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Marcelo Villanova
Virou o Jogo: A História de Pintadas
Virou o Jogo: A História de Pintadas
Já que estamos vivendo o clima de final das Olimpíadas em nosso país, quero falar de cinema homenageando um esporte que merece nossa atenção: o futebol feminino. Ontem, Marta e companhia ficaram em quarto lugar, fora do pódio como queriam, mas com a cabeça erguida. O que essas jogadoras demonstraram em quadra foi muita garra, talento e amor ao esporte. Algo que casa perfeitamente com o espírito olímpico.
Uma pena que em nosso país não encontrem o apoio necessário para se desenvolver. Como disse a repórter, no Canadá, adversário da disputa do bronze, existe até quarta divisão no campeonato de futebol feminino. Aqui, nem existe campeonato. Para que as jogadoras não ficassem paradas, foi criada uma estratégia de seleção permanente para jogos amistosos e treinos. Fica complicado conseguir bons resultados assim, e elas ainda conseguem. Ainda tem gente que abre a boca pra dizer que futebol não é coisa de mulher.
Isso me fez resgatar um curta-metragem baiano de 2012: Virou o Jogo: A História de Pintadas. Dirigido por Marcelo Villanova, o filme conta a história das mulheres do município de Pintadas no interior da Bahia. Lá, como em toda cidade do interior, o machismo era forte e às mulheres cabia cuidar da cada e do marido. Mas um movimento feminino começou a mudar isso, com novas atitudes dentro de casa e o futebol, símbolo maior da reunião masculina.
Como disse uma das entrevistadas, na terça-feira o campo ficava vazio, pois os homens retornavam cansados de um evento e não utilizavam o local. Elas resolveram, então, começar a jogar naquele dia, e aos poucos, mais e mais mulheres foram se juntando, criando uma tradição que começou a ser estudada inclusive por outros estados. Isso aumentou a auto-estima das mulheres que começaram a criar novos hábitos dentro de casa também. Os maridos começaram a dividir o trabalho doméstico e elas também passaram a trabalhar fora. Ou seja, uma verdadeira revolução feminina em pleno semi-árido baiano.
O curta é interessante porque mostra essas mulheres simples, mas determinadas, com depoimentos que inspiram e imagens delas disputando uma partida de futebol. Cena tão comum entre os homens, a velha "pelada" é jogada com seriedade por elas, com uniforme para cada time e dedicação em cada bola dividida. Tem discussão com juiz, brigas e comemorações e até disputa de pênaltis.
O filme é feliz ainda em trazer também os depoimentos de alguns dos homens do local, demonstrando que a cultura do machismo se modificou de fato. Eles falam na importância de dividir tarefas e também na questão do futebol. Um deles, inclusive, fala da seleção feminina de futebol, destacando o talento e a beleza que é vê-las jogar.
O curta traz ainda inserções musicais da região que homenageiam as mulheres e a bola. Tendo também gritos de guerra da torcida. Tudo em um clima descontraído e envolvente.
Para quem ficar curioso, tem o filme completo aqui no Youtube. E que as mulheres possam ser respeitadas também por seu talento com a bola em nosso país.
Virou o Jogo: A História de Pintadas (2012 / Brasil)
Direção: Marcelo Villanova
Roteiro: Marcelo Villanova
Duração: 26 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Virou o Jogo: A História de Pintadas
2016-08-20T04:43:00-03:00
Amanda Aouad
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