil que seus dois irmãos, Chico é aquele que tem a coragem e possibilidade de mudar aquela realidade. O estopim parece ser o primeiro amor pela vizinha Ana Paula, mas na realidade tudo sempre esteve lá. A poesia e a prosa, o perfume que sua mãe vende e o fedor do caminhão do seu pai.
É curioso como os elementos conhecidos e a inovação se misturam na obra. Temos o velho tema do sertão, da família padrão, da própria caricatura do sertanejo em Francisco e sua esposa vivida por Marcelia Cartaxo, e até as figuras exóticas como o auto-intitulado "o príncipe" interpretado por Jards Macalé que vaga pelo local em busca de sua poesia. O próprio Nelson é o típico sonhador irresponsável, que quer apenas curtir a vida. Mas, em meio a isso tudo temos Os Betos. Talvez a coisa mais inusitada na obra, não apenas pelo toque de humor, mas pelo que representa para os três personagens.
"Let It Lie", esse é o hit principal da banda fictícia e repetido pelos personagens como um mantra, uma saudação, um lema de vida. Uma paródia de "Let it be" e que traz a mentira em sua estrutura, mas que nem bem sabemos se os personagens compreendem isso diante de tanto "embromation" nas letras e em suas falas. E isso que torna tudo tão interessante, principalmente por ser o único elo entre os dois opostos irmãos. Ambos amam Os Betos e acreditam que eles são mesmo os precursores dos Beatles, tendo parado, inclusive, para que a banda inglesa pudesse brilhar.
Isso é pura poesia árida, de um povo que sonha e tem potencial para ser muito mais do que as oportunidades lhe permitem. E tudo isso está representado em Chico e suas nuanças, seus sonhos, suas experiências e até mesmo a sua insistência em perguntar ao pai sobre quem faz o ato de defecar, outra simbologia importante na obra, não apenas pelo caminhão de fossa ou pelos apelidos pejorativos do menino na escola, mas até pelo fato de sua mãe ter prisão de ventre.
Com uma delicadeza cada vez maior, Cláudio Assis nos traz o seu filme mais terno, o que não significa necessariamente o melhor. Mas, uma obra delicada sobre o amadurecimento de um jovem em um mundo duro, mas onde ainda há espaço para a poesia e caminhos para ir além do mesmo.
Filme visto no XI Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Big Jato (2015 / Brasil)
Direção: Cláudio Assis
Roteiro: Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco
Com: Matheus Nachtergaele, Rafael Nicácio, Marcelia Cartaxo
Duração: 93 min.
Baseado no livro homônimo de Xico Sá, Big Jato acompanha a trajetória de Chico, um garoto simples que vive no Vale do Cariri. Seu pai é o dono do caminhão de fossa Big Jato, a quem ele acompanha na estrada ajudando no duro trabalho. Mas, Chico também adora visitar o seu tio na rádio onde é locutor e sonha em ser poeta, coisa que seu pai nem pode ouvir falar. Mas, o que todos ouvem mesmo são Os Betos, banda de rock que segundo eles, inspirou os Beatles.
Há muitas histórias e muitas referências na obra, que, apesar de mais leve, traz os questionamentos e o viés do interior sempre presentes na obra do diretor. Através do olhar de Chico temos os contrastes do sonho e da realidade. A vida tornou Francisco um homem duro, focado no trabalho, mas que precisa da cachaça para se entorpecer e não pensar em sua realidade. O amor pelos Betos, guardando seus vinis como tesouro é uma prova de que no fundo tudo o que ele queria era ser como seu irmão Nelson, a quem por fora despreza chamando de vagabundo.
O fato de Matheus Nachtergaele interpretar os dois atores acaba deixando ainda mais claro que ambos são dois lados de uma mesma moeda, os extremos da vida, enquanto que Chico é o equilíbrio entre eles. Ainda que aparentemente mais frágil que seus dois irmãos, Chico é aquele que tem a coragem e possibilidade de mudar aquela realidade. O estopim parece ser o primeiro amor pela vizinha Ana Paula, mas na realidade tudo sempre esteve lá. A poesia e a prosa, o perfume que sua mãe vende e o fedor do caminhão do seu pai.
É curioso como os elementos conhecidos e a inovação se misturam na obra. Temos o velho tema do sertão, da família padrão, da própria caricatura do sertanejo em Francisco e sua esposa vivida por Marcelia Cartaxo, e até as figuras exóticas como o auto-intitulado "o príncipe" interpretado por Jards Macalé que vaga pelo local em busca de sua poesia. O próprio Nelson é o típico sonhador irresponsável, que quer apenas curtir a vida. Mas, em meio a isso tudo temos Os Betos. Talvez a coisa mais inusitada na obra, não apenas pelo toque de humor, mas pelo que representa para os três personagens.
"Let It Lie", esse é o hit principal da banda fictícia e repetido pelos personagens como um mantra, uma saudação, um lema de vida. Uma paródia de "Let it be" e que traz a mentira em sua estrutura, mas que nem bem sabemos se os personagens compreendem isso diante de tanto "embromation" nas letras e em suas falas. E isso que torna tudo tão interessante, principalmente por ser o único elo entre os dois opostos irmãos. Ambos amam Os Betos e acreditam que eles são mesmo os precursores dos Beatles, tendo parado, inclusive, para que a banda inglesa pudesse brilhar.
Isso é pura poesia árida, de um povo que sonha e tem potencial para ser muito mais do que as oportunidades lhe permitem. E tudo isso está representado em Chico e suas nuanças, seus sonhos, suas experiências e até mesmo a sua insistência em perguntar ao pai sobre quem faz o ato de defecar, outra simbologia importante na obra, não apenas pelo caminhão de fossa ou pelos apelidos pejorativos do menino na escola, mas até pelo fato de sua mãe ter prisão de ventre.
Com uma delicadeza cada vez maior, Cláudio Assis nos traz o seu filme mais terno, o que não significa necessariamente o melhor. Mas, uma obra delicada sobre o amadurecimento de um jovem em um mundo duro, mas onde ainda há espaço para a poesia e caminhos para ir além do mesmo.
Filme visto no XI Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Big Jato (2015 / Brasil)
Direção: Cláudio Assis
Roteiro: Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco
Com: Matheus Nachtergaele, Rafael Nicácio, Marcelia Cartaxo
Duração: 93 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Big Jato
2015-11-03T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|Cláudio Assis|critica|drama|filme brasileiro|Marcelia Cartaxo|Matheus Nachtergaele|panorama2015|Rafael Nicácio|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
Assistir Nosso Sonho foi como uma viagem no tempo, uma volta aos anos 90, quando Claudinho e Buchecha dominaram as rádios e a TV com seu f...
-
Para prestigiar o Oscar de Natalie Portman vamos falar de outro papel que lhe rendeu um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar em 2004. Clos...
-
E na nossa cobertura do FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil , mais uma vez pudemos conferir uma sessão de dublagem ao vivo . Ou...
-
Raquel Pacheco seria apenas mais uma mulher brasileira a exercer a profissão mais antiga do mundo se não tivesse tido uma ideia, na época i...
-
Entre os dias 24 e 28 de julho, Salvador respira cinema com a sétima edição da Mostra Lugar de Mulher é no Cinema. E nessa edição, a propost...
-
Desde o lançamento da aclamada trilogia O Senhor dos Anéis , Hollywood tem buscado incessantemente reproduzir o sucesso do gênero de fantasi...
-
Terra Estrangeira , filme de 1995 dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas , é um dos filmes mais emblemáticos da retomada do cinema b...
-
Quando Twister chegou às telas em 1996, trouxe consigo um turbilhão de expectativas e adrenalina. Sob a direção de Jan de Bont , conhecido ...
-
Quando se fala em filmes de terror que marcaram uma geração, Premonição (2000) certamente figura entre os mais emblemáticos. Dirigido por...