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As Sufragistas
As Sufragistas
As mulheres já lutaram e continuam lutando por seu lugar na sociedade. Houve uma época em que elas nem mesmo eram consideradas seres humanos, que dirá ter direitos. Na história moderna, cada país demorou um tempo para dar a elas o direito ao voto e, em alguns deles, a luta foi intensa, como na Inglaterra retratada no filme de Sarah Gavron.
Inspiradas por Emmeline Pankhurst, as inglesas foram as ruas, quebraram vidraças, fizeram greve de fome, deram testemunho, tentaram chamar a atenção. E a luta delas é memorável, importante e respeitável. Não há como negar que merecem ser lembradas, inclusive com um filme. Uma pena que Sarah Gavron não conseguiu transformar todo esse momento histórico em uma boa dramaturgia.
Há alguns bons momentos e personagens interessantes, principalmente Maud Watts, interpretada por Carey Mulligan, que por sinal está muito bem em cena. Mas, no geral, as personagens são caricatas e estereotipadas ao extremo. Principalmente os "malvados" homens. Mesmo o inspetor que vai construindo uma certa consciência ao decorrer da trama está preso demais as regras. E as mulheres não são diferentes em sua construção estanque, mesmo que um pouco mais suavizadas e boas interpretações. Destaque para Helena Bonham Carter como Edith Ellyn além da já citada Mulligan.
Talvez, por ironia, um dos maiores problemas seja Emmeline Pankhurst, e mesmo Meryl Streep em uma interpretação burocrática. A figura lendária é citada a todo momento, mas só aparece em tela mesmo por alguns segundos, deixando um pouco frustada a tal imagem de símbolo inspirador que tanto falam. Apesar de também emanar admiração, Meryl Streep não consegue nos passar em cena isso, deixando uma sensação de decepção. Ela não nos compra, como o filme inteiro parece falhar em unidade.
A estrutura fílmica é burocrática, como se a diretora,já sabendo da causa ganha, não se esforçasse para nos introduzir naquela realidade e luta. Ela não nos é apresentada e não vai nos conquistando como deveria. Nos esforçamos para ficar ali ao lado daquelas mulheres porque já sabíamos antes da projeção de sua importância. Mesmo o patrão inescrupuloso não consegue escalar a nossa revolta de uma maneira orgânica para que a dramaturgia funcione.
Não há também grandes planos, ou escolhas de direção que nos empolguem, emocionem ou mesmo nos encante em sua construção de imagens. Mesmo um momento chave em uma pista de corrida de cavalos consegue construir o impacto necessário do que significa aquilo e o que vem depois. Não é construída a tensão e o suspense necessários, nem mesmo a comoção posterior.
Maud Watts é nosso único senão. Uma mulher simples, que não queria se meter naquela luta, mas que vai aos poucos sendo envolvida e percebendo o quanto sentia falta de algo que ela nem mesmo tinha noção que existia. "Nunca pensei em votar, então, não sei como me sinto em relação ao voto", diz com toda a sua espontaneidade em determinado momento. E ela vai sentir de maneira palpável os problemas da ausência de direitos para as mulheres que vai muito além de escolher seus governantes.
As Sufragistas, então, é isso, um filme ruim, mas que retrata um momento importante de uma causa mais do que necessária e que mesmo hoje, com tantos avanços ainda é preciso ser refletida: os direitos das mulheres no mundo. Um filme válido pela discussão que relata ainda que com problemas de construção.
As Sufragistas (Suffragette, 2015 / Reino Unido)
Direção: Sarah Gavron
Roteiro: Abi Morgan
Com: Carey Mulligan, Anne-Marie Duff, Helena Bonham, Meryl Streep
Duração: 106 min.
Inspiradas por Emmeline Pankhurst, as inglesas foram as ruas, quebraram vidraças, fizeram greve de fome, deram testemunho, tentaram chamar a atenção. E a luta delas é memorável, importante e respeitável. Não há como negar que merecem ser lembradas, inclusive com um filme. Uma pena que Sarah Gavron não conseguiu transformar todo esse momento histórico em uma boa dramaturgia.
Há alguns bons momentos e personagens interessantes, principalmente Maud Watts, interpretada por Carey Mulligan, que por sinal está muito bem em cena. Mas, no geral, as personagens são caricatas e estereotipadas ao extremo. Principalmente os "malvados" homens. Mesmo o inspetor que vai construindo uma certa consciência ao decorrer da trama está preso demais as regras. E as mulheres não são diferentes em sua construção estanque, mesmo que um pouco mais suavizadas e boas interpretações. Destaque para Helena Bonham Carter como Edith Ellyn além da já citada Mulligan.
Talvez, por ironia, um dos maiores problemas seja Emmeline Pankhurst, e mesmo Meryl Streep em uma interpretação burocrática. A figura lendária é citada a todo momento, mas só aparece em tela mesmo por alguns segundos, deixando um pouco frustada a tal imagem de símbolo inspirador que tanto falam. Apesar de também emanar admiração, Meryl Streep não consegue nos passar em cena isso, deixando uma sensação de decepção. Ela não nos compra, como o filme inteiro parece falhar em unidade.
A estrutura fílmica é burocrática, como se a diretora,já sabendo da causa ganha, não se esforçasse para nos introduzir naquela realidade e luta. Ela não nos é apresentada e não vai nos conquistando como deveria. Nos esforçamos para ficar ali ao lado daquelas mulheres porque já sabíamos antes da projeção de sua importância. Mesmo o patrão inescrupuloso não consegue escalar a nossa revolta de uma maneira orgânica para que a dramaturgia funcione.
Não há também grandes planos, ou escolhas de direção que nos empolguem, emocionem ou mesmo nos encante em sua construção de imagens. Mesmo um momento chave em uma pista de corrida de cavalos consegue construir o impacto necessário do que significa aquilo e o que vem depois. Não é construída a tensão e o suspense necessários, nem mesmo a comoção posterior.
Maud Watts é nosso único senão. Uma mulher simples, que não queria se meter naquela luta, mas que vai aos poucos sendo envolvida e percebendo o quanto sentia falta de algo que ela nem mesmo tinha noção que existia. "Nunca pensei em votar, então, não sei como me sinto em relação ao voto", diz com toda a sua espontaneidade em determinado momento. E ela vai sentir de maneira palpável os problemas da ausência de direitos para as mulheres que vai muito além de escolher seus governantes.
As Sufragistas, então, é isso, um filme ruim, mas que retrata um momento importante de uma causa mais do que necessária e que mesmo hoje, com tantos avanços ainda é preciso ser refletida: os direitos das mulheres no mundo. Um filme válido pela discussão que relata ainda que com problemas de construção.
As Sufragistas (Suffragette, 2015 / Reino Unido)
Direção: Sarah Gavron
Roteiro: Abi Morgan
Com: Carey Mulligan, Anne-Marie Duff, Helena Bonham, Meryl Streep
Duração: 106 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
As Sufragistas
2015-12-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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