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A Lenda de Tarzan
A Lenda de Tarzan
A história de Tarzan, o homem criado por gorilas, já foi contada inúmeras vezes, com diversas técnicas. Mas, parece que os produtores de Hollywood não cansam de retornar à selva para reviver essa história. David Yates e os roteiristas de A Lenda de Tarzan pelo menos tentam ir além, com uma história posterior, mas tudo parece não fazer muito sentido, ainda que seja um filme divertido.
Na verdade, a trama não é sobre a lenda de Tarzan, mas sobre um plano escuso de roubar diamantes da África e escravizar o povo do Congo arquitetada pelo governo da Bélgica e o vilão Leon Rom, vivido por Christoph Waltz. Agora, Tarzan já é John Clayton, nobre inglês, casado com Jane e terá que retornar à selva para ajudar o americano George Washington Williams, vivido por Samuel L. Jackson, a desmascarar esse plano.
A premissa tem potencial, mas o desenvolvimento do roteiro acaba sendo tolo. Muita correria e pouco desenvolvimento. Temos alguns clichês desnecessários também, como, apesar de se passar no Congo com o governo da Bélgica e Inglaterra envolvidos, ser preciso um americano para resolver a questão. Ou o fato de Jane ser quase uma voz solitária feminina na trama, ainda que em uma postura ativa. Ou ainda, o personagem de Christoph Waltz ser aquele vilão maniqueísta unidimensional.
Temos também pontos positivos. Um deles é a dinâmica entre Tarzan, George (Samuel L. Jackson) e os africanos da tribo. É interessante perceber o cuidado dos roteiristas e produtores em construir o herói Tarzan e sua agilidade na selva em comparação ao americano, mas sem menosprezar George. Apesar de alívio cômico e se atrapalhar em muitos momentos da jornada, ele também tem suas qualidades e importância. Assim como os africanos também tem a mesma habilidade de andar na selva que Tarzan.
Mas, a questão maior é que Tarzan perde muito do ritmo na tentativa de relembrar a história conhecida, enquanto que o hiato entre o rei da selva e o lorde inglês fica pouco esclarecido. São inúmeros flashbacks que vão sendo introduzidos à medida em que a aventura avança, trazendo o bebê com os pais, a morte deles, a macaca Kala encontrando e adotando o bebê. Ele brincando com o "irmão" Akut, apanhando do líder. E outros detalhes que podem conter spoilers. Mas, como ele retornou a Inglaterra para não mais voltar, fica nebuloso.
Há também uma questão de olhar estrangeiro. Apesar do herói ser Tarzan, o protagonista acaba sendo George Washington Williams, o americano. É pela visão dele que vemos o filme, somos apresentados à lenda de Tarzan na música africana e narração de Jane, somos introduzido na lei da selva, vamos acompanhando a saga que é, na verdade, a missão de George. Tarzan ali é apenas o seu instrumento. Não chega a ser uma escolha ruim, mas é preciso perceber essa nuança.
Os efeitos especiais não são ruins, ainda que o 3D seja completamente desnecessário. A composição da selva, a interação com os animais são boas. As câmeras de ponto de vista também dão bons efeitos, principalmente nas corridas pela mata ou pulos pelos cipós. Mas, falando em cipó, há momentos de exagero como a tomada do trem, onde fica complicado entender a física da movimentação dos personagens ali. Mas, a aventura é que importa, dirão alguns. E não estarão errados. O problema é que essa aventura não se justifica a ponto de nos fazer embarcar completamente na trama, esquecendo os erros diversos.
No final, A Lenda de Tarzan não é um filme ruim. Talvez desnecessário, por querer aproveitar um personagem lendário, para uma nova trama, mas ao mesmo tempo querer recontar o já conhecido. Tem problemas, mas também consegue divertir o grande público, tendo o plus de ótimos atores para acompanhar essa jornada, principalmente Samuel L. Jackson e Christoph Waltz. Diversão sem maiores compromissos.
A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan, 2016 / EUA)
Direção: David Yates
Roteiro: Adam Cozad, Craig Brewer
Com: Alexander Skarsgård, Margot Robbie, Samuel L. Jackson, Christoph Waltz, Rory J. Saper, Christian Stevens
Duração: 110 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Lenda de Tarzan
2016-07-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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